CAPÍTULO UM - A SOMBRA DO MANJALEU

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No coração da floresta amazônica, onde a densa vegetação esconde segredos antigos e criaturas misteriosas, erguia-se majestoso um imponente Manjaleu. Uma árvore gigantesca, com raízes que se entrelaçavam como os tentáculos de uma serpente ancestral, e um tronco maciço que se elevava em direção ao céu, desafiando os limites da visão humana. Suas folhas, largas como escudos, formavam um dossel verde que filtrava os raios do sol, criando um ambiente sombrio e enigmático sob sua copa.

Dizia-se que o Manjaleu era o guardião das profundezas da floresta, um ser ancestral que protegia os segredos da natureza com sua presença imponente e sua aura de mistério. Contavam-se histórias antigas sobre os perigos que aguardavam aqueles que se aventuravam sob sua sombra, sobre as criaturas sombrias que espreitavam entre suas raízes e os espíritos antigos que sussurravam nos ventos que sopravam entre seus galhos.

Era sob a sombra do Manjaleu que vivia um velho artesão, conhecido por todos na região como Mestre Joaquim. Um homem sábio e respeitado, que dedicara toda a sua vida ao ofício de fazer gamelas e utensílios de madeira, utilizando os segredos ancestrais que aprendera com os pajés e os sábios da floresta. Mestre Joaquim era um guardião dos saberes tradicionais, um mestre na arte de moldar a madeira e um protetor dos segredos do Manjaleu.

O destino de Mestre Joaquim se entrelaçou com o da árvore mística numa tarde quente de verão, quando três estranhos cavaleiros chegaram à sua humilde casa na clareira. Montados em magníficos cavalos negros, os cavaleiros pareciam saídos de um conto de fadas, com suas capas esvoaçantes e seus olhares penetrantes.

O primeiro cavaleiro, um homem alto e imponente, aproximou-se de Mestre Joaquim com um sorriso misterioso nos lábios.

"Boa tarde, Mestre Joaquim", disse ele, sua voz ecoando como o rugido distante de um trovão. "Viemos em busca de algo valioso que sabemos que você possui."

Mestre Joaquim ergueu as sobrancelhas, surpreso com a ousadia dos estranhos. "E o que seria isso, senhor?"

O cavaleiro sorriu ainda mais, revelando fileiras de dentes brancos como pérolas. "Suas filhas, Mestre Joaquim. Sabemos que você tem três filhas de rara beleza, e estamos dispostos a oferecer uma recompensa generosa por elas."

O coração de Mestre Joaquim gelou diante das palavras dos estranhos. Ele olhou para suas filhas, três jovens donzelas de cabelos negros como a noite e olhos tão profundos quanto o abismo. E então, com um suspiro resignado, ele soube que não tinha escolha.

"Lamento, senhores, mas minhas filhas não estão à venda", disse ele, com a voz firme apesar do medo que sentia.

Os cavaleiros trocaram olhares sombrios entre si, e o primeiro cavaleiro ergueu uma sobrancelha em desafio.

"Tem certeza disso, Mestre Joaquim? Não gostaríamos de ter que recorrer a medidas drásticas."

Mestre Joaquim sentiu um arrepio percorrer sua espinha, mas permaneceu firme em sua decisão.

"Estou certo", disse ele, com a voz mais firme do que nunca. "Minhas filhas não estão à venda."

Os cavaleiros trocaram um olhar significativo, e então, sem dizer uma palavra, partiram galopando pela trilha que levava à escuridão da floresta.

Mestre Joaquim observou-os partir, com o coração pesado de preocupação. Ele sabia que não seria a última vez que os estranhos viriam em busca de suas filhas, e temia o que poderia acontecer se não conseguisse protegê-las.

Enquanto isso, nas profundezas da floresta, algo antigo e maligno despertava sob a sombra do Manjaleu. Uma criatura ancestral, cujo nome era sussurrado em temor pelos habitantes da região: o Manjaleu.

O Manjaleu era uma entidade antiga, um guardião das trevas que habitava as profundezas da floresta há séculos. Dizia-se que sua forma era tão antiga quanto as raízes da própria árvore, e que seu poder era tão vasto quanto os segredos da floresta.

Ninguém sabia ao certo como o Manjaleu surgira, nem por que havia escolhido aquela região como seu lar. Alguns diziam que era o espírito de um antigo feiticeiro, condenado a vagar pelas sombras da floresta por toda a eternidade. Outros afirmavam que era o guardião de um tesouro perdido, uma relíquia ancestral escondida nas profundezas da terra.

Mas uma coisa era certa: quem ousasse desafiar o Manjaleu estava fadado a sofrer as consequências de sua ira implacável.

Enquanto Mestre Joaquim ponderava sobre o destino de suas filhas, o Manjaleu observava silenciosamente de seu posto de vigia nas profundezas da floresta. Seus olhos brilhavam com uma luz sinistra, e sua presença era como um manto de escuridão que envolvia tudo ao seu redor.

E então, com um estalar de galhos e um sussurro de folhas, o Manjaleu começou a se mover. Suas raízes se contorceram como serpentes, seus galhos se estenderam como garras afiadas, e sua sombra se espalhou como um véu de trevas sobre a floresta.

Mestre Joaquim sentiu um calafrio percorrer sua espinha quando viu a sombra do Manjaleu se aproximando de sua casa. Ele sabia que não podia fugir, que não podia se esconder da criatura ancestral.

Conto - O Bicho ManjaleuOnde histórias criam vida. Descubra agora