CAPÍTULO 2

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Ali estou eu, diante da atendente do Café onde ambos frequentamos todas as manhãs, enquanto aguardo na porta da cafeteria, como uma pateta, sentindo o aroma do café misturado com os pensamentos inebriantes.

Há um ano, seus olhos escuros como a noite capturaram minha atenção, como se estivessem me hipnotizando e me fazendo prisioneira de cada migalha sua. Seus sorrisos ou os rompantes de raiva que tinha enquanto mantinha-se pendurado em alguma ligação, eram como raios de sol penetrando as nuvens mais sombrias do meu dia.

Recordo-me daquele instante em que nossos olhares se cruzaram pela primeira vez, desencadeando uma avalanche de emoções e sensações pelo meu corpo, que me consumiram desde então, fazendo-me recordar dia após dia de sua figura e seu cheiro, que eu só tenho acesso por minutos enquanto aguardamos nossos pedidos. Cada detalhe dele fica gravado em minha mente: sua voz grave e grossa ecoando nos corredores do meu pensamento, seu jeito sempre atrasado, correndo e falando ao telefone, como se estivesse em uma eterna corrida contra o tempo.

No começo, achei que esse meu interesse por ele iria passar, já que ele era uma quebra na configuração da minha vida pacata, já que claramente ele é meu completo oposto. Mas infelizmente não é isso que aconteceu. Nesse ano, me tornei uma dependente, mas em vez de drogas lícitas ou ilícitas, o vício se tornou Jonas Walker.

Mesmo após um ano, sua imagem persiste, como se estivesse se imortalizando em meus pensamentos. Em muitos momentos, isso me irrita, pois isso me faz sentir patética. Como uma pessoa pode se tornar uma dependente, como uma parasita, de uma pessoa com quem ela sequer trocou uma palavra e que a única ligação que tem com ela é o fato de frequentar o mesmo lugar. PATÉTICA.

Mas é tão impossível de abandonar essa obsessão, sendo que cada vez que fecho os olhos, é ele quem vejo, seus gestos apressados, sua expressão preocupada, como se estivesse sempre no olho do furacão. Até pensei que esse meu fascínio por ele se dava pelo fato de que Jonas era a personificação de muitos mocinhos de livros que li no decorrer da minha vida. Grande tola sou, ele está mais para o mocinho que criei para uma vida fantasiosa, que desejo para mim. Fico me perguntando se ele alguma vez me notou?

Nos primeiros meses em que o via, já me sentia satisfeita com as pequenas informações que Jonas soltava em suas ligações ou nas raras interações com alguém junto a ele, algo muito difícil, já que a grande maioria das informações que conseguia captar de sua vida era sobre o trabalho dele. Mas foi assim, sabendo o local onde ele trabalhava, que eu descobri quem ele era.

Jonas Walker, 34 anos, solteiro, trabalha na MG Investimentos no cargo de diretor de investimentos, filho do meio de William Walker, que também fez carreira no mundo dos investimentos, o que o tornou um homem rico, mas hoje já se encontra aposentado, e Cassandra Walker, dona de casa. Os dois também tiveram Leonard Walker, 36 anos, sendo seu primogênito, que trabalha em uma empresa voltada a exportações, é casado há pouco mais de quatro anos com Amanda Walker e tem um filho de dois anos, Harry Walker. E a caçula da família, Anabete Walker, 29 anos, trabalha na administração de uma empresa de fundos imobiliários e está atualmente noiva de Roger Peterson, que também é seu chefe.

Jonas se formou em economia pela Universidade de Nova York, onde conheceu seu melhor amigo, Noah Duin, que hoje também trabalha junto com ele na mesma empresa, e que se tornou uma das minhas maiores fontes de informações, já que as poucas aparições que ele fez no café me renderam grandes informações, sendo uma delas o fato de Jonas ter namorado com Samantha Smith durante o final da faculdade e cerca de dois anos após o término, onde todo mundo jurava que eles iriam se casar, mas por algum motivo Jonas rompeu o relacionamento, deixando como resultado uma ex que o persegue até hoje, o que me faz acreditar que talvez seja esse o motivo de ele ter abandonado a ideia de se relacionar de forma mais séria com outra mulher, tendo Jonas, após esse relacionamento, não tido mais nenhum relacionamento sério ou duradouro e que os seus relacionamentos atualmente são basicamente encontros voltados para um único fim, que seria sexo.

Jonas mora em meu bairro dos sonhos no Soho, em um apartamento no último andar de um prédio tirado de algum sonho, e que ele mal fica, já que a maior parte de seu dia e noite ele fica mesmo trancado dentro do seu escritório na empresa onde trabalha desde que se formou.

Ele tem um único hobby, que é correr, o que ele faz todos os dias no começo da manhã, e as poucas vezes que tive coragem de acordar antes do sol nascer para vê-lo correr, foi uma visão do paraíso, vê-lo dentro de roupas de malhar todo suado, ou quando fez a enorme bondade, quando tirou a camisa mostrando aquele corpo escultural para mim e para todas as mulheres babonas que estavam em volta.

