16 - Uma noite sombria

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— O que houve? Você não parecia com fome.

Ouvir o amigo falar subitamente o pegou desprevenido, o que resultou em longos segundos de silêncio enquanto ele organizava os pensamentos para responder. Mas após perceber que pensar não o ajudaria a responder, apenas disse a primeira coisa que passou pela cabeça.

— Não sei.

— Ah, então— O amigo girou e o observou. Era uma visão interessante, vestido dos pés à cabeça com roupas limpas e intactas, e sem ostentar armas. Ele parecia uma alucinação em meio ao caos. Atrás dele a paisagem era medonha, os carros destruídos, o chão repleto de traços de sangue seco e antigo, os prédios em ruínas. O dia nublado apenas deixava tudo ainda mais fantasmagórico. — Você não devia carregar uma arma?

— E você não deveria comer? — o amigo rebateu.

Às vezes aquela amizade drenava sua paciência e ele tinha que se esforçar para simplesmente não acertar a cara do amigo.

— Vamos voltar, vai anoitecer logo — foi tudo que respondeu.

Eles estavam andando em meio às ruas quando as primeiras gotas de chuva começaram.

— Ah, cara — ele suspirou e encarou o céu, tão escuro e denso, em outro momento ele teria apreciado a visão.

— Corrida até em casa? — o amigo perguntou.

— Vamos chegar encharcados — ele pontuou.

— E desde quando isso importa?

Ele observou os cabelos escuros do outro, as mechas já chegavam até a gola da camisa, que logo iriam ficar encharcados pela chuva.

— Vamos. — respondeu lentamente.

Eles haviam passado o dia caçando, e embora tenham encontrado poucos animais, foi o suficiente. Claro que, enquanto ele tentava mirar a balestra nos animais, o amigo resmungava sobre aquilo ser cruel, e sobre o desaparecimento do cão; ele se perguntava o que ele tinha que fazer para convencer o outro a superar a perda do cachorro.

Não demorou para que eles fossem tomados pela tempestade, mas era irrelevante, pois já estavam próximos ao presídio.

Ele estava prestes a comentar na má sorte deles quando ouviu os disparos.

— Isso é...? — ele não conseguiu falar, enquanto encarava o presídio à distância.

— Alguém entrou lá — o outro respondeu e se colocou a correr.

Claro que ele não esperou mais um disparo, e em um milésimo ele já estava correndo em direção ao prédio.

— Vamos pelos fundos — o amigo disse enquanto o puxava pelo pulso.

Os disparos cessaram pouco tempo após eles colocarem os pés dentro do prédio. Tinha rastros de sangue e cartuchos de balas no chão.

— Não são infectados — observou.

— Pior ainda — o amigo respondeu enquanto segurava a mão contra a boca e nariz. — Tá sentindo isso?

— Eles têm coragem de invadir prédios desse lado da cidade.

— As hordas de infectados não foram o suficiente para afastá-los? — ele quase conseguia escutar as engrenagens funcionando na cabeça do amigo.

— Deve ser outro grupo, não seriam tão burros assim — Ele disse enquanto caminhava pelo local. — não é...?

— Você acha que eles chegaram às celas?

— Não... — ele sussurrou, e o medo percorreu pelas veias dele. Estava correndo pelos corredores do presídio antes que pudesse notar.

Sangue, Presas e Garras: A CURA [TAEKOOK]Onde histórias criam vida. Descubra agora