olhares

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Valentina Albuquerque

Ela ficou imóvel em minha frente. Eu deixei ela a vontade para que reagisse quando fosse de sua vontade, mas ela não o fez. Ela continuava totalmente inerte enquanto seus olhos estavam fixos em... Minha boca? 

Eu estou gostando muito disso.

Desejo.

- Também sem conseguir parar? - perguntei chamando atenção dela pra mim.

- Hãm?  - indagou.

- Sem conseguir parar de olhar para minha boca. - falei firme e direta e ela arregalou os olhos.

- Desculpa! Eu estava um pouco distante. - se justificou e eu sorri maliciosa.

- Eu percebi. - fiz uma pausa me aproximando ainda mais - Você sempre se desculpa por tudo?

- Sempre que preciso. - respondeu prontamente.

- Então acho que nesse caso você não precisava se desculpar, apenas estava admirando algo que chamou a sua atenção, estou errada? - provoquei.

- E-eu preciso ir. - disse nervosa tentando se afastar mas eu fui mais rápida e segurei-a pelo braço.

Eu consegui sentir o nervosismo dela transbordando. Nesse momento a distância entre nós duas era mínima, o que me permitia sentir o cheiro doce do perfume que ela usava. Quando nossos olhares se encontraram ela abriu um sorriso que me deixou um pouco desnorteada, totalmente fora de órbita. Ela seguia imóvel e concentrada em observar todos os meus movimentos, mesmo sem entender bem o porque da minha presença mexer tanto com ela, decidi ali, no momento em que a vi congelar de novo o seu olhar em meus meus lábios, que eu tiraria proveito dessa situação.

- Calma, espera! - ela me olhou apreensiva - Acho que você veio até o bar em busca de alguma bebida, certo? - assentiu em silêncio e eu peguei um dos drinks que o garçom havia colocado pra mim no balcão - Pra você... Experimenta! - entreguei e ela deu um gole na bebida.

- Eu gosto. - disse tímida.

- Eu tambem gosto.. Esse é o meu drink favorito. - respondi e ela sorriu.

- Muito obrigada, eu realmente preciso ir! - levantou a bebida em sinal de agradecimento e se foi.

Fiquei alguns segundos tentando entender aquela interação até que fui totalmente surpreendida por uma Alana impaciente atrás de mim:

- Olha você aí... - falou me abraçando com seu jeitinho nada delicado de sempre - Você demorou muito - reclamou - Então eu fui obrigada a vir atrás de você. - disse me fazendo sorrir com tamanho drama.

- Eu já estava voltando. Aconteceu um imprevisto com o seu drink e eu precisei pedir outro, por isso a demora. - menti tentando justificar a demora enquanto devolvia o abraço e então ela sentou na banqueta ao meu lado.

Nós ficamos algum tempo curtindo a pista de dança e um pouco depois voltamos para o meu camarote onde decidimos curtir o resto da noite. Os pais da Alana chegaram e a prima dela, Júlia, que também é uma amiga minha da época de infância, veio junto,  então a diversão estava garantida.

Era quase impossível sentir ou perceber que as horas estavam passando e que aos poucos a noite estava acabando. Em um dado momento da madrugada, eu apoiei o meu drink na sacada do camarote e comecei a observar os poucos rostos que ainda haviam ali na pista de dança da Casa Stones. A maioria deles eram da minha família e do meu leque próximo de amigos. Poucas pessoas desconhecidas. Mas ainda assim, todas as pessoas que ainda estavam ali, estavam muito animadas.

PerdiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora