capítulo 1

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Carla Maraisa narrando.

Acordei antes do amanhecer, como sempre. O velho despertador ao lado da minha cama tocou às 5h30 em ponto. Levantei devagar, tentando não fazer barulho para não acordar minha irmã mais nova, Maiara, que dormia tranquilamente no colchão ao lado. A casa ainda estava imersa no silêncio da madrugada, e o ar frio envolvia cada canto do pequeno cômodo.

Enquanto me dirigia para a cozinha, os pensamentos sobre o dia que se iniciava corriam pela minha mente. Precisava ser rápida, pois a padaria onde trabalhava abria cedo, e eu não podia me atrasar. Coloquei a chaleira no fogo e preparei um café forte. O aroma quente e familiar do café logo encheu a cozinha, trazendo um breve momento de conforto em meio à rotina agitada.

Enquanto tomava minha xícara de café, olhei pela janela e vi as primeiras luzes do amanhecer despontando no horizonte. Aquele breve momento de calma antes que o dia começasse de verdade era precioso. A rua ainda estava deserta, e o silêncio era quase reconfortante. Respirei fundo, absorvendo a tranquilidade temporária, antes que o caos do dia tomasse conta.

Terminei meu café e preparei uma tigela de mingau para Maiara, sabendo que ela acordaria logo em seguida. Minha mãe já estava de pé, como sempre, preparando-se para mais um dia de trabalho como diarista. A vida era difícil para nós, mas encontrávamos força umas nas outras. Minha mãe sempre dizia que, apesar de todas as dificuldades, éramos ricas em amor e determinação.

Depois de ajudar minha mãe com as tarefas domésticas e garantir que Maiara estivesse pronta para a escola, coloquei meu uniforme da padaria: uma camiseta branca, calça jeans e um avental que já havia visto dias melhores. Prendi o cabelo em um rabo de cavalo e saí de casa, sentindo o ar fresco da manhã me despertar completamente.

A padaria ficava a alguns quarteirões de casa, e o caminho até lá era uma mistura de pensamentos sobre o futuro e preocupações com o presente.

A caminhada era curta, mas eu a usava para organizar minhas ideias. Gostava de observar as ruas ganhando vida aos poucos. as lojas abrindo, as pessoas se apressando para o trabalho, o início de mais um dia na cidade.

Quando cheguei à padaria, o dono, Seu Antônio, já estava a postos. Ele era um homem de meia-idade, com uma barriga saliente e um bigode espesso, sempre pronto para começar o dia com um sorriso.

- Bom dia, Carla! - Ele me cumprimentou com sua habitual energia. - Pronta para mais um dia?

Sorri de volta, tentando absorver um pouco daquela animação matinal.

- Bom dia, Seu Antônio. Sempre pronta.

As manhãs na padaria eram sempre movimentadas. Meu trabalho envolvia desde atender os clientes no balcão até ajudar na preparação dos pães e doces.

Gostava do cheiro de pão fresco que permeava o lugar, e havia algo reconfortante na rotina repetitiva de amassar a massa, preparar as fornadas e servir os clientes.

Durante a manhã, observei os rostos familiares que frequentavam a padaria. Havia Dona Maria, que sempre comprava o mesmo tipo de pão, e o Sr. Joaquim, que vinha buscar croissants para sua esposa. Eram pessoas simples, mas suas pequenas rotinas davam um senso de comunidade ao lugar.

Entre atender um cliente e outro, pensava na minha apresentação à noite. Era uma das poucas coisas que realmente me animavam. Cantar era minha paixão, e aquelas poucas horas no palco me permitiam esquecer, ainda que brevemente, todas as dificuldades da vida.

A música era meu refúgio, e cada apresentação era uma oportunidade de compartilhar um pouco da minha alma com o mundo.

No intervalo, sentei-me na pequena sala dos fundos, onde costumávamos fazer nossas refeições. Meu almoço era simples: um sanduíche e um suco.

a cantora do bar | Malila Onde histórias criam vida. Descubra agora