Capítulo 10

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Com a respiração entrecortada e o coração batendo descontroladamente, eu olhava fixamente para a mão estendida de Seo-jun. Naquele momento, naquela sala que parecia congelada no tempo, só conseguia enxergar ele e eu. As vozes distantes das pessoas que ali estavam e o zumbido das luzes do estúdio pareciam desvanecer enquanto meu mundo se reduzia à decisão que tinha diante de mim.
- Você tem noção do que está escolhendo? Minha voz tremia com a gravidade da situação.
Os olhos de Seo-jun capturaram os meus com uma intensidade que me fez tremer. Ele respirou fundo, como se estivesse procurando cada palavra antes de respondê-las com sinceridade.
- Ari, eu não sei o que nós espera depois que sairmos daqui, mas não posso deixar as cenas se repetirem de novo, então não quero estar em nenhum outro lugar além deste que estou agora. Se isso significa cair em um poço sem fundo, eu estou disposto a me arriscar.
Seo-jun segurou minha mão com delicadeza, transmitindo uma sensação de segurança que eu precisava desesperadamente naquele momento.
Antes que pudéssemos sair da sala, Doyoon se aproximou com uma expressão séria e preocupada, barrando a porta. Ele olhou para Seo-jun. Fiquei apreensiva, a angústia e ansiedade que estava sentindo estavam frente a frente nesse momento, a presença de Doyoon ali me atormentava, o que ele iria fazer, o suspense me matava pouco a pouco, será que irá me levar até a minha mãe, fazendo assim a vontade dela? Foram apenas segundos de silêncio mas que para mim se tornava uma internidade, até ele soltar as palavras.
- Seo-jun... Cuide dela. Com calma e os olhos brilhando, ele se vira para mim continuando sua fala.
- Ela é importante para nós. Meus olhos estavam transbordando, já não tinha forçar para segurar mais, sei que nesse "nós" ele estava incluindo Di-Naa. Saímos da sala deixando todo aquele caos, como se ele nunca tivesse existido.
"Seo-jun levou Ari até o ponto de ônibus, e durante o caminho, ambos caminharam em silêncio. Quando estavam a poucos metros do ponto, ela soltou a mão de Seo-jun e parou, olhando para o chão. Ele notou imediatamente e voltou, posicionando-se em frente a ela, um tanto impaciente."
- O que foi agora, Ari? - perguntou ele, sua voz carregada de sarcasmo, mas com uma ponta de preocupação nos olhos.
Levantei meus olhos lentamente, encontrando os de Seo-jun com uma mistura de confusão e determinação, as lágrimas durante o caminho pararam e os únicos resquícios estavam secos em meu rosto.
- Por que você está fazendo isso, Seo-jun?  Minha voz saia quase como um sussurro, mas carregava um peso enorme de querer saber a verdade.
- Não é a primeira vez que você me ajuda. Nossa primeira sessão de fotos, eu fiquei me perguntando depois, do por que você tinha feito aquilo, do por que foi atrás de mim e insistiu tanto para que eu não fosse sozinha de moto do jeito que eu estava, nem nos conhecíamos direito. E agora, mais do que nunca, eu preciso saber o porquê!
Seo-jun revirou os olhos, soltando um suspiro exagerado. Ele cruzou os braços, mantendo sua postura durona.
- Sério, Ari? A gente está fugindo e você quer discutir sentimentos? Ele balançou a cabeça, mas a intensidade em seus olhos traía a fachada marrenta.
Eu o observava atentamente, meu coração batendo rápido enquanto as palavras de Seo-jun penetravam profundamente em minha alma.
- Mas por quê? O que te faz querer estar ao meu lado, mesmo quando as coisas ficam tão difíceis? Insisto.
Seo-jun deu um passo à frente, sua presença dominando o espaço entre mim e ele, estava perto o bastante para eu ouvir sua respiração, o que deixava as coisas ainda mais tensas entre nós.
- Porque... - ele começou, a voz baixa e carregada de sinceridade, mas então desviou o olhar, claramente desconfortável.
- Porque o quê? - Insisti, mais uma vez, com a voz ficando mais firme. - Eu mereço saber, Seo-jun.
Ele respirou fundo, lutando contra a relutância que sentia. Seus olhos se endureceram e ele soltou a verdade de forma abrupta, quase com raiva.
