O conto da raposa

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— Princesa Novachrono! — Sekke disse animado, fazendo Jack revirar os olhos com tanta força que sua cabeça doeu.

— Não precisa de formalidades. — Ery acenou com as mãos, um pouco envergonhada — Me chamar pelo nome está bom.

Depois de todas as apresentações, resolveram que beberiam para comemorar a chegada do novo membro. Por alguma razão, Jack resolveu beber sozinho em seu escritório. Talvez fosse sua falta de paciência para ouvir as besteiras que Sekke falaria bêbado.

Claro que Ery se aproveitaria disso para lhe pregar uma peça. Mesmo sem Falco, a ruiva continuava parecendo uma criança travessa que nunca cresceu. Esperou até que Jack estivesse mais alegre e se transformou em uma raposa, batendo na janela da sala onde ele se encontrava.

Obviamente o capitão estranhou. Não haviam raposas naquele lugar, mas mesmo assim ele abriu a janela e deixou que o animal entrasse e o mesmo pulou na mesa, se deitando em cima da papelada.

— O que caralhos você está fazendo aqui, hm? — Jack sentou-se e analisou a raposa, que o olhava diretamente com as orelhas abaixadas — Se fizer bagunça, vou fazer um assado com você.

O animal estreitou os olhos ao ouvir isso e ele riu, se virando para pegar mais uma garrafa de bebida. Quando se virou, quase caiu para trás ao ver Ery sentada em sua mesa com uma cara nada boa.

— Então você pretendia me cozinhar?! — ela gritou indignada.

— Eu deveria imaginar que você podia fazer isso. — suspirou cansado — E que caralhos você está vestindo?

Ery olhou para as próprias roupas e sorriu.

— Os shorts são do Suzu, a camisa do Falco e o casaco do Toka. — sorriu alegremente — É pra eu não sentir saudades.

— Você está ridícula. — sorriu maldoso, fazendo as bochechas da ruiva inflarem de raiva — Camponeses se vestem melhor do que você.

— Eu ia te chamar pra beber conosco, mas desisti. — ela desceu da mesa, pisando forte até a porta — Chato pra caralho!

— Agora que você veio, vai me aturar sua raposa mimada. — ele a seguiu em risos, se sentando com os outros na sala.

— Obrigado por voltar. Com você aqui o Sekke se comporta. — Nix revirou os olhos, arrancando risos de Ery.

— Acho que ele vai se comportar o resto da noite. — apontou para o loiro, que havia dormido em um dos sofás de tão bêbado que estava.

— Não sei onde eu estava com a cabeça pra escolher esse merda pro meu esquadrão. — Jack passou a mão no rosto, suspirando.

— Mas então. Como é ser filha do rei mago? Você também tem poderes de controlar o tempo? — En perguntou animado.

— Ah, eu não sou filha biológica dele. — se encostou mais no sofá, dando mais uma golada na caneca de cerveja — O único que não foi adotado foi o Suzumi, nosso caçula.

— Também foi achada no lixo? — Jack debochou, fazendo uma veia saltar na testa da ruiva.

— Fui achada em um puteiro. — todos ali arregalaram os olhos — O que foi? Minha mãe era prostituta e fugiu com um cara qualquer e me deixou de moeda de troca. Aí o Julius me achou quando eu tinha uns três anos.

— Cada vez eu tenho menos esperança no ser humano. — En balançou a cabeça negativamente.

— Pior que eu nunca podia usar minha forma original, sempre tinha que esconder na aparência humana. Até que eu me acostumei. — ela virou a caneca, bebendo todo o líquido — E também, o Falco não parava de ficar puxando minha cauda.

— Eu faria o mesmo, ainda beliscaria suas orelhas. — o capitão riu, irritando ainda mais a garota.

— Por isso que eu prefiro o Yami. — Ery debochou, rindo ao ver o capitão irritado.

— É melhor correr. — Nix avisou, apontando para as lâminas do capitão prontas para atacá-la.

E assim ela fez. Mesmo alegre pela bebida, os sentidos ainda estavam em alerta constante. Conseguia ouvir os passos rápidos de Jack e sentir seu cheiro se aproximando. Cheirava a bebida alcoólica e algo fresco e cítrico, facilmente sendo identificado por ela.

Sua cauda estava aparente e as orelhas felpudas rodavam para os lados em busca de uma saída. O sorriso nos lábios crescia com os caninos e as unhas negras e endurecidas cortavam os galhos finos que tentavam atrapalhar seu caminho.

Ao olhar para trás, Jack não estava mais lá, mas sua mana não estava longe. Mas em que direção? Não haviam sombras pela noite que caía e ele não havia deixado mais rastros.

— Te peguei. — foi tudo que Ery ouviu antes de sentir seu corpo ser abraçado e Jack surgir em sua lateral, fazendo os dois caírem no chão e rolarem por diversos metros até caírem em um lago frio.

Ery estava por baixo dele e via o a luz da lua refletir o rosto de Jack enquanto estavam submergidos. Nem naquela situação ele deixava de sorrir, mas dessa vez era de uma maneira mais calorosa e menos intimidante.

As lâminas de seus braços se recolheram e uma das mãos de Jack foi para o rosto da ruiva. Um grande "E se?" surgiu na mente de ambos.

Para que não faltasse mais ar, Jack passou os braços pela cintura dela e os levou até a superfície.

— Eu vou te matar por isso, está frio pra caralho. — o queixo da ruiva batia enquanto sua pele se arrepiava na água gelada.

— Eu deveria calar essa sua maldita boca, sua... — seu rosto se aproximou, mas passos os deixaram em completo alerta.

— Ery! Céus, eu sabia que era você, o que acontec... — Suzumi correu até a beira do lago ao lado de Leopoldo Vermillion, mas ambos pararam ao verem a cena — A gente tá atrapalhando algo?

Ery então notou que ainda estava nos braços de Jack, lhe dando um tapa no rosto que o fez soltá-la. Nadou até a beira do lago e saiu.

— Sinto muito, molhei seu short. — ela estava com a cabeça um pouco baixa, envergonhada.

— Você sabe que não tem problema, Ery. — afagou os cabelos molhados da outra enquanto Jack saía da água — Volte para seu esquadrão e vista roupas secas, você sabe que sua saúde é frágil.

Ela assentiu e deu um beijo na testa de Suzumi, desaparecendo no meio das árvores.

— E você, capitão. — Jack olhou entediado para o outro — Não achei que cuidaria dela nesse sentido, mas saiba que minha irmã será uma parceira incrível.

— Hehe, boa sorte pro coitado. — debochou, acariciando o local do tapa antes de seguir caminho para casa.

Alguns momentos de silêncio se puseram no local, até a dupla voltar a andar de volta para o próprio esquadrão.

— Não acha que seria estranho ter um capitão como cunhado? — Leopoldo perguntou.

— Imagina ser genro do rei mago. — Suzumi deu uma risadinha — Mas só quero que ela seja feliz. Ery e Toka não tem muita sorte com relacionamentos.

— É... — Leo corou, olhando a mão do parceiro de equipe — Amanhã você quer tomar café comigo?

— Pre treinar depois? Claro. — Suzumi sorriu animado, vendo o outro ficar um tanto nervoso.

Parece que mais um dos irmãos tem problemas de relacionamento.

Cães de caça | Black CloverOnde histórias criam vida. Descubra agora