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Proposal

Continuava frio e Onika se sentiu orgulhosa por não precisar exigir o chefe a se cuidar, porque na hora do almoço ele estava pronto a enfrentar mais um dia frio na cidade em prol de uma boa comida, mais precisamente, de seu novo cardápio favorito do outro lado da rua. Além de Liam, pôde ver Jasmine segura no carrinho e entretida com um chocalho musical.

Nem mesmo os pingos de chuva foram capazes de deter a fome de Zayn e boa vontade de afogar o apetite com o tempero de Liam. 

— Não acredito que resolveu voltar, senhor Malik. — sorriu ao ver o CEO se aproximar. Mentiria se dissesse que não se perguntou quando o veria outra vez, mas jamais assumiria isso em voz alta.

— Ouvi dizer que aqui servia a melhor comida do quarteirão. Como eu poderia não voltar? — falou, checando as opções do dia no cartaz branco pendurado. De tão distraído, não viu o rapaz corar e ate sorrir pelo elogio sincero.

— Bom saber que o feedback foi positivo. Ate mesmo os seus seguranças aprovaram. — apontou discretamente para os homens engravatados há apenas alguns metros de distância, comendo casualmente, como se quisessem passar despercebidos. 

— Não sei do que esta falando. — tentou disfarçar e apontou para o ensopado com carne e legumes. Liam separou a marmita, os talheres e entregou a ele, além de servir um suco de laranja para acompanhar.

— Foi muito gentil da sua parte. Eles são discretos e bons. Não precisava se preocupar. 

— É mais seguro que trabalhe protegido, principalmente por estar com Jasmine. — justificou, começando a comer, de pe. Novamente, Liam cedeu o banco e Zayn não relutou em aceitar, — O movimento está mais calmo hoje?

— Na verdade, o senhor que resolveu aparecer no fim do meu expediente. São quase duas da tarde. 

— Prefiro assim. Tenho agonia de comer no meio de muitas pessoas. 

— Sou assim também, embora goste de me enturmar. Para os reservados como o senhor, tenho um delivery. Meu pai faz a entrega, enquanto estou aqui. 

— Isso pode ser útil em um dia em que eu não puder descer, desde que a comida continue sendo preparada por você. — deixou claro, em quase uma exigência. Qualquer pessoa acharia que era uma ordem, mas para Liam era apenas mais um elogio. O jeito serio e meio sombrio de Zayn era um alento em meio aos seus problemas diários. Uma distração boa, na verdade, por mais que fosse recente aquela interação entre eles.

— E é… 

— Então o seu negócio é familiar?

— Mais ou menos. Papai me ajuda em seu tempo vago a fazer entregas e também a vigiar a Jas quando estou cozinhando, mesmo nas vezes em que esta atolado na oficina. Sempre da um jeitinho de me apoiar. — contou, ofertando a Zayn um guardanapo para limpar o canto dos lábios.

— Um grande homem, suponho. E o pai da Jasmine também te apoia?

— Ele me trocou por outra, ou melhor, pela prima dele. — revirou os olhos ao lembrar — Achei que a após o nascimento dela as coisas melhorariam, mas só fizeram piorar... — suspirou com pesar, condenando sua inocência em acreditar que seu casamento poderia ser salvo.

— Lamento. Deve ter sido difícil. 

— Ainda é… No começo era tudo tão lindo... Estávamos muito apaixonados e tínhamos planos, apesar dos pais dele não gostarem muito de mim por eu não ser tão rico quanto eles. Mas antes de bater a porta, disse umas boas verdades pra toda aquela gente. — se sentiu orgulhoso por essa parte, enquanto pegava a filha nos braços.

— Esses milionários esnobes são tão escrotos. Disse eu, igualmente milionário. 

Liam deu risada.

— Bilionário. — corrigiu. 

— Ninguém é perfeito. — deu de ombros.

— Enfim, posso dizer que meu repertório de xingamentos foi bem variado. Foi um verdadeiro sabor.

— Tão pouco diante da humilhação que passou. Eu teria quebrado alguns moveis, arremessado ovos…

— Infelizmente o mercado ja tinha fechado.

Zayn esboçou um sorriso, quase invisivel. A vibe de Liam era agradável.

— E como anda o negócio? — perguntou, jogando seu lixo na lixeira.

— Aos poucos estou indo bem. É uma clientela muito boa. Quando eu tiver condições, penso em montar um restaurante por aqui pra ser mais confortável e ter mais espaço. 

— Acredito que esteja literalmente trabalhando pra isso. — se levantou para que Liam pudesse se sentar com a filha. Humildemente, ele aceitou.

— Tanto por ser um sonho, quanto por Jasmine. Se eu pudesse, construiria um império só pra ela. — seus olhos brilharam ao dizer aquilo. Era mais um detalhe para Zayn admirar.

— Está no caminho certo. 

— Obrigado, senhor Malik. — corou e sorriu. 

— Zayn. Apenas Zayn. 

— Zee. — disse Jasmine, como se estivesse prestando atenção, além de se entreter com seu brinquedinho. 

Liam se impressionou. A filha era uma criança de pouca interação verbal. 

Sua atitude também encantou o CEO.

— Pra você acho que pode ser, embora eu ache apelidos coisa de gente preguiçosa. — Zayn falou. Se agachando em frente aos dois. Jasmine sorriu, apontando para ele e esticando os braços e Malik não pensou muito antes de pega-la, ajeitando o casaco em seu corpinho. Liam se admirou novamente, ela era tão receosa com outras pessoas, e mesmo assim, o homem barbado de cabelos desgrenhados e blazer escuro foi capaz de lhe dar um voto de confiança.

— Incrível como ela não teve medo de você.

— Deve haver algo de especial em mim. — se gabou sutilmente, deixando ela puxar o colar prata de dentro de suas roupas e toca-lo — Acha que seria muito trabalhoso reservar duas dessas marmitas por dia para mim e mais oito para o fim de semana? Vai receber em dobro.

— Está falando serio? 

— Posso te pagar adiantado.

— Gostou tanto assim?

— Me conquistou pelo estomago, senhor Payne. Se quiser pode usar a minha cozinha, assim Jasmine conhece a minha casa.

— Quer que eu seja seu cozinheiro particular?

— É um bom jeito de colocar as coisas. estamos acertados assim?

Liam ainda parecia incrédulo com a proposta. Era uma chance de ouro e seria loucura desperdiçar.

— Com toda a certeza!

Zayn ficou satisfeito com a resposta.
 
— Otimo. Jasmine também gostou. — disse ao ver ela sorrir, ainda distraída com seu colar — A proposito, tenho uma coisa pra ela. Posso? — perguntou a Liam antes de entregar o mimo para a menina.

— Sim, por favor. Ela adora. — sorriu, tocado pelo gesto. 

Zayn tirou do bolso um unicórnio roxo, não tão pequeno para que ela não se interessasse em comer e colocou na mãozinha protegida com uma luva cor de rosa.

— Parece que acertei no mimo. Roxo é a minha cor predileta, sabe? — ficou feliz ao ver que ela gostou.

— ‘Oxo. — ela repetiu, encantada com o novo brinquedo.

— Isso mesmo. — Zayn quase derreteu, o que o fez sorrir de verdade após quatro meses de plena escuridão em seu ser. 

Em meio a tantas rachaduras, um sorriso de dentes pequeninos foi capaz de fazer uma brecha de luz se abrir em seu interior. E de uma forma estonteante, o sorriso amplo de Liam ampliou aquela sensação.