Capítulo I

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A Princesa

  - Controla a respiração, com mais força, foca-te, princesa.

  O general gritava essas palavras para a mais nova filha do falecido imperador, mas ela sabia que tudo que ela estava a fazer estava errado, não era aquilo que ela gostava de fazer, ela gostava de usar o seu poder, de passar horas nas masmorras a torturar os presos, a ouvir os seus gritos e choros de misericórdia até ouvir uma confissão, esse era o seu entretenimento, não estar a esmurrar um saco de batatas cheio de areia até não sentir mais as mãos.

  - Senhor, Princesa, o Imperador exige a vossa presença imediata no seu escritório.

  Mer sabia que não havia de ser boas notícias para o seu irmão exigir a sua presença imediata, mas, como adorava ignora-lo, Mer apenas encolheu os ombros e continuou a socar o saco.

  - Princesa? - a voz do seu treinador, que por acaso também era o chefe da guarda fez-la quase tremer.

  - Sim, chefe?

  - Terei que rever o significado da palavra imediatamente contigo?

  - Não, chefe.

  - Então move-te. - Mer desceu da plataforma e começou a dirigir-se para a porta, quando o general acrescentou - Para ti é Senhor, compreendido?

  - Completamente.

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  As grandes portas do escritório do seu irmão abriram para o mostrar na secretaria, de uma madeira tão escura que parecia preta, a verificar se a informação de uns papéis correspondia com a do Livro, naquele momento, naquela posição era inegável as parecenças com o antigo imperador, seu pai, o mesmo cabelo branco, sempre curto e bem penteado, a sua camisa com as mangas arregaçadas e o casaco nas costas da cadeira, era tudo igual, menos o olhar, ele havia herdado o olhar carinhoso da nossa mãe, apesar de usar os olhos de um azul tão frio como gelo, que pousaram sobre ela para a avaliar e depois indicar a cadeira a sua frente, como um convite silencioso para nós sentarmos.

  Arranjou um fio de cabelo fantasma que estava fora do sítio e começou o seu monólogo.

  - Ambos foram ensinados desde cedo sobre a outra princesa e como ela saiu do nosso rasto, ou era isso que achávamos. Ela foi encontrada na capital do Reino Falfil, da área do outono, com uma família de rafeiros humanos. Cálculo que já tenham chegado a conclusão que não a vou deixar ali, como tal contratei uma dupla de espiões para a irem buscar.

  - Então porque nos está a contar isto?

  - Friclarg, se tivesses aprendido a arte do silêncio, como a nossa querida princesa eu teria chegado a parte do porquê que vos estou a contar isto. - o imperador tirou um momento para suspirar e continuou - Já devem ter chegado a mesma conclusão que eu, eu preciso de um herdeiro e para isso preciso de uma mulher e para não contaminar mais o meu sangue decidi que seria melhor casar ou contigo ou com a tua irmã, mas para isso seria preciso treina-la primeiro e é aí que tu entras, Friclarg, preciso que a treines como treinas-te a princesa, ou de forma diferente, sinceramente não me importa, desde que o trabalho seja feito.

  O seu irmão avaliou o General, o seu braço direito, á espera de uma confirmação em como havia entendido o recado, ela nunca chegou.

  - Entendido, Friclarg? - o seu irmão levantou a voz, que vibrou por toda a sala.

  - Sim, meu Rei. - as palavras que saíram da sua boca eram apenas um sussurro.

  - Ótimo, ainda bem que entendeste qual é o teu lugar nesta família. - o seu irmão avaliou o seu General e a Mer conseguia sentir de longe a tenção que havia entre os dois, algo que já não era novidade para ela, afinal de contas a relação dos dois havia se degradado ao longo dos últimos anos. - Estás dispensado, Summer, minha querida, fica que eu quero falar contigo.

  Friclarg já se estava a virar para ir embora, quando o seu irmão o chamou uma última vez. - Meu querido amigo, todos sabemos a tua história com a rapariga - uma pausa dramática - Não me desiludas.

  Enquanto o General saía, Mer reparou na pasta que o seu irmão passava pela mesa, o que significava que ela teria mais uma missão, mais sangue, gritos e tudo que lhe davam uma razão para estar neste palácio.

  - O dossiê que recebi sobre a nossa irmã não tinha tantas informações quanto gostaria, corrige isso. - ele levantou-se e dirigiu-se para as grandes janelas que se encontravam atrás da sua secretária.

  - Farei qualquer coisa por ti, meu irmão. - Summer não esperou pela resposta do seu irmão para sair, afinal de contas, tinha que se preparar para a sua viagem.

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