Capítulo II

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  A Estranha

Quatro horas de sono não era muito, Winter sabia isso, mas só de imaginar o dinheiro que conseguiria com o trabalho de ontem valia pela vontade de ficar na cama mais 5 minutos.

  Então ela vestiu a mesma roupa polida e desceu as escadas em direção à cozinha onde já se encontrava toda a família a comer o "pequeno almoço", ou se poderíamos chamar aquilo de uma refeição sequer, comprimentei todos, especialmente a Nara*.

  - Sumba. - o que significa bom dia na língua antiga, a língua da Deusa, foi a resposta da sua tia favorita, Mags.

  - Podes aumentar o som da TV? - Winter não se admirou do pedido da sua priminha Wanda, afinal de contas a está hora da manhã é que dava os programas infantis nos canais nacionais, que eram de graça, logo os pequenos entretiam-se assim.

  Ela aproveitou esse momento para verificar que estava atrasada e a Cass a iria matar e fazer espetinhos com os seus olhos, então apenas pegou numa peça de fruta, como de costume, só que desta vez a Nara reparou e questionou:

  - Só comes isso, querida? - Winter já se encontrava na porta de mala posta quando se virou para responder à Nara.

  - Para minha infelicidade estou irremediavelmente atrasada, mina'. - e nem esperou por uma resposta para sair porta fora.

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  Ao chegar à rua principal, o seu ponto de encontro, Winter deparou-se com uma Cassandra Mirlind, muito, mas mesmo muito, furiosa.

  - Para a próxima vou sozinha. - naquela posição nem se notava o facto dela ser 100% humana, apenas o facto de ela ser uma guardiã muito, mas mesmo muito furiosa.

  - Desculpa, é só que ontem fui me deitar tarde e atrasei-me um pouco.

  - E? - Cass julgou-a pelo canto do olho, enquanto zigaseava pela rua movimentada - Continuas a não poder chegar atrasada, principalmente a um trabalho que me deu tanto trabalho a conseguir.

  - Eu sei e estou imensamente grata por isso e eu juro que nunca mais vai acontecer.

  Mais uns três olhares julgadores e um suspiro, o que significava que a conversa estava encerrada, permitimdo a Winter introduzir o tema que ela tanto desejava.

  - Estive a avaliar o material.

  - Chiu, mais baixo. - Cass avaliou a multidão que as rodeava antes de continuar, mais baixo - A que conclusão chegaste?

  - Cerca de 150 a 200.

  - Total, certo?

  - Não, cada. - nesse momento o rosto de Cass iluminou-se, era definitivamente o melhor trabalho da vida delas.

  - Isso é muito, vamos ter que ser mais cuidadosas, principalmente quando fores visitar o Osgmar.

  - Não acredito que tal seja necessário, afinal de contas quem prestaria atenção a duas miúdas que nem nós?

  O silêncio de Cass indicava que ela devia estar a pensar o mesmo que Winter, a sua aparência, roupas velhas, polidas, corpos pequenos e mal desenvolvidos, com ossos marcados devido á desnutrição, ninguém diria que conseguiríamos juntar essa quantia, nem que trabalhassemos a vida inteira, no fim das contas, éramos apenas carne para matadouro a tentar fugir do nosso destino fatal da melhor forma possível, por muito que Winter usasse os seus poderes para esconder a sua miséria dos outros, isso não a fazia desaparecer do dia para a noite, talvez só o Deus Odius, o Deus da sorte, a poderia ajudar.

  - Então, - aquela simples palavra fez Winter lembrar-se de que Cass ainda estava com ela, e sair do transe - o Xancer, hum?

  - Somos só amigos. - Winter sabia muito bem que nenhum rapaz nesta ilha ou arredores iria querer alguma coisa com uma esquisitoide como ela.

  - Sim, porque é muito comum para os amigos comerem-se uns aos outros com os olhos - Cass olhou para ela e bateu as pestanas de forma irónica, Winter adorava a amiga, mas odiava como ela conseguia ser incessante às vezes, principalmente sobre certos temas, como a sua vida amorosa.

  - Vai arranjar uma vida amorosa com que te entreteres em vez de pores o nariz na minha. - Winter pronunciou essas palavras com um ligeiro sorriso nos lábios que tentou mascarar falando de forma irónica.

  - Para tua infelicidade, minha mais querida amiga, a minha vida nesse sentido não está fácil, as raparigas acham todas que eu quero roubar os seus crushs, quando na verdade só quero roubar os seus corações, e os rapazes estão todos de olhos postos em ti, então fico sem opção para dar um batimento extra para o meu pobre coração. - Winter apenas deixou a amiga seguir o seu monólogo dramático sobre como toda a sua vida amorosa era um desastre, do como se encontravam os seus exs e algumas cusculhices que conseguia a partir do trabalho da sua irmã mais velha Beeh.

  Quando Winter menos esperava elas haviam chegado á esquadra o ponto onde elas se separavam e Winter seguia em direção á fábrica, a zona do seu trabalho, então, com muito pesar no seu coração, despediu-se da amiga e depois comprimentou o Xancer, porque no fim do dia ela era uma rapariga solteira que tinha o direito de comprimentar quem ela quisesse.

* Nara - palavra para matriarca da família, a palavra para patriarca é Nero.

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  A cidade onde Winter se encontrava era Falus, a capital do reino Falfil, na área do outono, o seu nome vem do Deus do tempo, Falus, que segundo a tradição, é o que nos faz envelhecer, sendo o seu irmão gémeo o Deus Fergus, Deus responsável por dar o golpe final em todos os seres que percorriam a ilha.

  A capital, ou cidade das máquinas, nome mais apropriado, na minha opinião devido a ser a principal concentração de fábricas numa cidade de toda a ilha, e dizem as más línguas, do arquipélago, mas nem tudo são flores, afinal de contas a maior parte dos trabalhadores são humanos, que recebem uma mijona, trabalham para além das horas ditas por lei e não têm qualquer gênero de férias ou ajuda em caso de acidente, ou seja, são miseráveis, sempre levados á mercê dos Flore, os poderosos da área, muitas famílias tendo dezenas de fábricas, outras centenas, moram na área alta da cidade, longe do cheiro a peixe e rio do porto, o cheiro a fábricas e a poluição da área industrial e o cheiro a pessoas do bairros "habitáveis" e humanizados, onde eu moro com a minha família desde que eu tenho memória, sou órfã, os meus pais morreram quando eu era pequena, então fui morar com a minha família paterna, onde tenho sobrevivido.

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