Eu prefiro morrer.
Prefiro morrer a ser como você.
Eu não quero ser como você.
Prefiro morrer.
As palavras continuaram ecoando e ressoando na mente de Sasuke.
Foi como ser atirado em um lago congelante. Ter o chão arrancado de seus pés. Ele sentiu seu coração partir-se e embaraço sobre sua natureza aflorar. O vampiro nunca arrependeu-se de ter escolhido aquela vida. Sempre foi confiante e esteve satisfeito consigo mesmo, apesar de todas as adversidades e riscos incumbidos em ser um vampiro.
Naquele instante, diante do pequeno humano, o formidável conde de Mooncrest sentiu-se constrangido. Desencaixado. Inadequado. Inconveniente.
Quase tão desconectado da realidade quanto mais cedo, quando avistou seu lorde e ouviu as palavras que o assombraram:
"Eu o encontrei hoje".
"Quem?"
"Ele veio até mim e contou-me histórias tristes sobre o passado".
"Quem contou a você, lorde?"
"Lino", o Uzumaki revelou e virou-se na direção de alguém que o chamava.
Naquela hora, o Uchiha não teve tempo de obter todas as informações que precisava para se acalmar.
"Naruto! É você, irmão?" — A voz de Lady Olivia ecoou, aproximando-se rapidamente. — "Lix! Responda quando a senhorita sua irmã chamar!" — Ela estava quase os alcançando.
O vampiro não pôde ficar, seu demônio estava furioso, transtornado, tentando esgueirar-se sobre sua pele. As presas já estavam crescendo e seus olhos escurecendo. Em um momento de distração do jovem, o conde fugiu para a floresta. Embrenhando-se no meio daqueles enormes pinheiros que mais lembravam grandes barras de uma jaula amaldiçoada.
Lá, sofreu das tentações e alucinações causadas pela sua malignidade interior que tentava controlá-lo, mas com a ajuda da voz amável de seu companheiro, que oportunamente surgiu em seu subconsciente no momento em que ele mais precisou, Sasuke conseguiu resistir. E quando saiu do frenesi, já era noite.
Cambaleou, ainda exausto e despenteado para o casarão dos Uzumaki. Mesmo que tivesse que encontrar Jisung para informá-lo das notícias mais recentes e fortificarem sua abordagem, necessitava, primeiramente, checar a segurança de seu lorde.
Sasuke não podia suportar a ideia de perdê-lo. Ele decidiu tomar uma atitude que o protegeria de Minho, de seu demônio e de qualquer mal.
Mesmo que contrariasse a moral e que o fizesse odiá-lo.
Seu demônio era geralmente movido apenas pelos instintos, mas sobre aquele assunto ele tinha razão: ainda que não fosse um predador das sombras, poderia ser a Febre, a Gripe, mesmo um prego enferrujado a ceifar a vida de seu companheiro!
E a ideia de existir em um mundo onde seu lorde não vivia era demasiado dolorosa para ele suportar. Preferia ser desprezado por ele até o fim dos tempos...
Vivo.
Ou o que quer que os vampiros fossem.
— Eu só... quero protegê-lo de Minho. Em sua atual condição você é frágil e completamente vulnerável — alegou, na penumbra do quarto do lorde.
— Pois então prefiro morrer. Eu prefiro morrer a ser como você — Naruto disse, com a boca cheia do veneno vampírico de Sasuke.
— Sinto muito. Eu não vou deixar.
As mãos do conde foram para o pescoço fino, apertando sua garganta e cortando o ar que seus pulmões clamavam.
— Perdoe-me, meu companheiro.
Ele viu o rosto do humano perder o rubor adorável e seus olhos brilhantes apagarem-se enquanto lágrimas incessantes escorriam em suas mãos. Doía no peito do Uchiha, doía sim, mas ele sabia que era necessário. Um mal pequeno para evitar um pior.
— P... Pare... — As forças de Naruto foram se esvaindo e sua consciência oscilou. — Por favor... não... monstro.
Mas então, no último momento, as lágrimas salgadas finalmente penetraram as brechas dos muros da razão de Sasuke. Ele hesitou, sua determinação vacilando diante do sofrimento de seu estimado amante. Uma dor agonizante implodiu no peito do vampiro, a luta interna que vivenciava sufocando o ar dele próprio também.
Em um momento de clareza o demônio recuou, suas mãos soltaram o Uzumaki, que tragou desesperadamente todo o ar que conseguiu antes de engasgar-se e tossir.
O conde deu alguns passos para trás, vendo a cena do pequeno corpo machucado de seu adorável Naruto estirado no chão, ferido pelas mesmas mãos que deveriam protegê-lo.
Ele arrependeu-se amargamente e caiu de joelhos. Colou a testa no chão e implorou pelo perdão do humano com a voz embargada e o coração pesado, ciente do dano irreversível que quase causou a pessoa que mais queria proteger.
O lorde recompôs-se depois de alguns minutos ofegando como se tivesse se afogado em um oceano de decepção. Ele abraçava os joelhos em um cantinho de seu quarto, enquanto via o vampiro jogado aos seus pés entoando repetidamente mais súplicas e lamentos sobre sua atitude infeliz.
Naruto deveria recusá-lo e ordenar que se retirasse, o que o vampiro fez foi muito grave e ultrapassava todos os seus limites. Mas não o fez, uma vez ciente da maldade interior incontrolável atrelada a maldição, foi compreensivo com o pecado que ele felizmente evitou cometer no último segundo.
— Eu sinto muito. Lamento por tê-lo assustado. Eu só queria... protegê-lo.
O Uzumaki fungou o nariz e engatinhou até que sua mão tocasse a do vampiro, que levantou a cabeça para olhá-lo.
— Você deve proteger-me. É o único que pode. Não recuso suas preocupações, mas não desrespeite mais minhas decisões. Nem as tome por mim de antemão.
Sasuke chocou a testa contra o piso de madeira outra vez e suspirou pesadamente.
— Não tentarei justificar-me, o que fiz foi errado, de fato. Mas agora que o conheci, não consigo imaginar uma existência sem você, lorde. Apenas sinto que não posso deixá-lo partir se há outra opção.
— Todos nós só nascemos com a certeza do fim. Não sejamos presunçosos em devanear que temos algum controle sobre o destino. O que tiver de ser, será. Não desejo morrer. Há uma linda vida esperando-me, oásis em outros continentes para conhecer, aventuras para vivenciar, prazeres para saborear, pequenos descendentes para gerar e criar, cabelos brancos e rugas para envelhecer...
— E eu quero que tenha a chance! Bem, da maior parte destas coisas.
— Mas se meu fado for morrer amanhã pelas mãos de Lino, daqui a cinco anos por outro motivo ou de causas naturais em 20, que assim seja. Não tire de mim o privilégio de perecer dignamente, conde.
O vampiro engoliu amargamente, cerrando os punhos com força antes de levantar a cabeça e assentir.
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Vampire's Delight | SasuNaru Version (em hiatus)
FanfictionA linha entre a sede de sangue e a luxúria é muito tênue para um vampiro. Principalmente quando a vítima humana em questão tem o cheiro mais irresistível que Sasuke Uchiha já farejou, com uma personalidade igualmente doce, encantadora e atrevida. N...