Naquele Solstício de Inverno

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Um erro.

Bom, aquelas duas palavras nunca fizeram tanto sentido para Elain. Ela bufou sozinha, névoa saindo de sua boca devido ao frio.

Ela ainda estava parada, pouco ousando se mover, as mãos cerradas em punho ao lado do corpo e a área entre as pernas dela ainda úmida, a sensação era humilhante por si só.

Elain conseguia sentir o cheiro da sua excitação e o corpo sensível pelo desejo despertado, ela ainda podia sentir as mãos dele passeando pelo corpo dela, mas de repente tudo acabou. Azriel simplesmente se foi, a abandonou sozinha como se tivesse percebido que estava cometendo o maior dos pecados.

Afinal, Elain pensou quando finalmente teve força de arrastar os pés até a beira da sacada, talvez a interrupção tivesse sido o certo a se fazer. Um erro, Elain suspirou novamente enquanto apertava com força o parapeito que a separava de cair no abismo estrelado de Velaris. O metal estava gelado sob os dedos dela, esfriando o seu corpo super aquecido junto com o vento gelado.

O colar que Azriel havia lhe dado pressionava a pele do seu colo como uma lembrança, uma lembrança que poderia ter sido boa, se não fosse trágica. Elain cuidadosamente o tirou do pescoço e passou os dedos pelos vitrais da rosa, era realmente linda, mas não era certo que permanecesse com ela, não depois daquilo.

Elain afastou desesperadamente as lembranças que a rejeição de Azriel evocava do fundo da mente dela, de um local que ela não queria mexer tão cedo, talvez nunca. Ela não pensaria nele, não, não, Elain balançou a cabeça em um quase completo desespero para afastar o nome dele da mente dela. Ela apertou o colar com força e o guardou no bolso do vestido e se concentrou em respirar, uma respiração de cada vez, ela havia aprendido que respirar devagar ajudava a mandar a sensação sufocante embora.

Elain pensou em Nyx, no lindo rostinho de sorriso raro, mas que ela teve a honra de presenciar, ela pensou nos cabelos pretos e sedosos e no cheirinho de bebê. Ela engoliu em seco e soltou a respiração aos poucos, sentindo o coração se acalmar, ela sentia os pensamentos intrusivos recuando aos poucos, bem lentamente, até que ela precisasse lidar apenas com o vazio que insistia em ser seu companheiro desde o Caldeirão. 

Elain sentiu uma lágrima solitária escorrendo pela bochecha e não fez questão de limpá-la. Por que tudo tinha que ser tão difícil? Por que ela não conseguia seguir em frente como as suas irmãs? Ela queria, não queria? Mas parecia tão errado, sua mente sussurrou de volta.

Elain apenas... Ela apenas queria que tudo voltasse a ser com um dia foi, sem Velaris, sem féericos, sem laços de parceria e sem poderes que a atormentavam dia e noite. Ela estava cansada de sentir como se as paredes estivessem a sufocando a cada vez que ela respirava.

Azriel não poderia ter descrito tão bem o caos que era a vida de Elain desde que a mãe dela, Lady Jane Archeron, morreu há anos atrás.

Elain erroneamente pensou que as coisas começaram a dar errado quando a mãe dela faleceu, mas olhando para imensidão estrelada e nevada da cidade dos sonhos, Elain sabia que as coisas haviam saído verdadeiramente do controle quando Feyre matou o maldito lobo feérico.

Se Elain pudesse voltar no tempo, ela certamente não condenaria as suas duas irmãs a uma vida miserável e medíocre na antiga vila delas. Não, não era esse o ponto dela, mas se Elain pudesse verdadeiramente voltar no tempo, ela fugiria e convenceria o pai dela a ir para muito, muito longe junto com ela.

Elain riu sem humor com o pensamento egoísta e covarde, o som rapidamente se dissipou no silêncio da noite. Talvez Azriel estivesse certo, ela não valia a pena. Elain não pertencia àquele mundo, não de verdade. Ela poderia apostar que nunca pertenceria a ele completamente e o Mestre Espião merecia muito mais do que uma abominação da natureza covarde e com mais problemas do que ela poderia contar.

