Capítulo 2

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Severus, ocasionalmente, ponderou sobre a forma e as origens de suas relações atuais com Potter.

Tinha começado, ele supôs, com as cartas.

Depois de se recuperar do veneno de Nagini e sobreviver ao julgamento, Severus escreveu cartas de desculpas para Minerva, Filius, Poppy e todos os outros professores e funcionários que sofreram sob seu comando durante aquele último ano terrível. Aos membros da Ordem como Molly e Arthur Weasley e Kingsley Shacklebolt. Ele enviou cartas de condolências para Andrômeda Tonks e George Weasley. Ele também se desculpou pela orelha.

Draco Malfoy foi o próximo, e depois mais alunos. Primeiro os Sonserinos, depois os de outras casas. Ele até escreveu para Ronald Weasley (curto e direto) e Hermione Granger. Ele considerou pedir desculpas a Granger por zombar dos dentes dela no quarto ano da menina, mas suspeitava que ela não agradeceria pelo lembrete. Em vez disso, ele simplesmente decidiu elogiar suas habilidades pocionistas e se oferecer para escrever uma carta de recomendação caso ela desejasse seguir a área.

Ele teve que se esforçar para escrever a carta de Potter, então a deixou para o final.

Foi difícil escrever, um exercício de engolir seu orgulho. Ele se desculpou por seu papel na morte de Lily e pela forma como tratava Potter na escola. Ele não deu justificativas. Mostrou-se grato pelos esforços de Potter, após a guerra, para conseguir a liberdade de Severus.

A carta ainda parecia fria para ele depois que terminou. Mas ele expressou seus arrependimentos na linguagem mais simples e verdadeira que conseguiu. Foi o melhor que ele pôde fazer.

Potter esperou um mês e então respondeu. Sua carta foi tão afetada quanto a de Severus, mas talvez menos fria.

Sim, ele escreveu, você foi um idiota fenomenal para mim. Eu não queria te perdoar no início, mesmo depois de saber sobre você e minha mãe. Mas, de qualquer forma... posso ver muito do que o levou a ser o professor que eu odiava, e mesmo assim você ainda é um dos melhores homens que já conheci. Então acho que te perdoei, quer quisesse ou não.

Severus achou essa resposta... surpreendente.

Ele corrigiu mentalmente a gramática enquanto lia, mas não conseguia encontrar falhas no que as palavras expressavam.

Principalmente, a carta o deixou cansado.

Afinal, era exaustivo enfrentar a gravidade dos próprios erros de julgamento – mesmo para alguém que cometeu muitos, muitos erros graves na vida.

.

Severus passou a noite após o Trivia de terça-feira suando o álcool e tendo sonhos inquietantes.

Muitos deles eram os sonhos inquietantes de sempre, como um penhasco desmoronando sob Albus ou o Lorde das Trevas comendo os elfos domésticos de Hogwarts.

Mas vários deles apresentavam Potter. No mais claro deles, Potter, aos quatorze anos, estava parado no meio de uma manada de unicórnios ao luar, deixando que eles o acariciassem e o lambessem, ao que ele respondia com expressões de nariz franzido e risadas. Ele estava lhes oferecendo maçãs de seus bolsos.

Então, o que seu subconsciente estava lhe dizendo, Severus se perguntou quando finalmente conseguiu acordar: que Potter era de alguma forma puro? Um farol de bondade? Que Potter, aos quatorze anos, era tão imaculado que unicórnios teriam comido de suas mãos?

Foi difícil ver isso na época, considerando como ele permitiu que suas percepções fossem obscurecidas pela semelhança de Potter com seu pai bastardo e sua raiva pelo desrespeito arrogante do menino pelas regras e por sua própria segurança...

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