Admirador Secreto

55 10 5
                                    

Faz alguns anos que a mina Ironsplinter queimou junto com o sequestrador de Hannah Donfort. Ela se entregou após dar seu depoimento do motivo pelo qual foi sequestrada: o acidente que causou a morte de Jennifer Hanson.

Eu também fui interrogada, reforçando a verdade de Hannah, já que os seus dois cúmplices morreram. Alan Bloomgate nem ao menos tentou ser flexível, questionando-me insistentemente sobre a origem das minhas informações. Com o celular da Donfort e as conversas dela com Amy Bell Lewis, eu consegui comprovar sem que entregasse explicações comprometedoras. 

E assim que tudo se acalmou, eu me mudei para Duskwood. Não por causa da cidade, pequena e tão pacata, mas por conta dos meus amigos que estão aqui e que me dão apoio emocional depois que eu perdi… Depois de tudo que aconteceu…

Apesar dos anos que se passaram, nunca consegui superar tudo que aconteceu. Eu nunca esquecerei, pois está gravado na minha mente. Tudo, que eu me lembro como se fosse ontem. A primeira ligação, nossas conversas, nossa investigação, todos nossos momentos juntos… Todas essas memórias, que não são aquelas que tive com meus amigos, mas, com você… Jake.

— Com licença. — O entregador da cidade vizinha entra na floricultura que trabalho, carregando um pequeno buquê de flores. — Flores para S/n.

— Pra mim? — Atrás do balcão, respondo.

— Flores? — Jessy coloca sua xícara de café de volta no pires. — Pensei que elas tinham parado de vir.

O entregador se aproxima e eu recebo o buquê, agradecendo e vendo-o ir embora.

— Tem algum bilhete, ou carta? — ela perguntou se apoiando no balcão, erguendo-se do banquinho, mais curiosa do que eu.

— Não há. Sempre recebo só as flores, sem o remetente. 

— Que estranho. De meses em meses elas chegam, e são de floriculturas de outras cidades. 

— Bom, até porque a Flower Bar é a única floricultura de Duskwood, não faria sentido encomendar flores conosco sendo que eu mesma faria os arranjos. 

— Faz sentido. — Se sentou novamente, deslizando os dedos na porcelana da xícara. — Mas quem será que manda? Deve ser daqui de Duskwood, então?

— Não faço ideia.

— Nem uma suspeita desse tamanho? — ela esticou seus dedos, quase pressionando o indicador contra o dedão. 

— Nenhuma. Os únicos homens solteiros que converso são o Thomas, que ainda é apaixonado pela Hannah, e o Phil.

Ela fez uma expressão surpresa ao me ouvir mencionar o nome do seu irmão. 

— Será que é o Phil?! 

— Ele não parece ser do tipo que manda flores, Jessy, principalmente anonimamente. 

— É. Verdade. — Seu ânimo diminuiu. — Mas ele te acha muito atraente. 

— Assim como metade das mulheres que frequentam o bar dele… — respondi rapidamente e ela riu. 

— Mas, então, talvez seja alguém que você não notou ainda. Um admirador secreto!

Aproximei as pétalas rosas do cravo ao meu rosto, sentindo o aroma delicado das flores.

— Seja quem for, fico lisonjeada, claro, mas não estou interessada. 

— S/n… — Sua voz era pedinte. — Amiga, você não acha que seria bom pra você? Desde que…

— Jessy. Eu… 

As lembranças dolorosas da minha visita na mina bloqueada por fitas policiais, retornam à minha memória. Ajoelhada diante de uma das entradas, sentindo o cheiro da fumaça penetrada no ar, e os soluços que não me deixavam parar de chorar. 

Cravo Rosa | DuskwoodOnde histórias criam vida. Descubra agora