Passando vergonha

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Fiz duas tranças, coloquei uma calça jeans escura, uma blusa de gola alta preta e um sobretudo preto. Separei meus tênis pois não sabia se iríamos andar muito, então preferi estar confortável.

Desci as escadas e Nam me esperava na porta. Ele usava uma calça jeans azul, uma camiseta verde e segurava seu casaco nos braços. Faltando dois degraus da escada, Namjoon percebeu minha presença e sorriu pra mim, o sorriso mais lindo do mundo que fazia seus olhos praticamente se fecharem e suas covinhas aparecerem.

Troquei os chinelos pelos tênis na porta. Nam tirou do bolso duas máscaras pretas, ele colocou uma si e outra em mim e então saímos.

A alguns quarteirões havia uma estação, fomos caminhando e conversando. Afastados e sem dar as mãos, mas nossos olhares eram uma conexão enquanto andávamos pelas ruas. Nam me explicou quais bilhetes comprar e me esperou na entrada.

Quase não havia pessoas na rua, alguns casais passeando e aproveitando o lindo dia

"Quase como nós"

- Estou te deixando guiar, o que é raro pra mim - Depois de alguns minutos vendo a vista de dentro do VLT eu confessei para ele

- Obrigada por isso - Ele me deu um toquinho de ombros

Fomos visitar uma galeria de arte interativa. Seu amor pela arte era genuíno e contagiante, eu sou o tipo de pessoa que acha tudo bonito e ouso dizer um pouco sentimental com tudo que se abre para mim, mas não entendo muito de arte. Ele parava obra por obra e me contava sobre o artista, as cores, os sentimentos, eu via seus olhos brilharem e sua animação em sua voz, mas confesso que fiquei com medo daquela animação toda virar algum desastre cultural devido ao seu carma de desastrado, mas tudo estava inteiro no final do tour.

Saímos da galeria e continuamos nosso passeio, as árvores tinham flores coloridas que caiam como uma chuva com o vento batendo, minhas bochechas com certeza doeriam no final do dia pois por baixo da máscara eu não parava de sorrir

- Sabe andar de bicicleta? - Nam me tirou dos meus pensamentos quando viu um pouco mais a frente um ponto de retirada de bikes

- Saber eu sei, mas eu não sou muito boa - Eu tinha um histórico de quedas andando de bicicleta

- Tem uma trilha legal de andar de bike por aqui. Eu cuido de você se você cair - Ele parou na minha frente abaixando um pouco para frente ficando na altura dos meus olhos

- Olha quem fala. Vamos nessa - Ele havia descoberto que me desafiar era um estimulante natural? Ele era o desastrado da relação

Nam abriu o aplicativo e escaneou duas bicicletas para usarmos. Ele foi na frente nos guiando pela trilha e eu fui atrás rezando para não passar vergonha. E com certeza valeu a pena.
O começo da trilha era por um portal florido, um longo caminho cheio de flores. O sol passava entre pequenas brechas dando a impressão de um céu estrelado, quase como uma pintura.

A trilha tinha uns 2 quilômetros até outra fase que já era asfaltada. Subimos uma encosta e a vista ia ficando cada vez mais bonita, como eu nunca havia visto nem mesmo no Brasil. Eu conhecia Seul, mas não pelos olhos dele.

Paramos em uma zona de descanso, bom... Namjoon parou. Do lado contrário vinha um grupo de patins e fiquei com medo de bater neles, o medo atraí justamente o erro. Como em uma vídeo cassetada um homem do grupo achou que eu conseguiria desviar dele, no último minuto ele percebeu que eu não conseguiria e ao desviar de mim eu caí

"Aí que humilhação"

- Você está bem? - Nam se abaixou na minha frente analisando o estrago

- Fora a minha dignidade que morreu na queda eu tô inteira - Não haviam muitas pessoas na parada, então quem presenciou era somente o grupo de patinadores, Nam e um grupo de senhoras que faziam um pausa da caminhada

- Não foi tão ruim - Após perceber que eu estava bem, Nam me ajudou a levantar rindo

- Foi péssimo - Dei um passo para frente para levantar a bike quando senti uma ardência no joelho - Aí... Droga eu adorava essa calça - A queda rasgou minha calça e fez um ralado no joelho que sangrava um pouco

- May, está doendo? - Nam me levantou e me acompanhou até um banquinho

- Não, a vergonha tá mascarando, mas acho que mais tarde vai doer - E então eu ri lembrando da cena e imaginando quem estava assistindo

- Essa parada tem um posto de recolhimento, podemos deixar as bikes e voltar de bondinho - Ele riu comigo e nos deu uma solução

Nam devolveu as bikes e entramos na fila para fazer o caminho de volta de bondinho. Eu olhava tudo como uma criança curiosa, queria guardar aquele lugar, aquele momento, ele... Na minha memória para sempre

No caminho de volta estávamos caminhando quando do outro lado da rua eu notei uma loja

"Alimentos estrangeiros"

- Eu quero ir ali - o puxei para atravessar a rua

Entramos na loja, peguei uma cesta e entreguei para ele que me seguia obediente

- O que está fazendo? - Ele olhava curioso para os itens que eu colocava na cesta

- Vou fazer uma sobremesa brasileira para vocês hoje - Eu sorri - Sua mãe tem forma de bolo? - Ele olhava confuso sobre meu questionamento

- Eu acho que não, quando precisamos de um bolo nos encomendamos - Me lembrei que eles não tem o costume de fazer bolo em casa

- No Brasil nós sempre comemos bolo, não só em aniversários - Ri me lembrando - Às vezes só queremos um bolinho como café da tarde e  um café ou um chá - Achei uma forma que poderia servir

- E o que vamos comer? - Paramos na fila para pagar e eu conferia se peguei tudo na cesta em suas mãos

- Vou fazer um pudim. Não é bem brasileiro, ele é português. Mas é meu doce preferido...


O Sonho de uma ArmyOnde histórias criam vida. Descubra agora