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Jenna


Emma está na consulta do terceiro mês de gestação. Acompanhei ela nas duas anteriores.
Tem sido difícil pra gente, tem sido difícil pra ela. Tia Lucy insistiu pra eu ficar na casa dela por um tempo, até porque Emma está morando lá, e continua sensível.

É difícil ficar naquela casa e não lembrar do Reiki, é difícil ficar ao lado da Emma e saber que meu amigo que era pra estar aqui ao lado dela.

- Emma, o bebê está se desenvolvendo bem. - O Doutor diz olhando para o monitor do ultrassom.

- Eu fico feliz, já dá pra saber o sexo ?  - Ela perguntou baixo.

- Ainda não, quem sabe na próxima consulta.

Emma se limpou, o doutor passou alguns medicamentos, falou algumas recomendações, e por fim nos liberou para ir pra casa.

- Tudo bem? - Perguntei para Emma assim que saímos do consultório.

- Você não tem que vir todas as vezes. - Ela disse baixo.

- Você não quer que eu venha? - Questionei  quando entramos no carro.

- Não é isso. Só que... não é sua obrigação. Posso me virar sozinha, sem problemas.

- Emma, lembra o que o Reiki me pediu antes de partir?

- Pra cuidar de mim...

- Exatamente. - Falei simples. - Eu vou cuidar de você e do filho de vocês. Porque eu sei que é o certo a se fazer, e porque foi o que meu amigo me pediu.

- Podemos ir pra casa ?  - Emma perguntou quando dei partida.

- Não senhora, hoje vamos pra um destino diferente.

- Não me leve a mal, mas quero me deitar.

- Onde nós vamos, você vai poder deitar.

- Tudo bem. - Ela se deu por vencida.

Segui o caminho, e antes de ir em direção ao parque, passei na farmácia e comprei os remédios que o doutor receitou para a Emma.
Quando estávamos quase chegando no parque, notei que a Emma começou a cochilar. É sempre assim desde que o Reiki se foi.

Emma está com depressão, só fica dentro do quarto, não vai mais à faculdade. Os pais dela insistiram pra ela ir ficar com eles, mas Emma prefere ficar morando com a tia Lucy.

Estacionei o carro, desci, abri o porta malas e fui tirando as coisas de dentro.

- Estamos no parque. - Emma apareceu do meu lado. - O parque que o Reiki gostava.

Esse parque é meio afastado da cidade, era o preferido do meu amigo. Não vinha quase ninguém aqui.

- Achei que você precisasse de um ar puro.

- Vou te ajudar levar as coisas. - Ela ia pegar os lençóis, mas eu não deixei.

- Não senhora, você pode ficar ali naquela sombra. - Apontei para a árvore. - Nada de esforço.

- São só lençóis e travesseiros. - Ela resmungou.

- Tudo bem, leva esse lençol e os dois travesseiros.

Emma seguiu para a sombra de baixo da árvore. E eu peguei a cesta e fechei o porta malas do carro.

- Vou arrumar os lençóis aqui na grama e você pode deitar se quiser. - Falei colocando a cesta do lado dela.

Depois de alguns minutos finalmente coloquei tudo em ordem.
Ajudei Emma se sentar encostada nos dois travesseiros.

Peguei alguns morangos, coloquei em um potinho e entrei pra ela.

- Come, já está na hora de tomar seu café da tarde.

- Por que está se preocupando tanto?

- Você está entrando em depressão, Emma. - Respondi olhando nos olhos dela. - Sei que é difícil não ter ele aqui conosco, mas precisamos seguir em frente. Dói muito dizer isso, porque sinto falta do Reiki em todos os momentos. Meu dia a dia sem o Reiki tem sido uma merda, mas estou tentando.

- E por que viemos aqui?

- Porque eu prefiro ficar lembrando dele sorrindo e sendo um boiolinha, do que ficar dentro de casa pensando o que poderia acontecer se ele estivesse aqui conosco. - Respondi sincera. - Aquela foto que tem no quarto dele, lembra? Tiramos aqui nesse parque.

- Sim, estávamos felizes. Queria poder voltar no tempo.

- Eu também. - Respondi mordendo uma maçã.

- Eu amo tanto o Reiki, é tão dolorido não ter ele comigo todos os dias. Dói não ter ele comigo nas consultas pra sabermos do bebê.

- Eii, minha companhia não é tão ruim. - Brinquei, e então Emma sorriu pela primeira vez, desde que tudo aconteceu.

- Você não é tão ruim, Jenna. - Ela respondeu risonha. - Mas queria o pai do meu filho comigo. Você não entende, acho que nunca teve um amor desse jeito maluco...

- Engano seu, Emma. Eu já amei, ainda amo.

- Então Reiki não mentiu quando falou da sua paixão pela mulher casada ? - Emma me olhou surpresa. - Joguei um verde e você caiu.

- Olha que filho da puta, te contou meus segredos. - Falei brincando. - E ainda te ensinou a brincar com a minha cara.

- Por que não luta pela mulher que você ama?

- Por que seria em vão.

- Ela não gosta de você ?

- Ela gosta de mim, mas não da mesma forma que gosto dela. Eu amo ela, desde quando a vi pela primeira vez.

- E por quê não chegou nela primeiro que o marido dela, talvez tivesse mais chances.

- Nunca achei que ela pudesse se interessar por mim. Sou meio idiota, e não sou perfeita igual o marido dela.

- Eu acho que você teria chances. Você é legal, Ortega.

- Estou tentando não focar nisso agora. Tenho que deixar minha paixão de lado, e focar totalmente no que é preciso.

- Você é dura consigo mesma.

- Talvez, mas desde sempre eu sabia que não teria chances com ela. Eu não teria coragem de destruir um amor tão lindo só pra me beneficiar. Mas todas as vezes eu via os dois juntos, doía muito.

- Você via? Significa que não vê mais?

Paralisei em um instante. Estou falando muita merda.

- Isso, mas vamos mudar de assunto por favor.

Emma pareceu desconcertada, e logo mudou de assunto. O que eu achei bem melhor.


✌🏽

Entre Dois AmoresOnde histórias criam vida. Descubra agora