Com o passar dos meses, procurar por informações sobre ele apenas nas redes sociais, tanto dele quanto da sua família e amigos, já não era o bastante, tendo em vista que tudo que eu podia tirar dali já não era o bastante, então, quando precisava de uma dose mais forte dele, eu simplesmente esperava ele na frente do seu trabalho, e o via frequentar alguns restaurantes, nas vezes que conseguir segui-lo em algum táxi, ou quando ele saía a pé para alguns lugares perto da empresa, que geralmente era um bar que era frequentado por boa parte dos executivos das empresas nas redondezas, e para minha ruína, e lá onde ele consegue boa parte dos seus casinhos, e que me dava uma ideia de como era ser o centro do desejo daquele homem, que era como um trator em qualquer área da vida dele, e isso me deixa...

- Moça? Moça?" - Desvio meus olhos de Jonas e encontro uma mulher de grandes olhos verdes nada feliz me observando.

- Sim?

- Você pode me dar licença? - A mulher aponta para a passagem da porta, fazendo-me perceber que estou como um idiota até agora na passagem da porta, olhando como um cachorro para um grande bife, no mesmo lugar, atrapalhando as pessoas em entrar e sair do estabelecimento, me deixando consequentemente com o rosto pegando fogo de tanta vergonha.

Peço desculpa para ela quase de uma forma inaudível e me posiciono na fila para fazer meu pedido. Quando me dou conta, Jonas já está com seu pedido em mãos, se encaminhando para a saída, passando quase colado a mim, me dando assim a oportunidade de respirar o mais fundo para absorver a sua fragrância, uma mistura de couro, madeira, especiarias e a fragrância de café ao redor. Mentalmente, agradeço assim que ele sai pelas portas, pelas mulheres nada amigáveis que me fizeram sair de frente da porta, porque sem dúvidas ia ser uma enorme vergonha ser pego por ele babando e olhando para ele como uma faminta.

Enquanto esperava na fila para fazer o meu pedido, meu coração batia mais rápido, esse é o efeito que Jonas sempre causa em meu corpo, mesmo com esse contato mínimo. Finalmente, chegou a minha vez.

- Olá, bom dia! - cumprimentei a atendente.

- Eu vou querer um cappuccino, por favor.

- A mesma coisa de sempre, Sarah? perguntou a atendente com um sorriso amigável.

Com um sorriso de alívio, confirmei, gostando do seu jeito amigável e gentil: - Sim, por favor. O mesmo de sempre.

Ela anotou meu pedido em seu bloco de notas. - Um cappuccino para a Sarah, anotado! - disse ela enquanto digitava o pedido no sistema. - Algo mais para hoje?

Ponderei por um momento, mas decidi que o cappuccino seria o suficiente.- Não, só isso mesmo, obrigada - respondi, sorrindo.

- Aqui está! O seu cappuccino estará pronto em alguns minutos - disse, entregando-me um pequeno papel com o número do pedido.

- Por favor, aguarde na área de retirada.

- Obrigada! - agradeci à atendente, uma jovem de no máximo 20 anos chamada Rebecca, que está trabalhando aqui há alguns meses.

Dou um último sorriso e sigo para a área de retirada, ansiosa para saborear o meu cappuccino enquanto deixo minha mente no próximo momento em que vou encontrar com Jonas Walker.

📚📚📚📚📚

Corro apressada subindo a escadaria em frente à biblioteca, tentando compensar um pouco o meu atraso. Meus passos rápidos ecoam no ar enquanto me esforço para chegar ao trabalho a tempo. Ao adentrar as portas familiares da biblioteca, me deparo com a minha única amiga desde a faculdade, Liz, claramente nervosa, o que me deixa intrigada, já que a garota poderia ser confundida com um hippie de tão calma que é, então algo está realmente tirando a sua paz.


- Hey, Liz, tudo bem? - pergunto, notando a expressão ansiosa de minha amiga.

Liz suspira, parecendo um pouco aliviada ao me ver.

- Oi, Sarah. Não, as coisas não estão bem. Sabe o que está acontecendo?

Curiosa, franzo o cenho.

- Não, o que está acontecendo?

Liz olha ao redor antes de sussurrar de forma um pouco cômica, o que me faz soltar uma risadinha.

- O chefe da biblioteca vai fazer uma inspeção em todos os departamentos hoje, você acredita nessa merda?

Meus olhos se arregalam um pouco, mesmo não estando muito nervosa com a notícia, mas estranho a informação, já que isso não é lá muito comum.

- Sério? Por que ninguém me disse nada sobre isso?- Liz dá de ombros.

- Eu não sei, mas estou nervosa. Espero que tudo esteja em ordem, não estou nervosa com a minha parte do setor, mas não posso dizer o mesmo da área do Nathan, você sabe que aquele cara é um poço de desorganização e se as coisas dele estiverem bagunçadas... - ela faz um som choroso que enfatiza a sua agonia - vamos os dois ser cobrados e receber a divergência.

- Fica calma, o Nathan é um bagunceiro, mas não é burro, sabe? Se ele deixar tudo uma zona a ponto de colocar a bunda dele na reta. - tento acalmá-la da melhor forma que posso.

