Capítulo I

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À luz suave da noite, Louise decide iniciar a tarefa de desempacotar os livros provenientes da doação. Sentada no chão da pequena sala, onde suas paredes revestidas por um papel verde oliva que proporcionam uma atmosfera acolhedora, complementada pelos móveis de madeira escura. A luz emitida por lâmpadas de LED e a televisão plana, de forma estranhamente harmoniosa, se mesclam à arquitetura que remonta ao início do século XX.

"Vamos ver o que temos aqui", murmura ela para si mesma, enquanto retira cuidadosamente cada livro da caixa. Entre eles, há exemplares de biologia, romances antigos e alguns documentos que se misturaram entre as folhas amareladas. Ao vasculhar o fundo da caixa de papelão, Louise percebeu um pequeno diário, com uma capa vermelha de couro tingido, adornado por uma pequena rosa gravada e um fecho que mal funciona depois de tanto tempo.

As páginas do diário eram delicadas e amareladas pelo tempo, a tinta desbotada, mas ainda legível. À medida que os olhos de Louise examinavam a escrita elegante, as palavras pareciam ganhar vida, cada frase pintava a imagem de um amor proibido que transcendeu séculos. A jovem do século XVI descrevia sobre seus encontros com o homem bonito, detalhando como ele aparecia em seu quarto, falava dos segredos sob o manto da noite, de promessas sussurradas e beijos roubados repletos de perigo e desejo. De alguém que quase fosse convocado por suas palavras sussurradas: "Vocare ad lucem", enquanto rezava antes de dormir. Ela descreveu seus olhos penetrantes e escuros que pareciam a dominar completamente. 

Passando rapidamente pelas páginas e se aproximando do final, Louise encontrou uma parte meio rasgada, resultado da última vez que a jovem escrevera ali. Um arrepio percorreu sua espinha ao ler sobre as tentativas desesperadas de comunicação, suas palavras escritas com uma urgência quase mágica, como se fossem um encantamento para convocá-lo ao seu lado, enquanto semanas se passavam sem qualquer sinal dele. A jovem descrevia a angústia de sua ausência, questionando-se onde ele poderia estar, incapaz de suportar mais a dor de sua falta. Ela reconhecia, resignada e tristemente, que agora era tarde demais e se despedia do que uma vez foi seu amado.

— Vocare ad lucem, até parece. - riu Louise num tom de deboche.

As luzes da sala se apagaram assim que ela encerrou seu riso, mergulhando o ambiente na escuridão. Uma rajada de vento violenta irrompeu pela janela entreaberta, agitando as cortinas com violência antes que a luz retornasse, revelando a figura sinistra que agora ocupava o sofá. Ali estava ele, um homem de pele pálida, quase translúcida, como se tivesse emergido das sombras. Seu cabelo desalinhado e branco ondulava ao redor de seu rosto, conferindo-lhe uma aura enigmática e sedutora. Vestido inteiramente de negro, ele emanava um ar de mistério e perigo, seus olhos fixos nela com uma intensidade penetrante que a deixava arrepiada.

— Você me invocou, querida Louise. - ele falou com uma voz suave como veludo, mas fria como gelo.

O coração de Louise disparou em seu peito enquanto ela olhava para o homem misterioso diante dela. Ela mal podia acreditar que as palavras das quais ela zombara momentos atrás o tivessem trazido para ali. Havia um fascínio perturbador nele, uma atração magnética que a atraía apesar do medo que percorria suas veias. 

— O que... o que você é? - sua voz quase inaudível. 

Ele se levantou do sofá e se aproximou dela. Ficando em pé bem a frente da jovem ajoelhada no chão. Ela pôde ver o leve indício de um sorriso brincando em seus lábios.

— Sou um ser da noite, de sombras e segredos. Alguém que você já ouviu o nome... - respondeu ele enigmaticamente. - Eu sou Lúcifer. - Disse ele segurando o pescoço dela enquanto se inclinava para mais próximo de seu rosto, mas ainda mantinha a postura imponente. 

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⏰ Última atualização: Jun 08 ⏰

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