Um presente de Natal

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Passado o Halloween, concentrei minha atenção em estudar para as provas e evitar Artie. Ele conseguira o número do meu celular de alguma forma me ligava exatamente às cinco horas todas as tardes. Às vezes me esperava depois da aula, O cara não se mancava.

Também dediquei algum tempo a esclarecer meus sentimentos por Jason. Saímos mais algumas vezes, mas eu sempre tinha a impressão de que não falávamos a mesma língua. Ele achava que Shakespeare, poesia e livros eram chatos, e eu não conseguia apreciar as sutis diferenças entre equipes esportivas universitárias e profissionais. Não creio que ele desse muita importância ao fato de não sermos compatíveis. No fundo eu sabia que meu relacionamento com Jason não estava indo a lugar algum, mas ele era uma distração mental e eu gostava de tê-lo como parceiro nas aulas.

Justo quando eu achava que já tinha dominado a questão dos encontros casuais, Li resolveu tornar a coisa ainda mais complicada.

Estávamos conversando no estúdio quando de repente ele ficou calado, rolando a garrafa de água, nervosamente, para a frente e para trás entre as mãos.

— Jimin... — finalmente falou. — Queria saber se você quer sair comigo. Só nós dois. Como num encontro de verdade.

Minha mente disparou com pensamentos confusos.

— Ah. É... claro — respondi devagar. — Gosto da sua companhia. Você é muito divertido e é fácil conversar com você.

Ele fez uma careta.

— Mas você gosta mesmo de mim ou simplesmente gosta de mim?

Pensei por um momento e em seguida disse:

— Bem, para ser sincero, acho que você é um cara incrível e gosto muito de você. Mas não sei se posso ter um relacionamento sério com alguém neste momento. Eu rompi com uma pessoa recentemente e ainda não me recuperei.

— Entendi. É difícil superar essas coisas. Mas ainda assim quero sair com você. Isso se achar que vai ser bom e se estiver pronto.

Levei um instante para responder:

— Está bem. Acho que vai ser legal.

— Que tal começarmos com um filme de artes marciais? Tem um lugar que exibe filmes antigos sextas, à meia-noite. Quer ir?

— Quero, mas só se você prometer que vai me ensinar um dos golpes do filme — acrescentei, feliz por termos resolvido a questão.

Resolvido mais ou menos, pensei enquanto nos despedíamos.

Li e eu começamos a nos ver fora da noite de jogos e das aulas. Ele era um cavalheiro e nossos encontros eram sempre divertidos e interessantes. Apesar de ter toda essa atenção, eu me sentia sozinho.

Não era o tipo de solidão que se curava ficando na companhia de outras pessoas. Minha alma se sentia solitária. A noite era o pior momento, pois eu tinha a sensação de que ele estava perto de mim, mesmo estando de fato a um oceano de distância. Havia uma corda invisível amarrada em meu coração, nos conectando. Sua força implacável ficava tentando me puxar de volta. Talvez um dia essa corda se desgastasse e por fim se rompesse.

As aulas de wushu eram o escape perfeito para descarregar parte da frustração que eu sentia com a minha vida. Os movimentos eram precisos e não exigiam nenhuma emoção, o que era uma mudança bem-vinda. Além disso, eu estava começando a me aprimorar. Meus braços e pernas estavam mais definidos e eu também me sentia mais forte. Se alguém me atacasse, talvez eu pudesse mesmo me defender, o que era um pensamento encorajador.

Quem precisava da proteção de um tigre? Eu simplesmente daria um chute na cara do inimigo.

Como alunos, não deveríamos nutrir pensamentos assim, mas a maioria das pessoas não tinha que encarar macacos kappa imortais querendo devorá-las, como era o meu caso. Assim, eu me permitia visualizar meus muitos possíveis oponentes e chutava com violência. Até Li comentou que meus chutes estavam ficando mais fortes.

O Resgate do Tigre (jikook)Onde histórias criam vida. Descubra agora