- Espero que você tenha razão - ela faz novamente o som de choro - porque eu não tive a sua sorte e ter ficado com um departamento só para mim?

Uma risada escandalosa me escapa.

- Nossa, super sortuda sou, tendo que fazer todo o trabalho sozinha.

- Melhor do que ter que consertar o erro de um asno o dia inteiro - ela me olha com as sobrancelhas erguidas, como se desafiasse a contradizer isso.

- É, nisso você tem razão.- nós voltamos a rir enquanto olhamos em volta.

- Vamos nos certificar de que tudo está arrumado em nossos setores e o que podemos fazer isso.- Liz sorri.

- Sim, vamos lá, antes que o nosso querido chefinho chegue e não dê mais para esconder as cagadas do garoto.

Me despeço de Liz quando temos que seguir em direções opostas no grande corredor, já que nossos setores são um pouco afastados, mas nada que interfira nas nossas fofocas, sempre damos um jeitinho para isso.

Quando paro na frente da porta do meu setor, fecho meus olhos e dou uma boa respirada. Porque agora chegou o momento temido de procurar a porcaria da chave dentro da bolsa.

- Inferno.

Pensa em um dia maravilhoso: acordar atrasado, receber a visita do chefe, ter que revirar uma bolsa que não é limpa há meses em busca de uma chave, e tudo isso ainda não sendo nem 8h30 da manhã.

Depois de uma busca frenética, já que claramente hoje não é um bom dia para ser pega atrasada, finalmente encontro a bendita chave perdida no fundo da minha bolsa, junto com uma quantidade vergonhosa de itens inúteis que acumulei ao longo do tempo. Com um suspiro de alívio, e quase soltando um palavrão, abro a porta do meu setor e entro, encontrando a sala exatamente como a deixei anteriormente: organizada e pronta para o dia de trabalho e para as visitas indesejadas.

Não que meu chefe seja um carrasco ou uma pessoa ruim, mas quem gosta de receber visita do chefe? Ainda mais procurando erro seu? Acredito que ninguém e em todo tempo que trabalho aqui essa é a segunda vez que o Sr. Philip faz esse tipo de inspeção, e a quarta vez que vejo isso pessoalmente, incluindo o dia que fiz a minha entrevista de emprego.

Deixo minha bolsa em cima da mesa e começo a ligar os computadores, preparando-me para mais um dia. Enquanto verifico os e-mails e os agendamentos do dia, não consigo deixar de pensar na inspeção que o chefe da biblioteca fará em todos os departamentos.

Será que tudo está mesmo em ordem? Será que Liz conseguiu preparar seu setor a tempo? A preocupação começa a se instalar em minha mente.

-Juro que vou matar você, Liz, por me deixar nervosa, mesmo sabendo que meu trabalho está bem feito. - reviro meus olhos

- Ordináriazinha.

Decido não me deixar abalar pela ansiedade que infelizmente se instalou em mim e foco em minhas tarefas. Afinal, fiz o meu trabalho e sei que meu setor está impecável. Mas, mesmo assim, não consigo evitar uma pontinha de preocupação.

Enquanto isso, o relógio continua a avançar, anunciando a chegada do horário de abertura da biblioteca. Os primeiros visitantes começam a entrar, e eu os recebo com um sorriso profissional, mesmo querendo pegar algum livro da minha lista interminável de leitura, para relaxar e tentar afastar os pensamentos intrusivos sobre a inspeção, mas nem tudo o que queremos podemos.

Mantenho-me o máximo que posso ocupada com o atendimento aos usuários, a organização dos livros e a manutenção do ambiente, é claro, sem esquecer de aturar a quantidade exorbitante de gente chata e sem senso que vem diariamente retirar algum livro ou simplesmente vem até aqui para passear como se estivesse em algum shopping olhando as vitrines.

Então chega o tão temido momento, já perto do horário do almoço: a chegada do chefe da biblioteca para a inspeção. Observo com ansiedade enquanto ele faz a sua ronda pelos diferentes setores, esperando que tudo corra bem, pelo menos para mim e para Liz.

Não que eu queira que meus colegas de trabalho se metam em encrenca, mas entre eles é o meu rabinho e o da minha colega que eles se lasquem primeiro.

À medida que ele se aproxima do meu setor, sinto meu coração acelerar como se uma percussão inteira estivesse instalada ali. Mas, para minha imensa surpresa e alívio, ele passa rapidamente pela sala, sem fazer nenhum comentário ou mostrar algum tipo de insatisfação. Mesmo já sabendo disso, as paranoias que às vezes deixo o meu cérebro produzir, ou minha amiga criar, me fazem pilhar sem nenhuma necessidade. Respiro fundo, sentindo um peso sendo retirado dos meus ombros.

- É oficial, Liz, eu vou te matar

Solto uma risada de contentamento e volto a fazer o restante dos meus afazeres. Dando uma olhada para o enorme relógio que fica em frente ao balcão de atendimento, verifico quanto tempo falta para o horário de almoço e os últimos momentos de minha amiga respirando.

FascinaçãoWhere stories live. Discover now