você

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Valentina Albuquerque

Passei a manhã inteira organizando os detalhes finais para a inauguração da Stones. Terminei de finalizar os últimos ajustes com o pessoal e sai me despedindo de todos. Assim que entrei no carro alcancei a bolsa no banco do carona e corri para ligar pra Alana, avisei que estava indo para o restaurante e desliguei rapidamente a chamada.

Eu definitivamente odeio ligações.

O percurso até o nosso restaurante favorito é curto vindo da Stones e em pouco mais de 10min eu estava estacionando o carro.

Eu definitivamente sou a pior pessoa para fazer baliza.

Alana estava sentada na nossa mesa de sempre, tomando o nosso drink de sempre e com certeza já havia feito o nosso pedido de sempre. Era tipo um ritual do nosso encontro mensal, sabe?

Alana: minha melhor amiga desde que me entendo por gente.

Não demorou pra que ela me enxergasse antes mesmo que eu pudesse adentrar o ambiente. O sorriso que existia em seus lábios cresceu e a minha sis levantou apressada para me receber e me apertou com sempre costuma fazer.

Saudade.

A Alana se mudou para Garopaba há três anos e com isso nosso tempo juntos passou a ser mínimo. Eu nunca fui apegada em termos de amizade, na verdade, eu nunca fui apegada a nada, exceto ao meu pai. Mas com a Alana é diferente, estamos juntas desde o primeiro ano da escola, quando tínhamos apenas 3 anos de idade. Nunca, absolutamente nunca fizemos nada separadas desde então. Terminamos a escola juntas e fizemos faculdade de administração juntas na PUC/SP, dividimos a vida durante os anos de faculdade e descobrimos que a nossa amizade é ainda mais especial e forte do que sempre demonstrou ser.

Mais que laço, nó.

Foram anos onde só existiam nós duas numa cidade grande onde as pessoas pouco se importavam com duas jovens que estavam longe de casa. Não que isso me afetasse de alguma maneira, como disse, pouco me importo com esse lance de apego e blá blá blá, mas isso afetava muito a Alana, com tudo, eu automaticamente me sentia totalmente afetada.

Empatia.

Eu sempre fui metida a valentona. Tenho dois defeitos evidentes: 1º faço de tudo para não entrar numa briga; 2º quando entro é bem difícil perdê-lá. Briguei na pré-escola por conta do meu visual despojado e largado, eu gostava de ser eu mesma e isso incomodava os babacas que dividam a classe comigo. Na adolescência fiz parte do grêmio estudantil e sem nem saber ao certo o que era movimento feminista eu fiz uma verdadeira revolução onde consegui agrupar quase 90% das meninas da escola, até hoje não sei como, mas eu fiz. E então na faculdade eu finalmente entendi que viver querendo que as pessoas aceitem quem de você fato é, não diz e nunca vai dizer sobre mim. Eu não preciso que ninguém me aceite como eu sou. Eu me aceito e isso basta.

Aceitação.

-

- Deus, sis!!!!!! Como eu senti saudade desse abraço, parece que esse último mês passou arrastado. - minha amiga me abraçava tão apertado que eu mal conseguia respirar.

- Solta, Alana! Puta que pariu, cada dia que passa esse seu abraço de urso fica mais forte, sis!!!! - reclamei em meio a uma risada abafada - Sério Alana, larga, tá bom caralho! Eu não tô conseguindo respirar! - pedi dando tapas em suas costas fazendo com que ela finalmente afrouxasse o abraço.

- Deixa eu olhar você. - me observou enquanto apertava meu rosto com as duas mãos - Está mais magra ou é pura impressão minha? - questionou me avaliando.

PerdiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora