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— Por favor. — Mayara está dizendo na linha do telefone. — Luan, por favor.

Luan pesca os botões do casaco e, prontamente, diz: — Não.

— Luan! — Mayara mais ou menos grita e sua voz soa fraca no alto-falante. Quase explode todo o tímpano direito de Luan, o volume que aquela garota conseguia liberar de seus pulmões era uma loucura. Ele estremece.

— May. — diz ele, da maneira mais amansadora que pode. — Estou atrasado para uma palestra.

— Basta aparecer lá antes. Só levará um segundo. Isso é importante.

Luan faz um barulhinho no fundo da garganta, antes que consiga se conter. É um barulho incrédulo, irritado e desagradável. Imediatamente, ele espera que Mayara não tenha percebido. E claro, ela percebe.

— Luan Alencar. — a voz de Mayara é baixa e perigosa. — Você está dizendo que o bem-estar e a felicidade do meu irmão mais novo são menos importantes do que um sermão?

— Bem, você disse isso, não eu. — é uma resposta na ponta da língua, mas ele engole antes que seus lábios se abram. — Eu não disse nada disso. — diz Luan, terminando seu último botão. — Tenho certeza de que Caio está... bem. E ele é um adulto em pleno funcionamento. Por que você precisa que eu verifique como ele está?

— Porque sim! Ele me ligou cerca de cem vezes ontem à noite e quando liguei de volta esta manhã, não encontrei nada além de silêncio na ligação! Isso não te preocupa?

Luan, não pela primeira vez, luta contra a vontade de contar a Mayara que ela pode ter um relacionamento um pouco co-dependente com seu irmão mais novo. Mas... Ele não está exatamente em posição de desvendar relacionamentos complicados entre irmãos e, além disso, prefere não fazer isso com Mayara. E definitivamente também não com Caio.

— Não sei. — Luan responde. Ele procura as chaves nos bolsos do casaco e não encontra nada além de um chiclete e uma caneta esferográfica. Ele franze a testa. Merda, onde ele colocou a maldita coisa...? — Ele poderia simplesmente ter ligado para você.

O suspiro de Mayara é frágil.

— Você o conhece. — diz ela. — Você sabe que ele não faria isso.

Luan franze a testa.

Ele não conhece Caio Iris Cerqueira, na verdade, não.

Não que ele conheça Mayara, que é inteligente, extremamente espirituosa e a pessoa mais gentil de todo o planeta. Ela e Luan cresceram juntos na cidade quando tinham treze anos - ambos acabaram de se mudar de partes completamente diferentes do mundo.

A mãe de Mayara foi eleita senadora e DC tinha um dos melhores e mais privados centros de reabilitação do mundo, com terapeutas bem treinados e tratamentos eficazes. A mãe de Luan pretendia que a família deles ficasse nos Estados Unidos apenas o tempo suficiente para que Liz se recuperasse, mas os anos se estenderam por quase metade da vida de Luan.

Luan sentia-se infeliz fora de casa, Mayara tinha esperança de um novo começo; eles eram os pares mais estranhos, mas de alguma forma funcionavam.

Nos últimos oito anos, Mayara foi uma presença imutável em sua vida. Mesmo quando eles estavam inevitavelmente separados por quilômetros de distância para a faculdade, ela ainda ligava para ele, mandava mensagens de texto e até visitava-o sempre que podia. E por isso, Luan está infinitamente grato. Ela é realmente uma melhor amiga maravilhosa e ele adora tudo nela.

Bem, quase tudo.

— Você já tentou um dos irmãos da fraternidade dele? — ele tenta não deixar um tom de ridicularização soar em sua voz com a menção da fraternidade de Caio, mas é difícil manter um tom civilizado. Havia muitas vantagens na educação universitária americana, mas as desvantagens eram... desvantagens. Ele está meio convencido de que as fraternidades são manifestações vivas do mal.

pegue-o sozinho » caio & luanOnde histórias criam vida. Descubra agora