Encontros

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Encontro 1

Eu não podia acreditar que o dia do meu encontro com Artie tinha chegado tão rápido. Fui de carro até o campus, estacionei e fiquei sentado, enrolando. Eu não queria sair com Artie. Nem um pouco. Sua persistência tinha me vencido e eu suspeitava de que não era a primeira vez que ele usava aquela tática.

Resignado a me encontrar com ele naquela noite, me dirigi ao laboratório de idiomas. Artie estava lá, olhando para o relógio, com um pacote marrom debaixo do braço. Caminhei até ele e enfiei as mãos nos bolsos da calça.

— Oi, Jimin. Vamos. Estamos atrasados — disse ele, seguindo bruscamente para o corredor. — Ainda tenho que enviar um pacote pelo correio para um velho amigo.

Ele não era apenas gordo. Era alto e dava passadas bem maiores que as minhas. Eu precisava quase correr para acompanhá-lo.

Artie atravessou o estacionamento, chegou à calçada e pôs-se a andar na direção da cidade.

— Não seria melhor irmos no seu carro? — perguntei. — O correio fica a quase três quilômetros daqui.

— Ah, não. Não tenho carro. São caros demais.

Ainda bem que vim de tênis, pensei.

Artie andava em silêncio e com passos rígidos. Concluí que provavelmente era tarefa minha fazer a conversa fluir.

— Então... para quem é esse pacote?

— É para o meu ex-namorado da escola. Ele frequenta outra faculdade e eu gosto de manter contato. Ele sai com muita gente, assim como eu — gabou-se Artie. — Você precisa ver minha agenda. Tenho encontros marcados para daqui a anos.

Foi a caminhada mais longa da minha vida. Tentei me imaginar andando na selva indiana, mas estava frio demais. O céu estava escuro e nublado, soprava um vento forte. Não era um clima adequado para uma caminhada. Eu tremia — mesmo de casaco — e passei o tempo ouvindo parcialmente o que Artie falava e admirando as casas decoradas para o Halloween.

Finalmente chegamos ao correio e Artie despachou seu pacote.

Estávamos na Main Street e eu vi à nossa volta os vários restaurantes minúsculos localizados ali. Perguntei-me em qual deles jantaríamos.

Estava faminto. Tinha me esquecido de almoçar de tão absorto nos estudos. O cheiro de comida chinesa que vinha de um lugar ali perto era de dar água na boca.

Quando Artie saiu à rua, eu estava gelado. Bati as palmas das mãos e esfreguei uma na outra para aquecê-las. Se soubesse que ficaríamos tanto tempo na rua, teria usado luvas. Artie tinha um par de luvas de couro no bolso, mas ele mesmo as usou.

Meu cérebro, sempre ávido por punição, insistia que ele teria me dado suas luvas. Droga, ele teria tirado a camisa e me dado se achasse que eu poderia precisar dela.

— E agora? Para onde vamos? — perguntei.

Meus olhos dispararam, esperançosos, na direção do restaurante chinês.

— De volta ao campus. Tenho uma surpresa guardada para você.

Tentei colar um sorriso de entusiasmo no rosto.

— Que ótimo.

No longo trajeto de volta ao campus Artie foi falando de si mesmo. Falou sobre sua infância e a família. Descreveu todos os prêmios que ganhou e mencionou que foi presidente de cinco clubes, inclusive o de xadrez. Não fez uma só pergunta sobre mim. Eu ficaria surpreso se ele soubesse meu sobrenome.

Minha mente divagou para uma conversa com um homem muito diferente.

Ouvi sua voz cálida e hipnótica com muita clareza. De repente eu me encontrava debaixo de uma árvore. A árvore sob a qual eu dissera adeus. A árvore sob a qual eu olhara pela última vez seus olhos jabuticaba. O vento frio e cortante do Oregon desapareceu e eu senti a balsâmica brisa do verão indiano soprar suavemente meus cabelos. A noite cinza e nublada não existia mais e eu olhava as estrelas cintilantes no céu noturno. Ele tocou o meu rosto e falou.

O Resgate do Tigre (jikook)Onde histórias criam vida. Descubra agora