4. Lucas

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Nos últimos meses, me escondi de tudo que pude. Recebi alguns convites para eventos e festas, mas eu não queria falar sobre minha vida íntima para os jornalistas. Eles só sabiam perguntar sobre isso e nem parecia que eu estava prestes a protagonizar uma das maiores séries do mundo em breve.

Para completar, Juliana já havia anunciado um novo relacionamento e estava circulando pela cidade de mãos dadas com o novo namorado. O cara com quem ela me traiu. 

Estava tudo uma bagunça, minha ansiedade subindo pelas paredes e eu não queria ver ninguém. Reuniões sociais estavam fora de cogitação. Falar com meus pais, Beto e minha terapeuta já estava exigindo muito da minha saúde mental.

Comecei a zapear a TV em busca de qualquer coisa que  esvaziasse minha mente, quando ouvi o celular apitando na bancada da cozinha. Tinha dias que até mesmo levantar do sofá e dar cinco passos até o outro cômodo era difícil.

A mensagem era no grupo do elenco da série e eu não queria ter que recusar mais um convite. Larguei o celular na bancada sem nem olhar qual marca fenomenal daria uma nova festa imperdível, com mais bebidas e glamour! Eu realmente não precisava disso.

Fiquei parado olhando para o nada por mais tempo do que planejei... me perdi em tantos pensamentos que nem sei direito para onde fui. Quando olhei novamente para o celular, o grupo já somava mais de 100 mensagens. Como eles conseguiam falar tanto, em tão pouco tempo?

Meu celular começou a tocar. Estavam me ligando agora. 

Revirei os olhos e olhei novamente para o visor. Era Natalia.

Eu não falava com ela há meses. Não me lembrava da última vez em que conversamos sobre qualquer coisa. Naquele último dia de filmagem, lembro de ter ido ao pub com Beto, beber até cansar e ser arrastado para o quarto do hotel da produção. No dia seguinte, acordei cedo, pedi um carro e vim direto para casa. Desde então, evitei a cidade e todos os seus holofotes.

O telefone tocou por tempo demais e ela desistiu. Não ligou mais.

O silêncio estava acabando comigo. Minha mente tinha mais vozes e questionamentos do que eu poderia conter. Eu não aguentava mais aquela caverna que tinha me enfiado. Era muito injusto que toda a dor e sofrimento daquele relacionamento tivesse ficado só comigo. Juliana já estava feliz, tinha virado a página. E eu aqui, num buraco de tristeza e solidão.

Shakespeare, certamente, morreria de rir de mim.

"Chega!" - gritei para ninguém além do silêncio ouvir.

Peguei meu telefone, aquela melancolia insuportável tinha que acabar.



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