CAPÍTULO 5

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Heathan - Rabbit

Pego a caixa do porta-malas e paro no início da escada de
pedra que leva à porta principal. Minha mão aperta ao redor da
cabeça de coelho da minha bengala, meus dentes rangem e meu
maxilar cerra.

Dolly, eu recordo a mim mesmo. Você está aqui pela Dolly

Estalo meu pescoço, estreito meus olhos na porta da frente e
dou o primeiro passo. A cada passo, sinto o cheiro da fumaça dos seus charutos. Escuto suas respirações em meu ouvido. Mas
continuo. Continuo, embora ainda escute seus grunhidos, suas
risadas... e sinta a sensação deles sobre mim, balançando para
frente e para trás.

“Você está pronto para recuperar sua querida?” Chapel me perguntou há vários dias atrás.

“Minha Dolly,” rebati de volta.

“Sua querida pequena Dolly.” Ele sorriu e se curvou como
sempre fez. “Então, Mauricinho, mande meus mais afetuosos
cumprimentos, e boa sorte.” Sorri. “Que o diabo esteja firmemente ao seu lado...”

“Dolly querida,” repito em voz baixa, olhando para as janelas
no alto que sei que são as dela. Giro a maçaneta na porta, a
madeira velha range ruidosamente enquanto abre. Uma nuvem de ar quente atinge o meu rosto. Ar carregado de poeira. Entro no corredor, meus olhos imediatamente aliviados pela falta de luz.
Meus olhos não gostam de claridade, depois de permanecer no
escuro por tanto tempo. Olho para a minha esquerda e vejo
diversos lençóis brancos cobrindo o mobiliário da sala de jantar. O mesmo se repete na sala de estar. Tudo está coberto. Ocultos, como se nunca tivessem existido. Como se esta fodida casa do inferno não tivesse segredos e gritos presos em suas paredes, pulsando com o seu passado. Não ecoasse os gritos e a dor das crianças.

Não vibrasse com depravação.

Franzindo o cenho, olho para a minha mão na bengala. Está
trêmula. Assovio, minha cabeça inclina para o lado em uma rara demonstração de emoção do meu corpo. Nunca sinto nada. Nada,
exceto o desejo de matar e destruir aqueles que nos destruíram.

Mas, então, existe Dolly... e existe as memórias deste maldito
lugar. As sombras que me procuram à noite, me obrigando a reviver a incessante sensação de violação. Os demônios do passado que me fazem repetir cada momento, cada sopro de fôlego na minha orelha, cada pedaço de pele encharcada de suor que esfregou contra a minha.

Um barulho no andar de cima me faz voltar ao foco. Seguro
com mais firmeza a caixa na outra mão e sigo para as escadas. Um, dois, três passos... mantenho meus olhos focados no andar
superior. Movo minha mão sobre a cabeça de coelho, passando meu dedo sobre a trava que irá desencadear seu inferno, se necessário.

Quando chego ao topo, os tapetes estão mofados e
desgastados, debaixo dos meus pés, o vermelho e o dourado das
paredes desapareceram, e o papel de parede está descascando,
escuto o som distante de passos que vem da escada a minha
direita. Fecho os olhos, ouvindo os sons. Meus olhos se abrem e meus lábios se curvam sobre meus dentes.

Sei a quem pertence esses passos.

Avanço em direção a uma porta que é um farol para tudo o
que sou. Parando em frente à porta fechada, olho para a madeira. Rabbit bobo... escuto uma voz do passado em minha cabeça. Um
sorriso meigo, alegres olhos azuis, uma risada estridente e uma
bronca divertida. Você é minha pessoa favorita em todo o mundo,
Rabbit. Espero que você saiba disso.

Então... eu te amo... três palavras nunca ditas para mim antes, pronunciadas pela boca de Dolly.

Eu te amo...

Coloco minha bengala debaixo do meu braço e entro no
quarto. Minha respiração engata enquanto atravesso o batente
familiar. Nenhum cheiro de rosas me cumprimenta. Nenhuma
música dos anos oitenta. Nenhum aparelho de som portátil rosa.
Nenhum conjunto de chá ou risadas.

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