𝓐𝓷𝓸 𝓷𝓸𝓿𝓸

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Uma das melhores partes da minha vida.
Minha fase dos onze aos treze anos.
Na época era o fim dos anos dois mil. Eu amava ouvir as músicas da época. Essa é uma memória que vai viver pra sempre na minha mente e no meu coração.

Meus braços estavam apoiados na grade do grande lago do parque, meus pais estavam do meu lado.

Eu tava aprendendo manobras com meu skate novo, eu criei uma admiração por skate e surfe, eu me senti tão grande, era uma sensação tão boa. Eu vivia mais presa no meu mundo de fantasia do que quando eu era criança.

Eu comecei a andar com o skate, meu pai estava preocupado que eu fizesse amizade com algum garoto na época. As rodinhas do skate aceleraram, me fazendo ficar cada vez mais longe dos meus pais, eu desviava dos obstáculos na minha frente, usando o peso do meu corpo pra manter o skate do jeito que eu queria.

Andando em zigue-zague.
Esquerda, direita.
Esquerda, direita.

...

Pensando nisso, eu percebo que vivo altos e baixo e esquerdas e direitas, sempre pensativa e lidando com algum tipo de emoção.

Desde que Tom entrou em minha vida, as coisas estão meio complicadas pra mim, e confusas.

Ao abrir meus olhos, tudo que vejo é um quarto hospitalar.

Eu inspiro.
Sentindo o ar subir em minhas narinas, preenchendo meu pulmão.
Expiro.

Uma sensação de conforto.

Tudo que senti era uma sensação de corpo pesado e alívio por conseguir respirar. Com esforços, eu virei minha cabeça, uma bolsa de soro ligada ao meu braço e um monitor de sinais vitais.

Espera...Tom?!

De forma imediata percebi que ele não estava lá, foi um pouco desesperador, eu dependia dele pra me sentir segura em qualquer lugar. Eu era muito tímida pra abrir a boca e dizer alguma coisa.

Eu ganhei uma força do meu cérebro. A pequena tela que contava meus batimentos cardíacos começou a acelerar, e emergiu um alarme pros enfermeiros.

Uma crise de pânico, droga!

O ar já não entrava com mesma facilidade em meu pulmões, meu olhos lacrimejaram e eu comecei a sentir puro medo.

Eu ouvi a porta se abrir e vir uns três enfermeiros, um homem e duas mulheres, eles entraram no quarto e queriam me fazer deitar, mas eu não conseguia me mexer. Meu corpo doía, minha cabeça doía.

Eles me fizeram deitar na cama e acalmaram minha crise de pânico, era a terceira vez.

Medo.
Desespero.
Falta de ar.
Deus, quando isso vai acabar?

Fechei meus olhos por breves momentos...tá acontecendo, tá acontecendo de novo...

31 de Dezembro, 2002.

22:46.

Ano novo, era pra ser...uma memória feliz.

Brincando, sorrindo, rindo. Uma pequena Marta feliz de 9 anos!

Meus pais estavam entre amigos no festival na praia. Eu deveria ter percebido, eles estavam me olhando muito de canto de olho, me procurando as vezes, se perdendo no diálogo entre os amigos por conta da atenção a mim.
Todos os pais concordam que no segundo em que você para de prestar a atenção, algo horrível pode acontecer.

Acredite ou não. Aconteceu. E meu pais precisaram de poucos segundos pra me deixar me divertir.

Eu estava correndo pela praia com meus amiguinhos, não muito longe dos nossos pais, fazendo estruturas na areia, jogando água um no outro.

Olhando por agora, foi bobo, mas me marcou.

23:00.

Faltava uma hora pro ano novo, eu estava feliz e animada, era meu primeiro ano novo na praia, as pessoas estavam ansiosas, arrumando seus fogos de artifício, meus pais me disseram pra me manter longe, por conta que o fogo poderia me machucar.
Como uma criança, eu obedeci.

Talvez eu tenha me aproximado, mas apenas quando estava apagado.

23:30.

— Marta!

— Mamãe!

Um abraço gentil e protetor.

— Fique perto da mamãe, tudo bem? — Ela pediu, e eu assenti.

23:40.

— Sorria querida! — Mamãe pediu.

Um fotógrafo tirou uma foto nossa e nos entregou a foto após sua câmera imprimir a imagem.

23:50.

— Papai, você está feliz? — Meu pai sorriu pra mim.

— O que está fazendo com a minha câmera? Se você quebrar... — Ele me olhou com severidade, mas um sorriso.

— Eu vou ser cuidadosa!

23:48:50.

— Tá quase lá!

23:59:38.

— Amanhã, vai ser 2003?

— Sim, querida, você está feliz? — Mamãe sempre se importando com minha felicidade.

— Sim! Eu vou fazer 10 anos uma semana antes do halloween! Ainda falta muito? — Eu disse empolgada, minha mãe apenas riu e assentiu.

A contagem regressiva havia começado. Eu fiquei animada.

Ao chegar a meia noite, os fogos de artifício foram atingindo o céu, mas o barulho era muito alto, eu estava ficando com medo. Eu comecei a entrar em pânico, era muito alto e muito colorido, eu agarrei minha mãe e ela imediatamente me acolheu.
Era muito pra mim, minha primeira crise de pânico, o barulho me desesperava, as pessoas gritavam alegres. Enquanto eu estava tapando meus ouvidos, minha cabeça doía.

Meu pai me pegou no colo, e ele, eu e minha mãe voltamos pro apartamento, porque não morávamos na cidade de praia e alugamos um apartamento. Meu pai colocou fones de ouvido em mim e um barulho que afastasse os fogos, eles me deixavam com medo. Eu estava dormindo, minha mãe deitada comigo e meu pai também, ambos me observando. Cuidando de mim.

Eu queria isso novamente, como eu posso voltar pra 2003?

...

O hospital me fez lembrar daquilo, a segurança que meu pais me passavam, semelhante a segurança que Tom me fornecia. Ele era bom comigo. Um pouco estranho e misterioso, mas eu conhecia ele anos anos, talvez mais de 10 anos.

Eu me acalmei, eu estava sentindo falta da segurança. Falta do toque dos meus pais.

Uma lágrima quente escorreu dos meus olhos antes de eu adormecer de cansaço mental.

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⏰ Última atualização: Jul 23 ⏰

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