Serendipidade

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Naruto Uzumaki, a única filha daquela família de bruxos mercadores que foi brutalmente assassinada durante um atentado terrorista bruxo muito após a guerra - nem se dignaram a mencionar nos jornais da época, não é de surpreender que ninguém saiba -, ela não ganhou uma cicatriz e nem é a mais formidável e talentosa das bruxas da sua idade para ser protagonista desta história.

O motivo para sua história ser contada é outro.

Naruto é apenas... diferente, como se espera, mas igual a maioria.

Nascida durante em tempos de guerra, foi para Hogwarts um pouco tarde - faltava algumas semanas para os seus doze anos quando foi escolhida para a Lufa-lufa em 2017 -, era contemporânea dos filhos mais famosos do mundo bruxo - e não há espaço para eles aqui, pois a fama dos seus pais ocupa tantos lugares que encheria um trem inteiro, de ponta a ponta.

Minerva McGonagall era a diretora da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts e a Profa. Pompona Sprout era a diretora da Lufa-Lufa na época e ambos foram muito piedosas com a garota ao compreender porque ela é diferente. Não que houvesse algum problema de fato em sua realidade, além de uma menina crescer sem o calor da família numa mansão cuidada por elfos domésticos e por um tutor designado pelo Ministério da Magia. Naruto só era diferente e sua diferença destacava conforme os anos avançavam e ela deixava de ser aquela criaturinha desorientada de 11 anos e tanto.

Uma menina de cabelos loiro-avermelhados tão cheios quanto os seus vívidos olhos azuis.

Uma menina que virou uma garota encorpada, forte em diversos sentidos e apaixonada por sua vida e por cada dia que vivia, grata pelo que possui e sonhadora.

Uma garota que busca seu lugar no novo mundo bruxo, que enfrenta a crescente ameaça de exposição por conta da nova tecnologia criada e aperfeiçoada pelos não-bruxos.

Sem rodeios.

Não há um termo bruxo para o que Naruto é - e por isso a constante estranheza nos rostos dos seus colegas nos primeiros dias em que ela expôs a si mesma - e não existiria ainda, pois o mundo bruxo demora bastante para acompanhar as modernidades humanas.

Muitas coisas ainda são feitas como há 50, 100, 200 e até 500 anos atrás, mas as mudanças chegam, devagar e silenciosas, por meio de detalhes quase imperceptíveis.

Porém, os trouxas chamam de "transgêneros". Levou um tempo para que Minerva compreendesse porque aquele molequinho barulhento de 11 anos, com tumultuados cabelos loiros e enormes e determinados olhos azuis se sentia deslocado por ser obrigado a se comportar como um garoto. Sua investigação custou muito tempo porque Naruto não queria falar, tinha vergonha e medo por não compreender o que se passava consigo e via sua realidade como abominável. Era só uma criança, perdoem-na, o que podia saber da vida sem a orientação de alguém?

Por sua conta, Naruto foi entendendo que a sua diferença não era tão terrível quanto os bruxos colegas deixavam transparecer - era até um pouco mais normal no mundo trouxa.

-Se é assim que você é, meu jovem... digo, minha cara, tenha orgulho de si mesma e siga adiante. Eu estarei aqui para apoiá-la. - lhe disse gentilmente Minerva, depois de ouví-la chorar e desejar a própria morte porque os colegas usavam azarações maldosas para lhe atormentar só porque ela é... menina. - Há muitos de nós que não estão em posição de julgar quem você é. Pense apenas na sua felicidade, Naruto, e em se tornar a melhor bruxa que puder ser. Estude bastante. É o melhor.

Não foi uma promessa, mas Naruto sabia que a Profa. McGonagall nunca faltava com a palavra. Primeiro, a transferiu para o quarto das meninas depois de ser avaliada por alguns dos curandeiros do Hospital St. Mungus sobre sua condição. Ela compreendeu o motivo de ser submetida a isso: tinham medo de que fossem sinais de loucura.