- Porque eu perdi alguém assim, tá legal?! Ele levantou a voz, a frustração evidente.
- Meu melhor amigo achou que podia resolver tudo sozinho. Eu deixei ele ir. Confiei nele. E agora ele não está mais aqui.
Fiquei em silêncio, absorvendo o impacto das palavras de Seo-jun. O zumbido distante do ônibus se aproximando parecia um lembrete surreal de que o tempo não parava.
- Eu não vou deixar isso acontecer de novo. Sua voz estava mais baixa agora, mas ainda cheia de intensidade.
- Não comigo. Não com você. Ele continua.
O ônibus parou à frente de nós, as portas se abrindo com um ruído mecânico. Olhei para Seo-jun, meus olhos cheios de compreensão e uma nova camada de respeito.
- Seo-jun... - comecei, mas ele me interrompeu.
- Vamos nessa, Ari. - Ele segurou minha mão com firmeza, mas desta vez havia uma suavidade ali.
- A gente não pode perder esse ônibus.
Assenti e deixei que ele me guiasse novamente, sinto que ele guardou isso por muito tempo e ainda está fechado sobre esse assunto, seus olhos lacrimejaram mas nenhuma lágrima caiu, o peso que ele carrega é bem maior do que eu imaginava, me sinto horrível por fazer ele se obrigar a falar disso de forma tão bruta.
Subindo as escadas falo sussurrando.
- Sinto muito. As palavras saíram tremidas.
Ele parece ouvir, exitando continuar subir as escadas, dando uma parada, mas que logo acaba, terminando o caminho, sentamos em um acento próximo ao fundo, me encosto na janela olhando o movimento do lado de fora, os carros passando, as pessoas andando. Durante todo o trajeto no ônibus, o silêncio entre mim e Seo-jun era pesado, cheio de coisas não ditas. Sua confissão ainda ecoava em minha mente, e eu não sabia como responder ou o que pensar. Quando finalmente chegamos no lugar, possivelmente sua casa, a realidade começou a me atingir com força total. O portão rangeu quando ele o abriu, e nós passamos por ele, mas meu corpo começou a falhar.
A adrenalina que me havia sustentado durante toda a fuga começou a desaparecer, substituída por uma fraqueza avassaladora. Cada passo se tornava mais difícil, minha visão ficando turva e minhas pernas tremendo. Tentei continuar, mas logo percebi que não conseguiria.
Parei, senti o mundo girar ao meu redor. Eu sabia que algo estava errado. Minhas mãos começaram a tremer, e antes que eu pudesse chamar por Seo-jun, tudo ficou preto.
Quando recuperei a consciência, meus sentidos voltaram lentamente, e me encontrei deitada em um sofá. Pisquei algumas vezes, tentando entender onde estava. Logo, meus olhos se ajustaram e percebi uma figura familiar ao meu lado.
Era Go-woon a irmã de Seo-jun. Ela me olhava com uma mistura de curiosidade e preocupação. Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ela se virou e chamou por Seo-jun.
- Oppa, ela acordou! - Sua voz ecoou pela casa.
Seo-jun apareceu rapidamente, sua expressão preocupada. Ele se ajoelhou ao meu lado, observando meu rosto atentamente. Antes de eu poder dizer qualquer coisa, ele soltou um suspiro exasperado e deu um leve tapinha na minha bochecha, como se tentasse me despertar ainda mais.
- Finalmente acordou, Bela Adormecida? disse ele, com um tom de sarcasmo, mas ainda visivelmente preocupado.
- O que aconteceu? Minha voz saiu fraca.
A irmã de Seo-jun me ofereceu um copo de água e um sorriso reconfortante.
- Aqui, beba um pouco. Vai te ajudar a se sentir melhor. Disse ela com um tom gentil.
Peguei o copo com mãos ainda trêmulas e bebi alguns goles, sentindo a refrescante água aliviar minha garganta seca. Agradeci com um aceno de cabeça, ainda me sentindo um pouco fraca, mas claramente em recuperação.
Seo-jun, cruzando os braços, me olhou com uma expressão crítica.
- Então, quer me dizer por que você decidiu desmaiar no meu portão? - Sua voz carregava uma nota de ironia, mas seus olhos mostravam a preocupação por trás das palavras duras. Isso confirma que estou na casa dele.
