O DESTINO QUIS ASSIM

CAPÍTULO 4

_ Hoje eu volto para casa só depois que a festa acabar. _ Julia luta para gritar, visto que a bebida havia drenado suas últimas energias.

Ao ouvir o som que vinha da boate, a garota inicia uma dança e canta no estacionamento, enquanto dá alguns goles na cerveja que ainda segura. Observando a cena, David solta sorrisos disfarçados. Suas amigas ficariam orgulhosas do comportamento dela.
Julia está se sentindo feliz, se transformou em uma pessoa que nem mesmo ela reconhece. No fundo ela deseja secretamente, que aquela garota fique por mais tempo e que aquela alegria permaneça, sem depender mais do álcool.

_ Já chega, Julia! Vamos embora. _ David interrompe a dança e canto da garota, abraçando-a para impedi-la de escapar. _Que belas amigas você tem, não é? Te embriagaram numa boate e desapareceram! Você não é minha responsabilidade entendeu?
_ O rapaz diz, furioso.

_Já disse que não vou para casa. _ Ela grita com voz trêmula, permitindo que o cansaço invada seu corpo, tirando-lhe todas as forças para discutir com o 'playboizinho'."

__ Fique quietinha e permita-me ajustar o seu cinto! Quando chegar em casa, tome um banho e descanse. Amanhã é o seu primeiro dia como vice-diretora na empresa. É isso que você deseja transmitir, senhorita Julia Barreto?
__ Ele diz frustrado.

__ Não me lembre do trabalho, meu futuro chefe é um chato! Mesmo sendo bonito, não muda o fato de que é insuportável.

__ Se o seu futuro chefe fosse tão insuportável como você diz, ele não se importaria em te deixar sozinha na boate, concorda? _ David, liga o carro e encara Julia friamente, enquanto dá um sermão.

__ Você disse que hoje não está aqui como meu chefe, então finja que não estou falando de você.
__ A garota sorri ironicamente e apoia a cabeça no banco do passageiro, buscando a melhor posição para tentar dormir.

Julia não conseguia dar um passo sozinha, porém não se lembrava a última vez que se divertira tanto. Esse prazer todo era resultado de uma bebida e de uma postagem de Henrique assumindo um novo relacionamento, o que tinha ocasionado o término com a outra garota. Desde a separação, Henrique teve vários relacionamentos, e apesar de Julia evitar informações sobre ele, essas novidades sempre acabam chegando até ela, causando-lhe uma dor profunda. Para tentar se distrair, ela decidiu juntar o útil ao agradável: bebida, música e as amigas. Contudo, não dá para ignorar a confusão causada por Edilma e Emily. As amigas de Julia estão insistindo para que ela durma com o chefe. Internamente, Julia amaldiçoa suas amigas pelo que fizeram e promete vingar-se no momento oportuno.

_ A beleza dessa garota é tão intensa quanto sua irritação! O que será que passava pela cabeça do meu pai quando decidiu que eu deveria trabalhar com você? _ Com cuidado, David ajeita a cabeça da garota no banco do carro, permitindo que ela aproveite o suave e delicado perfume presente.

_Isso significa que você me acha bonita?_
_ Pergunta Julia, abrindo os olhos cuidadosamente e sorrindo. David, surpreso, arregala os olhos ao vê-la acordada.

_ Você está delirando, Julia! Deixa eu ver se está com febre? _ provoca o rapaz, tocando o rosto da garota e zombando da situação.
_ Pode ligar para suas amigas para voltarem para casa? Avise que já chegamos, por favor
_ Ele pede desesperado.

_ Acha mesmo que vão atender? Aquelas duas só voltam para casa amanhã de manhã, faltando meia hora para trabalhar. Mas não se preocupe comigo, estou bem melhor. Muito obrigada pela carona. Tenha uma excelente noite! _ Julia abriu a porta do carro, tentando manter a compostura, mas a bebida tinha afetado a moça. Apesar de sua tentativa, ela perdeu o equilíbrio ao dar um passo, resultando em um machucado no joelho.

_Você mal consegue ficar de pé! Deixe-me te ajudar. Suba nas minhas costas, vou te levar para dentro, você não consegue subir nem um degrau assim. _ disse o rapaz.

_ Estou bem, pode ir. _ Gritou a garota, ainda no chão.

_ Você é tão teimosa, Julia, e te odeio por isso.
_ Respondeu David, carregando-a facilmente nas suas costas.

_ Obrigada pela carona, cavalinho. _ Disse Julia, forçando um sorriso.

