Fuga da Izzy, perspectiva do Jon
06 de junho de 2030-Anacapri, Itália
Entro no quarto de Izzy a sua procura, grito, grito e grito, mas ela não responde, meu coração acelera, mas não me permito ficar ansioso, ela está bem, segura, todos perceberíamos se alguém tivesse entrado ou algo tivesse acontecido, não é? Sim, sim, com certeza. Com esse pensamento sigo a procura de Izzy, quando estou descendo as escadas ouço risadas, me aproximo do corrimão para ver quem está lá, quando olho vejo Isabelle, ela está rindo com o jardineiro e ela então sai em disparada à cozinha, e ele se vira em direção ao jardim de trás, preocupado desço as escadas e vou até o sujeito, ele me vê chegando e seu rosto enrijece
-Vossa alteza-ele me cumprimenta com a voz trêmula
-Jake, né-pergunto e ele assente-O que está acontecendo?
-Não sei se posso te contar, alteza
-Me responda-falo de forma curta e grossa
-Não sei se Isabelle gostaria que soubesse-ele responde hesitante
-Neste momento não importa o que ela quer, importa o que eu quero-seu olhar antes hesitante e manso agora transparece pura raiva, ele me olha como se fosse um soldado protegendo seu país, e que mataria qualquer um para protegê-lo, sua postura muda fazendo um arrepio passar pela minha coluna
-Pois eu discordo, em todos os momentos o que importa é o que ELA quer, primeiro que é a vida dela e segundo que ela manda em você e em todos neste país, então é, o que importa é o que ela quer, sim, hoje e sempre, isso não mudará nunca, a vida é dela, por tanto, é ela quem decide-Jake me responde, agora sem nenhuma formalidade ou respeito que antes havia, entendo o que ele quer dizer e por isso não me altero, mesmo que cada parte de mim peça para que eu responda-o da mesma maneira, respiro profundamente antes de responder, para que minha raiva não transpareça quando eu falar
-Entendo o que quer dizer, Jake-falo de forma calma e pausadamente, percebo seu olhar de surpresa ao perceber que não me alterei-entendo que não me conhece e que quer respeitar minha irmã, sei que da última vez que nos vimos fui extremamente mal educado e sem noção, percebo sua resistência à mim, mas sei que no fundo sabe que só quero o bem dela assim como você, por isso repito, o que está acontecendo?-falo mais calmo agora, para que ela se sinta confortável em me contar a verdade, seus olhos castanho mel revelam surpresa ao jeito que falei, ele hesita, mas então fala
-Estamos indo embora-Jake fala calmo, mas antes que eu consega sequer raciocinar o que ele acabara de dizer ouço sons de passos e risadas baixas, não muito distantes, vindo em nossa direção, viro-me e vejo Izzy vindo, olho para Jake e aceno rápido, então de forma indeliberada saio de onde estava e vou até o jardim para tentar me esconder, alguma coisa em mim me diz para não pará-la, algo me diz que tenho que deixá-la ir, mesmo que cada célula em meu corpo queira protegê-la e impedi-la de fazer algo que possa se arrepender, mas algo em mim me implora para deixá-la ir, essa parte de mim sabe que Izzy não é burra e que nunca faria algo que não fosse o que ela realmente quer, vejo então, derrepente, Isabelle e Jake correndo pelo jardim de mãos dadas, sorrindo, eles então param em frente à escada e se olham, para, então, descerem sem olhar para trás; ver essa cena me traz certo conforto. Há tempos não vejo Izzy tão feliz quanto nos últimos meses, Isabelle sempre foi uma ótima menina, um ótima irmã, amiga, companheira, ela sempre foi risonha, mas depois que Lucca se foi ela perdeu uma parte de seu brilho, ela continuou tentando sorrir diariamente, ela lutou por tanta coisa desde nova, ela sempre teve problemas emocionais e psicológicos, mas mesmo assim ela persistia e sempre sorria, ela podia estar no pior dia dela, mas sempre tentava arrancar um sorriso da gente, eu me lembro de uma vez, ela tinha uns 16 anos, ela estava não só na pior fase de seu transtorno alimentar, mas como da depressão também, por diversas razões é claro, mas me lembro muito bem que ela piorou muito depois que saiu do armário para papá e mamma, estava tão magra que parecia que iria quebrar se a tocássemos, me lembro de chegar no quarto e vê-la dormindo, Lucca estava sentado na cadeira ao lado, uma máquina bipava com seus b.p.m, ela tinha várias coisas injetadas em seu corpo, lembro que cheguei perto dela e ela abriu os olhos instantaneamente, e ali eu consegui ver o quão ruim ela estava, mas também que ela ainda estava ali, ela sorriu para mim e me perguntou “por que choras?”, talvez seja estranho, mas eu não havia percebido que estava chorando até ela falar “não sei” respondi e me sentei devagar na ponta da cama, seus olhos pretos me olhavam profundamente, eles não tinham tanto brilho quanto um dia já tiveram, mas ainda assim brilhavam, ela sorriu e disse “já sei, é porque nunca viu algo tão belo em toda a sua vida” ela riu fraco e eu também, eu não respondi nada, apenas a olhei e ela também não falou nem se mexeu, pouco depois ela voltou a dormir, nesse dia eu percebi o quão forte ele é, mesmo a beira da morte ela ainda conseguia nos fazer sorrir, mesmo naquele estado ela ainda tinha luz, por isso sei que ela é forte, sei que ela tomou a decisão que precisava e por isso sei que também tomei a decisão certa, em deixá-la ir, sei que se a tivesse impedido nunca me perdoaria. Ainda consigo vê-los correndo em direção à liberdade e isso traz um sorriso ao meu rosto e uma estranha sensação de acolhimento, como se estivesse sendo abraçado e alguém estivesse me dizendo que fiz o certo, uma risada de felicidade sai de mim, mas não de mim exatamente, de Lucca, a parte de Lucca que ainda vive em mim está rindo, rindo de felicidade por Isabelle, por ela estar fazendo o que quer e é essa risada que apazigua meu coração, sabendo que fiz a coisa certa e que Lucca concorda comigo.