- Acontece que tudo isso foi demais para mim, juntando com a minha nova dieta feita pela minha mãe, era certo que uma hora ou outra meu corpo ia ceder. Acabei confessando, minha voz tremendo um pouco.
Seo-jun soltou um suspiro e balançou a cabeça, sua frustração evidente.
- Claro, porque nada como uma boa e velha dieta mortal para melhorar o dia de alguém. Disse ele, seu tom misturando sarcasmo e seriedade. Ele me deu outro leve tapinha na minha bochecha, desta vez mais suave. - Precisamos garantir que você se alimente adequadamente, sua tola.
Go-woon colocou uma mão no meu ombro, oferecendo conforto silencioso.
- Ignora o que meu irmão bobão diz, você está segura aqui, Ari. Vamos cuidar de você e uma coisa ele tem razão, por incrível que pareça, tem que comer, você está bem pálida. Assegurou ela, sua voz suave e tranquilizadora.
O alívio tomou conta de mim, e por um momento, senti que poderia finalmente relaxar. O calor e a preocupação na voz de Seo-jun e sua irmã me deram uma sensação de segurança mesmo que por pouco  tempo.
- Obrigada... Murmurei, meus olhos se enchendo de lágrimas de gratidão.
Enquanto bebia mais água e recuperava minhas forças, observei Seo-jun. Seu tom irônico e suas ações sempre cuidadosas tentavam esconder a verdadeira profundidade de seus sentimentos. Lembrei-me de sua confissão sobre carregar o peso da culpa pela morte de seu amigo. Algo no modo como ele interagia com sua irmã e comigo agora parecia diferente, como se ele estivesse constantemente tentando esconder uma dor profunda atrás de seu sarcasmo e a pose marrenta.
Percebi o quanto ele fingia estar bem perto de Go-woon, mantendo uma fachada de normalidade enquanto carregava um fardo enorme por dentro. Ele não queria que ninguém visse o quanto estava machucado, preferindo lidar com sua dor sozinho. Era uma tentativa de proteger aqueles ao seu redor de sua própria vulnerabilidade.
Enquanto observava, senti uma onda de compaixão crescer dentro de mim, Seo-jun para mim era apenas um garoto metido que só se importava com si, mas agora percebi o quão errada estava em minha conclusões. Eu sabia que precisava ficar mais forte, não apenas por mim, mas também para ajudá-lo.
Enquanto eu observava Seo-jun, o som de uma porta se abrindo e fechando ecoou pela casa. Uma figura feminina entrou na sala, olhando ao redor com uma expressão de confusão ao me ver no sofá.
- O que está acontecendo aqui? Perguntou ela, olhando para mim e depois para Seo-jun e Go-woon, claramente tentando entender a situação.
Seo-jun, mantendo um tom respeitoso, mas ainda com seu jeito característico.
- Mãe essa... Seo-jun tem sua fala interrompida pela sua mãe.
- Então é verdade as notícias, vocês estão namorando! Ela disse isso em um tom animado e com os olhos brilhando.
- NÃO ESTAMOS! Eu e Seo-jun falamos ao mesmo tempo.
- Eu não acredito, Seo-jun que você não me disse nada a respeito disso, ainda mais com uma modelo famosa, se me contasse eu teria te apoiado, tive que ficar sabendo por murmurinho das pessoas e as notícias do celular. Ela continua como se ignorasse o que tínhamos falado.
- Mãe, a senhora está entendendo errado, as notícias são falsas e Ari está aqui por conta... Ele faz uma pausa e olha em minha direção, como se dizendo que não ia falar nada, se eu não deixasse.
Me levanto com cuidado porque ainda estou meio zonza.
- Senhorita Han, me chamo Ari. E Seo-jun está certo, as notícias são falsas e se estou aqui agora é por conta que Seo-jun me ofereceu ajuda vendo a minha situação. Dou uma exitada, senti meus olhos lacrimejar, é difícil falar disso ainda.
- Oh querida, você está bem? Está um pouco pálida. Ela vem em minha direção botando as mãos em meu rosto, analisando-o, ela acaricia-o e olha para mim com pena. Mas aquela pena e o carinho era reconfortante.
- Pode me contar depois, se preferir agora o mais importante é cuidar da sua saúde, vou preparar algo para comermos, nem pra vocês oferecerem comida a ela. Ela olha para seus filhos, com um tom bravo, mas inofensivo.
