15 de Janeiro de 2024
Lauren segurava o celular junto ao ouvido, sua voz se misturando ao som da chuva lá fora. "Camila, por favor, para com isso. Nós já conversamos várias vezes com isso! Por Deus, Camila! Eu não me importo com isso, droga!"
Do outro lado da linha, Camila encolheu-se no sofá "Desculpe, Lauren. Mas eu... eu não consigo. Não dá mais, me desculpa."
Ela desligou abruptamente, deixando Lauren em silêncio do outro lado da linha, enquanto o som da chuva engolia o apartamento. Seu coração batia descompassadamente, como num samba acelerado. Pegou as chaves do carro impulsivamente. Precisava sair dali o mais rápido possível. Não aguentaria mais nem um minutos. Decidida como a tempestade lá fora, saiu.
Ela jogou seu celular no banco do passageiro e deu a partida. A cidade era um borrão, Época de chuva em Boston sempre era violento. Camila dirigia, mas sentia-se à deriva, sua mente presa em Lauren. "Por que tem que ser tão difícil?", perguntava-se, com a frustração obscurecendo mais sua visão do que a própria chuva.
Mas no fundo você sabe, Camila. Não é tão difícil...
Lauren em sua casa pensava se era certo ligar ou não para Camila, ou seria melhor deixá-la esfriar a cabeça. Lauren de levantou do sofá e preparou um copo de whisky. Nunca foi um relacionamento fácil, elas sabiam que após sua última escolha seria muito mais. Perguntava-se se teria forçado Camila ao extremo, se tinham que ter esperado mais. Virou o copo de uma só vez sentindo o líquido queimar sua garganta. Olhou para a foto de Camila encima da estante e suspirou.
Camila não sabia exatamente onde estava. Estava a muito tempo dirigindo. Poderia estar em em Back Bay ou em Roxbury, mas o que ela queria mesmo era estar longe de Boston ou em um bar onde pudesse perder a cabeça.
Seu celular começou a tocar no banco do passageiro. Não conseguiu ler o nome pois estava sem seus óculos.
"Droga!" Resmungou. Ela olhou para a pista embaçada pela forte chuva para verificar que não via nenhum carro, e então se esticou para pegar o sem querer seu braço escorregou no volante virando o carro quase abruptamente, fazendo o aparelho se afastar no acento, quase caindo no vão do carro. Ela rapidamente se reergueu e tomou controle do carro. Por sorte a rua não estava movimentada.
Poderia ter batido.
O celular ainda tocava, já era a segunda vez.
Poderia ser Lauren? Não, Lauren não ligaria pra ela.
Nunca mais. E com razão...
Mas também poderia ser sua mãe.
Queira Deus que não...
Ela decidiu se esticar para pegar o aparelho, dessa vez teve que "deitar"um pouco mais seu corpo pois o celular estava mais longe.
Seus dedos pequenos estavam quase alcançando o aparelho.
Estava tão perto, Camila...
Mas você não alcançou.
De repente, um baque forte no pneu dianteiro direito a jogou para a contra mão da pista. E por uma trapaça do destino, as ruas calmas de Boston se movimentaram. Um farol surgiu do nada em sua direção. Camila pisou no freio, mas o carro deslizava, dançando na pista como se tivesse vida própria. Um estrondo metálico, os olhos de Lauren e depois...
Você se lembra, Camila?
[...]
Lauren estava deitada em seu sofá com uma garrafa de um bom whisky quase vazia. Assistia aqueles programas que passam depois da meia noite e ninguém, além de velhos com insônia, assiste realmente.
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Páginas Esquecidas
Fiksi PenggemarLauren, uma escritora de espírito livre, encontrou em Camila, a dona de uma pequena livraria, uma melodia que complementava a sua. O amor delas florescia nas entrelinhas, mas um acidente de carro apagou as memórias compartilhadas. Agora, Lauren prec...