Capítulo 4

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Bati a porta com força atrás de mim, produzindo um barulho alto para demonstrar que não havia gostado de ser encurralada. Aquela atitude de Alec me deixou preocupada. Qual era o motivo da desconfiança? Não havia razão aparente para isso, especialmente em tão pouco tempo. Tentei puxar na memória se tinha cometido algum deslize que justificasse, mas não cheguei a nenhuma conclusão. Cogitei a possibilidade de ligar para Ethan, mas desisti. Não iria entrar em contato por um desentendimento infundado, e logo eu resolveria. Deitei-me na cama esperando o banheiro ser desocupado pelas minhas vizinhas, me distraindo com um dos livros obrigatórios da faculdade.

Eu tinha desistido de resistir. Meu lábio doía por conta do tapa que levei ao morder o indicador do homem com força, quando ele tentou enfiar o dedo na minha boca. Agora ele me obrigava a sentar em seu colo, me mantendo dominada com um de seus braços grandes que me segurava pelos ombros, colando minhas costas no seu peito. Ele cheirava e babava na curva do meu pescoço, fazendo meu estômago revirar, a náusea tomando conta de mim com o toque dele e o som repulsivo de sua respiração enquanto massageava seu membro por cima da calça.

Lágrimas solitárias e grossas desciam pelo meu rosto. Eu controlava as fungadas do meu nariz entupido, ciente de que levaria mais tapas e socos se chorasse muito alto. O homem alto e rechonchudo que me segurava não parou quando outro homem entrou na sala, observando a situação com um olhar divertido. Ele se serviu de uma bebida e começou a separar alguns papéis, como se nada de anormal estivesse acontecendo.

O horror da situação me sufocava, a impotência me consumindo. Cada segundo parecia uma eternidade enquanto eu sentia o toque repulsivo dele, o som de sua respiração, o cheiro de sua pele. Meu corpo estava paralisado pelo medo e pela dor, e a esperança de escapar se esvaía a cada momento que passava.

— Solta a garota, já falei que não pode provar o produto, abaixaria o preço dela. — Falou ao homem que me segurava, que gemeu em frustração antes de me soltar. Eu corri para o outro lado da sala, fungando longamente enquanto tentava respirar. Minha garganta estava inchada de tanto gritar e chorar. Eles falavam em inglês, acreditando que eu não entendia por ser italiana. Não fiz questão de desmentir esse equívoco; mamãe sempre dizia que conhecimento era poder.

— Ele não vai fazer nada com você, garotinha. Agora vem aqui e decora esses números, rápido. — Falou comigo, dessa vez em um italiano forçado. Mordi o interior da bochecha, que já estava áspero de tanto mordê-la de nervosismo, e limpei as bochechas molhadas. Andei com passos receosos em direção à mesa no centro do escritório.

— Como ela faz isso? — O homem que me obrigava a ficar no colo perguntou em inglês.

— Essa pequena garotinha aqui tem uma memória perfeita. — Disse triunfante, apertando meus ombros e fazendo um carinho amigável enquanto eu me concentrava na sequência de números. Eu não sabia o significado, mas me lembraria de cada ponto perfeitamente mais tarde. — O pai a perdeu numa mesa de jogo. Muito burro, o homem. Essa cabecinha aqui... — Ele fez um carinho nos meus cabelos. — Bem treinada, faria milhões num cassino. Ela lembra absolutamente de tudo, e só tem sete anos. — Ele me lançou um sorriso amigável, me incentivando a continuar.

A situação era surreal, e o medo pulsava em minhas veias como uma corrente elétrica incessante. Eu olhava para os números tentando me concentrar, mas as lágrimas continuavam a escorrer silenciosamente pelo meu rosto, enquanto eu suava em nervosismo. A mão dele nos meus ombros parecia queimar, cada toque um lembrete de minha vulnerabilidade.

— E por que vai se livrar dela? — Aquilo fez meu coração parar por um segundo.

— Apesar de divertido brincar com a memória dela, é mais um problema que uma solução. Nas mãos erradas, ela é um perigo para a gente. Mas eu consegui um bom preço por ela com aqueles pervertidos russos. — O homem sentado concordou, sacando a arma de repente e atirando em um homem que arrombou a porta e entrou junto com três homens.

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