Depois de um tempo que eles se foram vou para o salão, está bem vazio e a música agora é mais baixa, vejo mamma e papá conversando, resolvo não atrapalhar, me sento então na mesa cheia de comida, comida demais na minha opinião, pego meu celular e automaticamente mando mensagem para Mei, ainda é cedo lá, então sei que ela não irá me responder agora
-Jonas-levanto o olhar para onde a voz veio
-Jenna-guardo o celular olho para Jenna que se senta ao meu lado, ela sorri fraco
-Há quanto tempo não te vejo
-Andei ocupado resolvendo pendências, você sabe-respondo olhando em seus olhos castanhos
-Imagino. Mas e aí? Como andam as coisas com a Mei? Vocês já marcaram de se ver?
-Andam muito bem. Não exatamente, vou ir vê-la em alguns meses
-É mesmo?! Que legal, mande meus abraços à ela-sorrio e ela também, os próximos minutos são silenciosos, não falamos nada, porque não há o que falar, eu e Jenna sempre fomos muito amigos e mesmo quando percebemos que não gostávamos mais um do outro de forma romântica ainda continuamos sendo amigos, ainda conversamos de vez em quando, Jenna parece muito mais feliz depois que terminamos, ela tem um ar mais relaxado, tranquilo, ela sempre fora assim, mas ultimamente tem estado mais; desde que ela soube de Mei ela apoiou e sempre me encorajou a ficar com ela, hoje agradeço imensamente à ela, não sei o que seria de mim sem Mei. Jen se levanta e vai embora junto de seus pais, pouco depois eu também me retiro do salão e subo direto para o meu quarto; coloco o paletó na poltrona e alargo a gravata indo em direção ao banheiro, tiro o resto da roupa e entro debaixo do chuveiro, deixo a água quente cair em meu corpo relaxando meus músculos tensos, saio do banho e me enrolo em uma toalha, no closet pego uma calça de moletom e a coloco, antes de ir me deitar checo o celular, sem nenhuma mensagem, coloco-o para carregar, quando vou me deitar na cama para dormir vejo um papel em minha cabeceira, o desdobro e o começo a ler
“Querido, Jon, não se preocupe comigo, estou bem, estou com Jake, em seu barco, estou indo por vontade própria.
Sei que você deve estar preocupado, mas saiba que não precisa, confio em Jake e sei que ele nunca faria nada para me machucar. Não sei para aonde estou indo, te ligarei assim que puder. Quero te pedir que tome conta de papá e mamma, não se preocupe.
Vou ser sincera, não me sinto tão bem há tempos, sei que estou fazendo a coisa certa, estou finalmente vivendo, como Lucca me pediu. Sinto-o ao meu lado, feliz por mim. Estou indo não por medo do futuro, mas para me conhecer e ser a melhor rainha que conseguir.
PS: Cuide da Lua por mim enquanto estiver fora. Te amo!
Ass:Isabelle”
Sorrio ao ler a carta, ela realmente parecia feliz e bem, estou preocupado, mas feliz por ela, feliz por não tê-la impedido, feliz em saber que fiz a coisa certa, feliz em saber que mudei, o Jon de antes nunca teria deixado-a ir, por medo do que poderia acontecer se não estivesse por perto para ajudá-la se precisasse, mas hoje consigo ver que ela não precisa de mim, que é uma mulher inteligente, não é mais mi hermanita que preciso tomar conta, agora é uma mulher grande e que sabe o que faz, apesar de saber que para mim ela sempre será mi hermanita, sempre tomarei conta dela e a amarei, não importa as circunstâncias, ela sempre será mi hermanita, siempre.
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