Capítulo 1

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— Mas, Elain, por quanto tempo mais você pretende continuar sendo professora? — Leora Allen questionou Elain enquanto as duas caminhavam lado a lado até a casa de chá da madame Abbot que ficava no fim da rua.

— Honestamente eu não tenho um prazo, talvez por mais dez anos, talvez para sempre. — Elain deu de ombros, como se o assunto fosse tão irrelevante quanto falar sobre o clima.

Não era a primeira vez que elas tinham aquela conversa, mas há muito tempo Elain desistiu de entrar em um debate mais longo sobre as suas decisões de futuro com Leora, a mulher podia ser tão teimosa quanto Nestha.

— Elain, pelo céus, você não está ficando mais jovem! Quando deixará de cuidar dos filhos dos outros para cuidar dos seus próprios? — Leora a encarou com exasperação, balançando a cabeça loura e brilhante presa em um coque bem feito.

Elain apenas se dignou a olhar para Leora de canto de olho e abrir um pequeno sorriso, avistando logo a frente a fachada elegante em dourado e azul da casa de chá. Leora, uma jovem mulher humana na faixa dos trinta anos, casada desde os dezoito anos e com cinco filhos para criar, realmente não era capaz de entender como uma mulher em idade fértil não poderia estar casada e com pelo menos dois filhos a tiracolo.

No entanto, Elain suspeitava que a amiga de longa data tinha tendências a esquecer quem Elain era por trás da fachada de tutora e professora primária da escola local. Elain tinha certeza que a senhora Allen esquecia em meio aos cuidados diários e exaustivos dos cinco filhos, quatro meninos e uma menina, que Elain não era mais tão jovem quanto a sua aparência dizia, que por baixo do coque estrategicamente alinhado, existia orelhas pontudas de feérico e que entre a espécie dos féricos ter pelo menos um filho já era raro, quem dirá "filhos", sua irmã Feyre era uma exceção, claro.

Elain não conseguia ficar brava com Leora, cinquenta anos depois da guerra com Hybern, apesar de a tecnologia e o conhecimento humano ter avançado a tal ponto que o uso de carruagens se tornou quase obsoleto, sendo substituído por automóveis barulhentos e espaçosos, algumas coisas permanecem iguais, e uma delas era que uma mulher solteira, empregada e que não tinha pretensões de casamento era uma ideia quase tão insana quanto andar sem roupas no inverno. Era assim que a sociedade humana pensava, era assim que Elain pensou uma vez, há tanto tempo que até parecia um sonho distante. Além disso, não havia maldade nas palavras de Leora, apenas genuína preocupação com o futuro e a reputação de Elain, mesmo que isso não fosse mais tão importante para ela como um dia foi.

— Tenho noção de que não estou ficando mais jovem, Leora, mas não esqueça que eu tenho toda a eternidade para ter meus próprios filhos e casar, por isso não tenho pressa e você também não deveria ter. — Mesmo que a ideia de casamento estivesse no final da lista de metas de Elain, ela não mencionaria tal fato, Elain não queria prolongar muito mais aquela conversa.

A verdade é que ela nem ao menos sabia se um dia iria chegar a ouvir a marcha nupcial sendo tocada em seu próprio casamento, mas isso ela não diria a Leora, nem hoje e talvez nunca. Elain levou uma das mãos involuntariamente à orelha direita, um mau hábito que ela havia adquirido ao longo dos anos, mas ela baixou a mão logo em seguida, tentando ignorar o estranho peso que os seus pensamentos haviam deixado no coração dela. Elain já havia decidido que o casamento não seria uma prioridade e ela estava bem com isso. Sim, Elain assentiu internamente, ela estava.

— Por favor, Elain, não diga absurdos. — Leora exclamou fazendo beicinho enquanto ambas eram recebidas pelo cheiro inconfundível de café, chá e açúcar da loja de madame Abbot, o aroma familiar preenchendo os pensamentos de Elain de ansiedade em comer sua dose diária de doce — Eternidade é tempo demais, quero estar viva para vê-la casada. Sinceramente, às vezes esqueço que você não é como nós — Leora resmungou a última parte, mas Elain foi perfeitamente capaz de escutar.

A Corte RenasceWhere stories live. Discover now