Memórias do passado: parte 2

111 8 0
                                    

Sinto os flash de luz sobre o meu rosto, lembro da minha primeira sessão de fotos, os flashes, inicialmente desconcertantes, tornaram-se risos e poses divertidas sob a orientação de uma mão amiga, minha mãe. Quando comecei ela estava presente em todas as sessões, fazendo poses para que eu a imitasse, na época achava algo incrível, mas hoje repenso se ela fazia para me ajudar ou se era só uma forma dela mostrar o controle sobre sua bonequinha. Ainda sorrio ao lembrar-me da inocência daquele momento, onde aprendi a abraçar a luz e a alegria, guiada por gestos que, naquela época, pareciam mágicos. No fim já não sei mais como trazer essa magia novamente.
Por aproximadamente dois anos, tudo ia bem em minha vida na indústria da moda, onde minha mãe era minha mentora. No entanto, nesse período, algo mudou. Os flashes incessantes e as comparações entre mim e ela começaram a desencadear surtos de identidade nela.
O cenário, antes repleto de aprendizado e carinho, transformou-se em um campo de batalha. A beleza refletia a minha juventude, tornou-se um incômodo espelho do passado dela. Em meio a essa tensão crescente, tive um momento crítico quando, em um surto de desespero, a mão que antes me guiava ergueu-se contra mim. Foi a intervenção rápida do meu pai que quebrou o ciclo da agressão, mas não conseguiu parar a tristeza que pairava sobre nossa família. A estabilidade que conhecíamos deu lugar a conflitos e desafios. Observar meu pai com olhos tristes era como testemunhar a desconstrução da segurança que minha família proporcionava. Eu vi ele tirar a minha mãe da sala aos gritos, dizendo que me odiava, que eu fui o começo de sua destruição e outras muitas palavras  odiosas, me deixando na escuridão do ambiente, em meio as lágrima.

[...]


