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Caio se lembra vividamente da primeira vez que colocou os olhos em Luan.

Ele tinha doze anos, treze de junho. Eles tinham acabado de se mudar de Austin para DC e, embora sua mãe e sua irmã tivessem mergulhado de cabeça em sua nova vida, algo impedia Caio de fazer o mesmo. Isso, por si só, era estranho.

Porque mesmo aos doze anos, Caio Íris Cerqueira era muitas coisas: confiante, inteligente e, talvez acima de tudo, amado.

Mas em uma nova cidade, em uma nova vida, ele estava simplesmente... sozinho.

Era final de agosto, logo depois que as folhas adquiriram um tom alaranjado vivo e o dia de aula acabara de terminar. Caio estava sentado em um banco do lado de fora da escola, com os pés balançando, os dentes roendo a parte inferior do lábio.

Os sons vinham de todas as direções ao seu redor — alunos do sexto ano chamando os pais em suas novas celas, alunos do sétimo e oitavo ano conversando entre si — e, de repente, a solidão que envolveu Caio desde que ele pisou em Washington o fez desaparecer. mudou para uma solidão profunda.

Ele havia procurado alguém, qualquer pessoa, com quem conversar — ​​com quem dissipar o peso da solidão — e seus olhos se depararam com um garoto parado no meio-fio.

Ele era a única pessoa dentro do campo de visão de Caio que não estava falando com outra pessoa, preso em sua própria bolha isolada. Por um breve momento, a esperança dançou no peito de Caio com aquela visão; talvez esse garoto também fosse um aluno novo.

Esse garoto quieto também estava lendo. Caio não conseguiu descobrir exatamente o que era o livro, mas devia ser bom. A expressão de concentração no rosto do menino era vertiginosa de se ver – era uma expressão que Caio só tinha visto antes em atletas profissionais no calor de um jogo ou em sua mãe quando ela estava atendendo uma importante ligação de negócios.

A essa altura o vento já havia aumentado e uma mecha de cabelo caiu nos olhos do menino. Caio, incapaz de desviar os olhos do que via, estremeceu com o frio repentino do outono. Por um ou dois segundos, ele ficou ali sentado, observando aquela mecha negra de cabelo esvoaçando contra a pele bronzeada, e pensou:

Huh.

Então, ele se levantou, sacudiu as mãos suadas e caminhou em direção ao garoto com o propósito de se apresentar e, esperançosamente, fazer um novo amigo.

Que piada.

— Terra chamando Caio!

A voz de Bel é como um alarme matinal, dura o suficiente para trazê-lo de volta à realidade, e Caio se assusta.

— Merda. — ele xinga enquanto derruba sua bebida. O café se acumula em sua mesa, um líquido marrom e espumoso escorrendo para testes antigos marcados com 'As' vermelhos brilhantes e folhas soltas de caderno rabiscadas da cabeça aos pés com os rabiscos afiados do loiro. — Porra!

Bel joga para ele um maço de guardanapos e ele cuidadosamente limpa a bagunça, fazendo uma careta ao ver o estado de alguns de seus papéis. Graças a Deus seu laptop não estava em sua mesa.

— Jesus. — Bel diz, de onde ela está enrolada na cama dele. — O que deu em você?

— Não tenho ideia do que você está falando. — Caio responde, jogando o maço de guardanapos e alguns papéis do semestre passado em sua lata de lixo.

Sua melhor amiga semicerra os olhos para ele.

— Você esteve assim o dia todo: nervoso, distraído, desajeitado. — ela diz, lentamente, como se estivesse tentando resolver um quebra-cabeça. Como se ele fosse um quebra-cabeça para ser resolvido. — Na verdade, você também estava assim ontem. E toda a noite de sexta, depois da festa.

pegue-o sozinho » caio & luanOnde histórias criam vida. Descubra agora