Nunca soube o que é um maremoto. Seria um terremoto na areia ou debaixo da água? Ou seria a água que treme? Não é um mistério tão grande; qualquer um pode saber o que é um maremoto. Mas talvez - ou com certeza - a graça esteja em nunca saber, em esperar que, em um dia qualquer, o maremoto me atinja violentamente, com sua água furiosa. Também pode ser que não tenha água. Muitas coisas parecem outras coisas.
Talvez o maremoto seja uma ilhazinha, cheia de maremotozanos que falam maremotês e veem o sol se pôr na única pequena praia de lá. Pode até ser que cultuem um Deus de areia assada ou espuma do mar.
Mas, se algum dia o significado da palavra maremoto for descoberto, a ilhazinha deixará de existir. Já pensou para onde todos vão? Talvez morram afogados, talvez achem que o Apocalipse e o Deus espuma virá salvá-los. Pessoas como Aurélio acham importante saber o significado de muitas palavras, mas talvez a graça seja não saber.
Afinal, o que seria dos pobres moradores de pequenas ilhazinhas se todos soubéssemos muito? Sempre que pensar em maremotos, vou lembrar das ilhazinhas, de seus moradores e do seu Deus de espuma. Ou seria de areia assada?