Recobrando a consciência me vejo na cena de antes, vendo a dona da mão, era Soojin.
- EU JÁ NÃO FALEI PRA NÃO SE METERAM MAIS COM A GENTE. DEVEM QUERER MORRER MESMO! Ela diz como se já tivessem reproduzindo essa mesma cena antes.
- Desculpa-pa, desculpa a gente não pensou no que estava fazendo, foi a Jihee que começou com tudo. Uma das meninas começou a falar desesperada se ajoelhando no chão.
- O QUE?! Cala boca menina. E-ela não sabe o que tá falando, foi só um mal entendido. Jihee fala, tirando a mão dela que Soojin segurava.
- Nos já íamos guardar as coisas da caixa, não é mesmo meninas. Ela diz em tom de morte olhando para menina que colocava a culpa nela.
- Si- Sim era isso que íamos fazer. As outras duas falam. Elas começaram a recolher os itens caídos.
- Você está bem Ari? A Joo-kyung pergunta
- Estou sim, mas não eram a mim que elas estavam incomodando. Olho em direção a menina que usava um óculos e fui em direção a ela.
- Elas são sempre assim? Pergunto.
- Antes era pior, mas com a ajuda da Joo-kyung e suas amigas ficou melhor de aturar, elas só passam agora cochichando coisas sobre mim.
- Aqui está Go-woon e des-desculpa. As meninas lhe entregaram a caixa e saíram dali o mais rápido possível.
- CAIU O ABRAÇO, SER EDUCADO DA NISSO. Falei o mais alto possível para que elas conseguissem ouvir.
- Eu sou a Ari. Estico a mão comprimentando-a.
- Han Go-woon, mas pode me chamar só de Go-woon.
- Han? Pergunto, afinal conheço mais alguém com esse sobrenome, mas será?
- Ah Go-woon é irmã do Seo-Jun. Joo-kyung fala.
- Conhece meu irmão? Go-woon pergunta, em tom baixo.
- E quem não conhece o Han Seo-Jun! Soo-ah diz.
- Hein falem mais baixo. Ela disse isso sussurrando.
Todas concordamos com ela, uma personalidade como a dele é difícil passar despercebida.
  Com o fim das aulas acabei encontrando Go-woon na saída e ficamos conversando por um tempo.
- Por que elas começaram a fazer isso como vc? Pergunto
- Ah, eu não entendo muito, na visão simplória delas, sou feia então fazem isso comigo, da pra entender? Ela solta uma risada. Eu entendo ela realmente não dá pra entender, antes eu era obrigada a fazer isso com as pessoas que minha mãe considerava inferior, rebaixa-las ainda mais, por que? Pra tentar mostrar que é melhor do que a outra pessoa, desse jeito só mostrava o quão inferior eu era, fazendo isso.
- Elas são pessoas amarguradas e descontam isso nos outros. O que me admira é elas fazerem isso com você tendo o Seo-Jun como irmão.
- Hahaha, é porque elas não sabem, muito menos Seo-Jun, conheço meu irmão.
- Ele parece ser bem protetor mesmo. Digo.
- Não é nem por isso, eu prefiro ficar no anônimo sabe, sem ser conhecida como a irmã do "famoso Han Seo-Jun", ter todo dia uma menina na minha cola pedindo pra enviar recadinho pra ele.
- Bem específico, além de que com o complexo de superioridade do Seo-Jun não deve ser nada fácil ter que conviver com ele.
- Sim haha, mas de onde conheci meu irmão, nunca te vi antes na escola e seu rosto é familiar, é da sala dele? Go-woon pergunta.
- Quantas perguntas, tá vamos lá, sou nova sim, já faz alguns dias que estou aqui, pode se dizer que eu e seu irmão somos colegas de escola e de trabalho.
- Ah! Então você é a colega de trabalho que meu irmão estava falando.
- Ele estava falando de mim? Fico um pouco surpresa e sinto minhas bochechas esquentarem.
- Ele disse que era louca, maníaca que estava perseguindo ele. Que corta clima, o que mais eu esperaria do Seo-Jun.
- Ele disse isso pra você?
- Eu conheço meu irmão e está mais do que claro que ele estava inventando.
- Não pareço nenhuma fã maníaca dele? Digo em tom de piada.
- Deixa eu dar uma olhada, assim se olhar bem. Ela diz entrando na brincadeira.
- EI! Aliás você não se parece nada com ele, tem certeza que ele não é adotado não?
- Haha! Eu sempre suspeito disso. Go-woon fala.
Depois de um tempinho conversando outros assuntos já estava na hora de ir, me despedi de Go-woon e fui, Doyoon já estava a minha espera talvez ficou mais do que esperado, não vi o tempo passar quando estava conversando com Go-woon, afinal depois do dia de hoje, merecia algo pra fazer esquecer do ocorrido e hoje de manhã.
- Boa tarde senhorita, como foi hoje no colégio? Doyoon pergunta.
- Ah, nada de muito novo, revisões de provas, trabalhos, entre outras coisas. Claro que eu não iria contar para ele que quase entrei em uma briga, essa parte é irrelevante.
Acabamos sendo interrompidos por um ronco alto e eu já sabia muito bem da origem dele, vinha de mim, hoje estava sobrevivendo de água, nem lembrei de comer a marmitinha 0 proteína que Di-Naa havia feito, minha cabeça estava a mil.
- A senhorita almoçou hoje? Ele pergunta desconfiado.
- Acabei esquecendo, não estava com muita fome.
- Di-Naa vai ficar brava com você, sabe como ela fica quando a senhorita não come o que ela te faz.
- Sei sim haha. Ela é uma peça. Acabamos rindo lembrando de algumas pérolas dela.
- Então, você deseja passar em algum lugar para pegar um petisco antes de irmos para a sessão, fica entre nós sua mãe não precisa saber, ok? Ele fala animado pelo nosso segredinho.
- Estou bem obrigada, aguento até o jantar.
- Como preferir!
Ao chegarmos, não vejo vestígios do Seo-Jun, já me troco e começamos a tirar fotos.
- Não vamos esperar o Seo-Jun? Pergunto.
- Hoje ele não vem, vamos fazer só com você Ari, tudo bem? Um dos fotógrafos pergunta.
- Ah, está sim.
Continuamos o trabalho, acabamos até que bem rápido, não era muito tarde quando saímos de lá, perguntei para Doyoon se podíamos ficar pela cidade mesmo, não estava muito afim de ir para casa tão cedo. Ele concordou meio relutante. Passamos na frente de um café e disse que naquele momento precisava de alguma coisa para me manter em pé, afinal chegando em casa eu ainda precisaria fazer alguns exercícios.
- Vamos Doyoon por favor! Ela disse que não poderia de manhã e agora já é de tarde e você disse que só ficaria entre nós, eu vou ser discreta e não deixar ninguém me ver! Fala isso fazendo voz e carinha de choro.
- Está bem, está bem, também preciso de um pouco de cafeína. Ele fala dando um sorrisinho amigável.
Antes de sair coloco um óculos e boné para que ninguém me note. Ao entra o lugar é bem bonito, adoro o ar que um cafeteria passa, quando pequena tinha vontade de ficar o dia todo em uma estudando com amigos ou lendo um livro, mas não tinha muito tempo pra isso. Faço o pedido de dois cafés, sem leite e com açúcar, no tamanho médio. Fico sentada com Doyoon até ser chama.
- Uau, é tão calmo aqui apesar do movimento, esse cheirinho de café, essa sensação é boa. Ao redor via alguns adolescentes estudando outros conversando ou fofocando, só estavam vivendo suas vidas normais, tenho inveja disso, ser normal e viver uma vida normal.
- Realmente o clima daqui é bem agradável. Doyoon diz.
- NÚMERO 47! NÚMERO 47! A atendente chama.
- Ah é o nosso, já volto! Ando em direção de cabeça baixa, para não correr risco de  ser vista.
- Obrigada. Falo isso levando minhas mãos para pegar os cafés, que estavam com a atendente.
- Ari? Essa voz, não é da atendente.
- Não. Digo rapidamente engrossando a voz.
- Você não me engana garota, eu disse que vc estava me perseguindo! Eu não acredito, o Seo-Jun, sério?
- Fala mais baixo seu bobão, não está vendo, tô disfarçada. Digo isso sussurrando.
- Haha! Tá querendo se esconder do que, desse jeito ainda? Acha que tá enganando quem? Ele diz isso debochando.
- Olha aqui, não vim te ver não te encontrar foi o acaso garoto, vim pelo café tá legal! Digo isso olhando diretamente nos olhos dele. Nossa pequena discussão chamou atenção de algumas pessoas e começo a ouvir cochichos, "aquela não é a Ari, aquela modelo", "fiquei sabendo que ela estava pela cidade", "ela e o Seo-Jun estão tirando fotos juntos, será que estão de casal", ouço barulhos dos flashes de celular. Anão, se minha mãe descobrir que estou aqui, não vai ser nada bom. Deixo os cafés no balcão mesmo e corro em direção, Doyoon já foi na frente abrindo a porta para mim, ele entra e começa a dirigir para casa. Espero que isso não de problema.

 
     

Beleza Verdadeira PS: Eu Te Amo Onde histórias criam vida. Descubra agora