- Mas mãe ela acabou de acordar, o que íamos fazer, enfiar comida goela abaixo nela. Seo-jun diz com seu tom sarcástico.
- Verdade. A Ari acabou desmaiando antes que pudesse entrar aqui em casa. Com essa revelação de Go-woon, a mãe deles se mostra ainda mais preocupada que antes.
- Oh querida! Venha conversar um pouco e se distrair, enquanto preparo algo pra você comer, está precisando de um descanso e de uma boa comida! Rio, imaginando que se Di-Naa escutasse isso ficaria ofendida. Aceito o convite e se junto a ele na cozinha.
Conversamos por um tempo, assuntos diversos, ela cuidadosamente evitou tocar em pontos que me deixavam nervosa, o jeito como ela me contou os acontecimentos de seu trabalho gesticulando, me fez sentir como se nós conhecemos a muito tempo. Logo a hora passou e a comida já estava pronta, ela foi cautelosa, para preparar o mais rápido, assim evitando de eu esperar muito.
- Hum... Está uma delícia, muito obrigada, estava precisando disso. Continuo enfiando mais colheres na boca em tempos curtos, comer algo que realmente me trouxesse algum tipo de força torna a comida a mais deliciosa que já comi, por mais simples que fosse, provavelmente influenciada pela fome que sentia. Pude sentir um gosto diferente, que se intensificava a cada colherada, um sabor que nunca havia experimentado antes, um toque sútil mas único, o toque materno, algo que Di-Naa não conseguiria colocar em suas refeições, mesmo a considerando como uma segunda "mãe".
- Que bom que gostou querida! Ela olha para mim com uma afeição carinhosa misturada com preocupação.
Ela coloca mais alguns potes na mesa, para que Seo-jun e Go-woon possam se aconchegar com nós e comer também.
Olho em volta da mesa, todos eles reunidos como uma família, Seo-jun e a irmã brigam por um pedaço de salsicha, enquanto a mãe deles chama a atenção pedindo para que se comportem. Eu acabo reparando neles, nessa cena, algo que passa longe da minha realidade e que eu nunca imaginaria acontecer algum dia, sinto inveja deles, mas não é essa emoção que me toma e sim a alegria por estar e momento como esse, também a tristeza porque depois que tudo isso acabar e se resolver, vou voltar para o meu cotidiano habitual sozinha, em uma sala de jantar que caberia em números pessoas, mas que sempre acaba com uma única presença diante de tantas cadeiras, a minha. Acabo soltando algumas lágrimas que se passam despercebidas pela euforia da cena, que logo se transforma em um sorriso.

[...]

- Seo-jun posso dormir no sofá. Não me importo. Digo.
- Relaxa princesinha. Sei que não é uma suíte real, mas acho que serve para você, tem algumas mudas de roupa em cima da cama que você pode usar, essas que você está furtadas da sessão de fotos não me parecem confortável. Seo-jun fala em tom de ironia ,me apresentado o quarto.
- Esta é a questão, não me interessa onde vou passar a noite, não quero ser um fardo e te fazer sair do próprio quarto. Contudo o sofá parece ser bem confortável. Pego os cobertores, um travesseiro e as mudas posto em cima da cama que Seo-jun havia falado que poderia usar, a amontoo tudo em uma pegada só e me dirijo a sala. Seo-jun entra em minha frente bloqueando a passagem.
- Acabou o seu showzinho? Minha mãe não me educou melhor do que isso. Não queira ofendê-la. Aproveite a cama. Eu vou ficar bem. Ele fala isso fechando a porta do quarto, me deixando sozinha no cômodo.
Não me resta muita escolha a não ser aceitar a generosidade dele, melhor não ficar testando até onde esse bom grado vai. Me ajeito, trocando as roupas e me deitando, a sensação de estar em uma casa que não é minha em uma cama que é pertencente a uma menino é estranho, não era permitida dormir na casa de amigas, por mais que não tivesse muita escolha, pela escassez de amizade, agora minha primeira noite fora é na casa de um menino, meio irônico. Ponho a cabeça no travesseiro puxando as cobertas, trazendo a manga da blusa gigante do Seo-jun próxima ao rosto, tudo tem seu cheiro, seria um crime dizer que esse odor é ruim, o bad boy não tem mal gosto.

Beleza Verdadeira PS: Eu Te Amo Onde histórias criam vida. Descubra agora