_ Abra a porta logo, Julia. Pare com essa infantilidade, só quero ajudar! Temos trabalho amanhã e não posso decepcionar meu pai no meu primeiro dia como diretor
_ Insistiu David, murmura com voz trêmula. Seu rosto ruborizado e suando frio denuncia a exaustão de ter carregado a garota até o sexto andar do prédio.

_ Se me soltar, agradeço! _ Ele a solta rapidamente no chão, como se fosse um saco de batatas.
_ Pedi para me soltar, não para me jogar, idiota!

__ Não importa, o importante é que está em casa! Boa noite e faça um curativo nesse machucado do joelho, não se esqueça do alarme para não se atrasar, detesto esperar.
_ Ele diz descendo as escadas devagar.

__ Não preciso de conselhos seus. Vi você bebendo na boate e dirigindo. Você é irresponsável, chefe! Boa noite.
_ Ela grita e entra apressada em seu apartamento.

Vou me vingar de Emily e Edilma! Elas terão o que merecem.

Julia mal conseguia ver claramente, lutando para se manter em pé. O sofá parecia tão distante, a apenas um metro de distância, mas inatingível. O álcool tinha a deixado assim. A garota arrependia-se de cada gole de álcool ingerido durante aquela festa.

Ela deitou-se no chão, deixando a porta do apartamento aberta. Sua mente vagou pelo passado, trazendo lágrimas aos seus olhos... Henrique e tantas memórias. Julia, sonhava em ser uma mulher forte, realizada, com família e superando seu passado.
Quem sabe a terapia pudesse auxiliá-la a entender seus dilemas e obter suporte emocional. No entanto, essa não era a Júlia. Julia Barreto se dedica ao trabalho, simula ser resiliente e busca consolo no álcool para encontrar felicidade.

Como alguém que não vemos há anos pode ter tanto controle sobre nós?

Julia e Henrique perderam o contato. Após terminarem o relacionamento, ela decidiu bloqueá-lo em todas as redes sociais. Embora não fosse a escolha mais fácil, para ela era menos doloroso não vê-lo seguindo em frente e sendo feliz, enquanto seu coração ainda estava preso ao passado, impedindo-a de se envolver com outras pessoas.
Até quando ela se manteria inerte em relação à sua vida? Até quando suportaria viver dessa maneira? Foram dez anos em uma espécie de cárcere de emoções não resolvidas, e nada podia reparar esse dano. A cada dia que passava, a jovem tinha mais certeza de que era preciso agir para superar seu passado.

_ Julia Barreto, por favor, levante-se imediatamente do chão!
_ David, entra no apartamento, deixando a garota em choque.

_ Como você entrou aqui? Eu achei que você já estivesse em casa. Se você não sair, serei obrigado a chamar a polícia. _ A jovem ameaça, lutando para se levantar do chão.

_ Você está tão bêbada que nem percebeu que deixou a porta aberta. E se um psicopata tivesse entrado, o que faria? _ Ele diz nervoso.

_ Eu vejo um psicopata na minha casa e ele se chama David Tarjano. _ Ela brinca, tocando suas bochechas e notando a raiva em seus olhos.

_ Fui à farmácia comprar curativos para o machucado no seu joelho. Não conseguiria simplesmente ir embora e deixar você assim, parecendo um gatinho de rua abandonado.
_ Ele sorri, corando as bochechas.

Com cuidado, David leva Julia até o sofá e acomoda delicadamente sua cabeça no travesseiro.
A jovem observa atentamente aquela cena e questiona-se sobre o que está acontecendo. É surpreendente para ela ver alguém se importando tanto, a ponto de cuidar de seu joelho ferido. A maior surpresa é a identidade desse alguém: por que David estaria demonstrando tanto cuidado por aquela garota? Teoricamente, a relação entre eles deveria ser estritamente profissional, de patrão e funcionária.

O rosto do rapaz está sombrio, o que deixa Julia perplexa, pois não consegue distinguir se ele está cansado ou triste. A falta de conhecimento sobre sua personalidade impede que ela decifre suas emoções apenas pela expressão facial.

Finalmente sucumbindo ao cansaço, David apoia a cabeça em seu ombro e adormece instantaneamente! Julia sente vontade de fazer inúmeras perguntas... Poderia ser que ele tenha se transformado em alguém amável, deixando arrogância no passado.
Acreditar que esse David seja o mesmo que a garota conheceu não seria tarefa simples. No entanto, ela dedicaria energia para compreender os acontecimentos, já que sua vida está confusa o bastante com o peso do passado.