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Minha semana havia começado completamente bem. Mamãe e papai tinham retornado da viagem à Espanha, e como sempre costumavam fazer, trouxeram presentes para Julia e eu. Ela havia ganhado um kit daquelas canetas caras da marca Stabilo (já que era bastante obcecada por manter seus estudos extremamente organizados), e um diário. Ela adorava escrever tudo sobre seu dia a dia naqueles livros estúpidos.

Eu vivia sentindo muita, muita vontade de dar uma olhada, mas sempre conseguia me conter a tempo. Talvez porque parte de mim pensasse que alguém como ela nunca teria segredos interessantes o bastante para se revelar.

Afinal, Julia não passava de uma nerd certinha e careta.

Tinha certeza de que o pior crime da vida dela seria algo como "Aí, meu Deus. Eu tirei B na prova de hoje". Ou, em um caso mais extremo "Sem querer, pisei na patinha do Nick. Estou me sentindo muito mal por isso".

O meu teria algo como "Hoje, num dia da semana comum, o corpo da minha irmã mais velha foi esquartejado... por mim. Tenho tomado muito cuidado para não descobrirem o que eu fiz, mas os policiais iniciaram uma investigação e estão motivados a encontrar o corpo de Julia".

Bem, fico extremamente grata pelo fato de nunca ter me interessado por diários.

De qualquer forma... de presente para mim, meus pais haviam trazido uma caixa de chocolates importados e um gracioso ursinho de pelúcia.

Eu o chamei de Andrew, é claro.

Ele tinha uma tonalidade que misturava verde, azul claro e uma pitada de bege. Segurava uma rosa vermelha em mãos e era muito, muito gostoso de abraçar. Passava uma energia de atormentado, assim como o Andrew da vida real. Então, é claro que eu me apeguei a ele como numa daquelas situações de amor à primeira vista.

Seria a minha nova pelúcia preferida, a qual eu não conseguiria mais desgrudar enquanto estivesse dormindo.

Antes do Andrew, minha preferida era Willow, um coelho vermelho que segurava uma guitarra amarela em mãos.

Eu tinha uma coleção de pelúcias excessivamente grande, já que meus pais traziam um a cada viagem nova. Eu também adorava ir ao fliperama e tentar capturar novos filhos naquelas máquinas velhas. Era difícil, mas eu já tinha conseguido pegar quatro.

— Ah. Mãe! Pai! É verdade — Julia se levantou do sofá, como se tivesse acabado de se lembrar de algo — Vocês falaram que estão precisando de funcionários novos, agora que a loja vai abrir de novo, né? Eu tenho um amigo que está procurando por um emprego.

— Um amigo? — Meu pai entrou em imediato estado de alerta — Quem é esse amigo?

— Poderia nos apresentá-lo, querida? Nós pretendemos reabrir a loja na segunda, mas seria realmente muito bom se conseguíssemos contratar alguém antes disso. Tem muita coisa pra arrumar na loja, e nós vamos receber um caminhão enorme de produtos.

— O nome dele é Andrew. Ele é novo na cidade — assim que Julia disse isso, também entrei em estado de alerta — Ele está na mesma faculdade que eu, mas faz um curso diferente. Me avisem quando decidirem se vão contratá-lo ou não, assim eu já informo ele. Acho que deve ser difícil se mudar para uma cidade como a nossa, já que é tão complicado arrumar emprego, considerando a quantidade quase inexistente de vagas.

— Acha que ele é um bom funcionário? Como é a personalidade desse cara? Ele usa drogas? Já tentou dar em cima de você? — papai realmente não gostava da ideia de nos ver próximas do sexo masculino.

— Não sei muito sobre ele, mas ele é um cara bem quieto. As notas são ótimas.

— Está decidido! — exclamou minha mãe — Nós vamos contratá-lo. Ju, avise o garoto para ir amanhã de manhã à loja. Querida, será que você pode ensinar para ele o básico? Nós realmente estamos meio atolados de serviço.

𝐎𝐁𝐒𝐄𝐒𝐒𝐄𝐃 𝐖𝐈𝐓𝐇 𝐘𝐎𝐔, andrew gravesOnde histórias criam vida. Descubra agora