Chihiro
Acabei de voltar do trabalho e estava me sentindo um pouco entediada. Decidi então seguir o caminho que meus pais costumavam fazer até o portão. É engraçado como esses lugares têm o poder de despertar memórias e sentimentos do passado. Antigamente, eu vinha aqui em busca da promessa de Haku, mas agora, após tanto tempo, percebo que cansei de esperar por algo que talvez nunca se concretize.
Enquanto caminhava, envolta em nostalgia, senti uma brisa suave que parecia carregar sussurros de tempos idos. Cada passo que dava, sentia-me mais envolvida pelas lembranças. As árvores ao redor balançavam gentilmente, como se cumprimentassem uma velha amiga. O caminho de terra me lembrava dos momentos que passei sonhando e esperando, impregnado de uma melancolia doce.
De repente, uma dor aguda tomou conta da minha cabeça, e o mundo ao meu redor se tornou uma confusão embaçada. Quando consegui abrir os olhos, tudo ainda parecia turvo. Lentamente, percebi que estava deitada em um gramado perto de um rio. O som suave da água correndo ao meu lado trouxe-me de volta à realidade. Quando olhei ao redor, a surpresa me atingiu como um raio: eu tinha voltado.
"Eu voltei?", foi a pergunta que ecoou na minha mente, carregada de incredulidade e espanto. Levantei-me com cuidado, sentindo uma dor latejante na cabeça. O ambiente era tão familiar, mas ao mesmo tempo surreal. Sabia que não podia perder tempo. Com determinação, atravessei a ponte, impulsionada pela memória do cheiro do sangue que me guiava, o mesmo cheiro que outrora me aterrorizou e agora me orientava.
Ao chegar à porta familiar, desci as escadas com pressa, minha mão transparente tremendo de nervosismo e ansiedade. Abri a porta sem expectativas, mas lá estava Kamaji, como sempre, envolto em seu trabalho incansável.
"Kamaji, sou eu. Preciso de comida!" - declarei com urgência, minha voz trêmula e um tanto desesperada.
Ele pareceu surpreso e feliz ao me ver, seus olhos se iluminando com reconhecimento. Sem hesitar, ofereceu-me bolinhos com rapidez.
"Há quanto tempo, senhorita!" - exclamou ele, admirado e talvez um pouco emocionado.
"Obrigada, Kamaji" - agradeci, aceitando os bolinhos com gratidão, sentindo o calor do alimento e a familiaridade de seu gesto.
Kamaji perguntou como eu tinha voltado para cá, mas eu mesma não tinha certeza. Expliquei que alguém me atingiu na cabeça e, quando recuperei a consciência, estava ali, perto do rio. Sua expressão era de preocupação, mas também de compreensão.
"Você pode dormir aqui esta noite" - ofereceu ele gentilmente, com a mesma bondade de sempre.
"Obrigada, Kamaji" - respondi, sentindo-me aliviada por ter um lugar seguro para ficar. Olhei ao redor, absorvendo a familiaridade do ambiente, enquanto Kamaji continuava seu trabalho.
Enquanto eu o observava, percebi o quanto ele estava diferente. Tanto tempo tinha se passado desde a última vez que nos vimos. As linhas de preocupação em seu rosto pareciam mais profundas, mas seus olhos ainda carregavam a mesma bondade.
"Sentimos sua falta, senhorita" - confessou Kamaji, suas palavras carregadas de sinceridade e saudade.
"Eu também senti sua falta, Kamaji" - respondi, com um sorriso terno nos lábios, sentindo uma mistura de tristeza e alegria.
Aquele reencontro inesperado trouxe à tona sentimentos antigos, mas também uma nova esperança. Talvez, apesar de todas as mudanças e do tempo passado, ainda houvesse algo de bom a ser redescoberto naquele mundo.
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A viagem de chihiro 2
SpiritualChihiro enfrentou muitas adversidades e perdas desde sua última visita ao mundo espiritual. As experiências vividas lá a deixaram traumatizada, e agora, adolescente, ela faz de tudo para evitar qualquer lembrança daquele lugar mágico e perigoso. As...