Olhando para os reflexos dourado e prata que a cidade produzia no rio Cidra, Elain refletiu que se ela pudesse ter tido a oportunidade de fugir com o seu pai para um mundo distante e bem longe da confusão que o sobrenome Archeron proporcionou a ela, a única coisa desse mundo que realmente partiria o coração dela, seria deixar o pequeno Nyx para trás.

Elain sorriu verdadeiramente ao pensar na pequena estrelinha que era o seu sobrinho, e ele era uma das poucas coisas, se não a única coisa a qual ela gostava, não, amava na sua nova vida.

Ela deixou as mãos caírem ao lado do corpo novamente, resignada, não havia como fugir ou voltar no tempo, ela era o que era agora e para sempre, seria tolice desejar algo tão completamente impossível.

Elain absorveu toda a completude da beleza de Velaris, ela deveria sentir algo, qualquer coisa que não o frio oco e vazio dentro do seu coração ao olhar para cidade, mas ela só conseguia registrar que era bela, mas não realmente admirar e apreciar o que estava bem diante dela.

Aquele lugar foi rigorosamente cultivado, protegido e preservado. Foi um pequeno refúgio que passou cinquenta anos preservado dos olhos de Amarantha. Até que se tornou o lar da sua irmã, e ela o protegeu com unhas e dentes como havia feito com ela e Nestha. Velaris era um pequeno milagre, um sobrevivente de guerra que poucas pessoas de fora poderiam ter o privilégio de conhecer, no entanto, a única coisa que Elain desejava era correr. Correr para o mais longe que conseguisse, até que ela pudesse esquecer quem ela era e o que a vida dela havia se tornado.

Elain deu as costas para a cidade de luz estelar e foi em direção às escadas, mas antes, ela colocou o colar de Azriel na pilha de presentes dele. Ela subiu as escadas em direção ao seu quarto, um lugar que ela ainda estava tentando assimilar que era seu agora e pelos anos seguintes da sua vida imortal, e não se atreveu a olhar para trás.

Quando Elain finalmente entrou dentro dos seus aposentos, ela fechou quase silenciosamente a porta de madeira escura e pesada atrás de si, apenas um suave click indicava que alguém havia entrado. Elain se encostou na porta logo em seguida.

O quarto dela era lindo, amplo e com tudo que uma garota gostaria de ter, uma cama generosamente grande de dossel, um guarda-roupa recheado com roupas bonitas e caras, e uma penteadeira cheia de produtos para a pele e cabelo. No entanto, Elain sentia que nada daquilo a pertencia de verdade, e se ela realmente pensasse sobre isso, realmente nada era dela, mas sim de Rhysand, de Fayre e da corte Noturna. Ela sentia falta imensamente de casa.

Qual casa? A voz dentro dela zombou de seus pensamentos ignorantes.

Elain não sabia. A casa da infância dela? A cabana da adolescência? Ou a mansão que o dinheiro feérico havia comprado para ela e suas irmãs morarem? Elain fechou os olhos, encostou a cabeça na porta e respirou fundo, o cheiro do seu próprio quarto parecendo completamente errado e desconhecido.

Um erro, Azriel havia dito. Sim, tudo aquilo era um tremendo erro, Elain só não fazia ideia se ela poderia algum dia consertá-lo ou se era um dano irreparável. Ela também não sabia como iria descobrir qual das duas opções a vida dela havia se tornado, no momento ela só queria dormir e esquecer por alguns momentos de que agora ela era Elain, a grã-féerica.

Ela riu depreciativamente de si mesma, seria um milagre se ela conseguisse dormir uma noite completa sem que as visões que a perturbavam desde que ela saiu do Caldeirão, não a afogassem em terrores noturnos. Seria assim, então, paz e esquecimento não seriam uma opção, não para ela.

Não pela primeira vez desde que renasceu do Caldeirão, Elain se sentiu completa e imensuravelmente, vazia de propósito ou qualquer significado de vida. 

A Corte RenasceWhere stories live. Discover now