12 - Estrategistas

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   Ele tentava montar um quebra cabeça  (que havia pego numa loja na última vez que esteve em Seul, ele ainda não era acostumado com isso, parecia roubo, mesmo depois de tanto tempo após a pandemia). O problema era que o quebra cabeça era mais difícil do que ele imaginava e ele estava quase desistindo e indo reler Um Conto de Duas Cidades, era seu livro favorito e ele pedia a Deus que nunca ficasse cansado de ler, embora ele soubesse que em algum momento isso iria acontecer.

   Ele ouviu passos, ergueu os olhos e, através das barras da cela em que ele estava, viu alguém se aproximar.

— O dia está bonito, não é? —  ele deixou o quebra cabeça em segundo plano e perguntou ao amigo quando o viu entrar na cela. 

       Ele gostava de observá-lo, às vezes o outro era calmo e quieto como uma serpente, mas ultimamente estava inquieto. E naquele momento ele sentava-se numa cadeira e descansava a cabeça nas mãos, algumas mechas escuras escapavam por entre os dedos.

— Nem tanto... poderia estar mais bonito...

— Você vai encontrá-lo — respondeu, ele queria confortá-lo mas sabia que não era capaz. Seu amigo carregava tanto peso e infelizmente ele não conseguia ajudá-lo, e agora ele tinha mais um motivo para ficar infeliz.

— Eu não sei, não vou criar expectativas — disse e então suspirou — ele estava comigo desde o início... é como se eu tivesse perdido meu melhor amigo.

— Achei que eu era o seu melhor amigo — brincou. 

— Bom, ele era um cachorro, meu amigo cachorro — suspirou, pensou e então continuou — você é meu amigo humano e-

    Ele parou a frase e os dois se encararam rapidamente, e ele viu a sombra de um sorriso no rosto do amigo. Claro, humano era uma palavra que não fazia muito sentido.

— Vamos achá-lo— ele tentou reafirmar, sorrindo de volta. — Ele é um cachorro esperto, pode estar vivo.

       O outro suspirou lentamente e se aquietou na cadeira.

     Ele queria perguntar ao outro por quanto tempo ficariam na cidade, não era comum que permanecessem no mesmo lugar por mais de um mês, mas agora pareciam estar presos ali. Ele não queria pensar naquilo, mas o alimento estava escasso naquele local e isso o deixava preocupado.

       Estava prestes a dizer algo quando eles escutaram um estrondo em outra cela no fim do corredor, talvez se abrigar num presídio tinha seus prós e contras. Dormir numa cela era seguro, mas não havia privacidade alguma ali, principalmente acústica.

— Ele está agitado hoje não é? —  seu amigo perguntou, e ele teve que erguer os olhos do quebra cabeça novamente para encarar o outro. — deveria soltá-lo, ele iria gostar de andar um pouco.

— Não — balançou a cabeça rapidamente.

— Por que não?

— Não posso perdê-lo — disse por fim —  ele é tudo o que eu tenho.

— Assim como o meu cachorro?

— Ele não é um cachorro! — respondeu irritado e abandonou o quebra cabeças.

— Mas... — o amigo respondeu lentamente —  ele está preso como um.



       Mingyu estava sentado na cama e olhava para fora, através da janela. O céu estava cinza lá fora, o inverno se aproximava mais e mais, ele gostava do inverno (apesar de ficar resfriado quando a temperatura caía).  Ele demorava até seguir o ritmo da estação e no momento em que ele finalmente se acostumava com o frio e os dias se tornavam confortáveis, o inverno de repente ia embora e ele precisava se acostumar com o calor novamente.

Sangue, Presas e Garras: A CURA [TAEKOOK]Onde histórias criam vida. Descubra agora