Albuquerques

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Valentina Albuquerque

A minha vida havia se tornado a maior loucura depois da inauguração da Stones. Era pura correria o dia inteiro e por mais que eu tivesse o total de 22 funcionários para cuidar do funcionamento da casa, eu definitivamente não conseguia ter sossego. Todos os assuntos devem passar obrigatoriamente por mim. Não que os meus funcionários não tenham autonomia em suas decisões, todos tem, mas eu gosto de me manter informada quanto a tudo que acontece aqui dentro.

Depois da inauguração tivemos dois finais de semanas que foram puro sucesso. A casa, que abre da quinta ao domingo, conseguiu ter recorde de público em todos os dias desde a inauguração. Foi um sucesso e eu ainda nem consigo lidar ao certo com isso.

Eu já perdi as contas de quantos dias fiquei sem almoçar. Eu normalmente chego às 10h e quando entro no meu escritório parece que sou engolida. Dificilmente saio de lá antes das 17h. A minha mãe, que tem tentado almoçar comigo faz dias, não para de insistir no assunto de que eu preciso de uma assistente pessoal porque definitivamente sozinha eu não estou dando conta. Ok, ela tem um ponto: eu realmente não estou dando conta. Mas conseguir uma assistente pessoal competente e qualificada pra me ajudar com toda a demanda que eu assumo é um trabalho complicado e eu claramente não contrataria qualquer pessoa pra essa função. Mas ela realmente está focada em me fazer ter uma assistente.

- Tem sido realmente puxado, mamãe! As vezes eu nem me dou conta do tempo e quando vejo o dia já chegou ao fim! - assumi derrotada - Hoje mesmo eu precisei adiar 3 reuniões com fornecedores para conseguir almoçar com você, sem contar que eu chego em casa um caco, sem conseguir se quer preparar algo pra jantar, todos os dias pedindo comida fora e confesso que já não aguento mais.

- E você acha que eu não sei disso, Valentina? - resmungou - Você perdeu peso depois da última crise de enxaqueca e até agora tá aí com essa cara de doente, tenho certeza que não deve saber o que é café da manhã! - disse certeira - Da última vez que fui no seu apartamento mal tinha água naquela geladeira, você vive de quê? Fazendo fotossíntese né, só pode! - resmungou novamente.

- Mãe, não viemos aqui pra sermão, por Deus! Eu já estou vendo alguém pra cuidar da casa, tá complicado porque eu preciso de alguém que cozinhe e hoje em dia é bem difícil, mas o papai me mandou mensagem hoje falando que a dona Deise tem uma conhecida, ficamos de ver se ela consegue ir lá em casa na sexta pela manhã pra gente conversar.

- E como a Deise não me disse nada? - perguntou intrigada - Quando seu pai falou com ela e eu não soube disso? Porque tudo naquela casa quem cuida com a Deise sou eu, agora ele foi atrás de uma funcionária pra você com ela?

- Eita como você não cansa de ser a dona do mundo né dona Vera? - brinquei - Eu que falei com ela no almoço do domingo passado e o papai apenas trouxe o recado dela pra mim, não foi ele que foi atrás de nada não! - expliquei.

- Logo estranhei, Nininha! Logo estranhei porque seu pai só serve pra resolver as coisas dele!

- Não fala assim do seu marido, você reclama reclama e não vive sem ele!

- Espera só pra você ver se eu não vivo, eu já disse pra ele que quero ver na hora que eu for embora como que ele vai se virar!

- Ah não mãe, não começa! - pedi sorridente.

- Mas é verdade, e não só ele, vocês todos!! - enfatizou - Eu quero ver como vocês todos vão se virar nesse mundo sem mim!

PerdiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora