Capítulo 1

9 0 0
                                    

Ana

Chego ao trabalho mesmo em cima do horário de entrada, tive que me sentar no caminho estava muita nervosa depois da situação no centro com aquele boçal.
A minha chefe olhou-me com preocupação devido à minha cara de pânico.
-Ana o que aconteceu? Estás branca como um fantasma. - a minha chefe é uma senhora na casa dos 60 anos, super amorosa e carinhosa, muito prestável e já me ajudou em muitas situações sou grata por ter pessoas boas na minha vida apesar de toda a situação em que vivo.
- Dona Celeste ia sendo atropelada na passadeira aqui em frente ao palácio de Sintra. - a minha voz está fraca devido ao sistema nervoso.
A minha chefe apressou-se a dar-me um copo de água com açúcar para me acalmar, sentei-me num banco junto ao meu cacifo e ela acariciou a minha cabeça e acalmou-me.
Contei-lhe toda a situação do quase atropelamento e ela riu-se, basicamente chorou a rir e abraçou-me.
- Algum entusiasmo na tua vida.
-Dona Celeste, ele teve a ousadia de me chamar "indiana". - disse lhe com lágrimas nos olhos, na verdade não sei porque estou assim eu nunca o vi na vida, talvez seja pelo susto.
- Calma minha menina, já passou só achei graça a situação, nunca te vi com tanta raiva conheço-te desde menininha de colo.
Acalmei-me pus o avental e fui para o balcão iniciar mais um dia de trabalho, consegui esquecer toda a situação durante o meu turno de trabalho que decorreu com normalidade.
- Rita falta 10 minutos para sair, vou buscar a minha mala e tirar o avental para ir embora. - a minha colega olhou-me com um sorriso no rosto e acenou com a cabeça.
Quando ia virar as costas para sair do balcão ele entra no café, era tudo o que me faltava ele olhou-me com desprezo e raiva e veio na direcção do balcão.
- Ana podes atender este senhor que entrou? Tou a fazer uma tosta mista. - que pesadelo, porquê eu????
- Tudo bem Rita, ainda falta 10 minutos para sair. - não tinha como negar o pedido da minha colega.
Dirigi-me ao ponto do balcão onde ele se encontrava, com aquele nariz empinado cheio de superioridade no corpo, CALMA ANA!
-Boa tarde, posso ajudá-lo?
- Não quero ser atendido por esta indiana inútil. - ele falou com uma raiva desmedida vindo do fundo da alma eu estremeci no meu lugar.
Ele é lindo, quer dizer ele é FEIOOOO! O coração dele está cheio de ódio e rancor.
Mas o homem deve ter 1,90m , cabelos escuros, olhos meio rasgados, corpo musculado mas não em exagero, voz rouca, tatuagens , uma perdição. NÃO NADA DE PERDIÇÃO, O HOMEM É UM SEM ALMA! RIDÍCULO! BOÇAL!
- Desculpe senhor, mas neste momento não temos mais ninguém para o atender. - a minha colega falou calmamente mas franziu os olhos em sua direcção.
- Faz tudo perfeitinho indiana, senão tens os dias contados neste cafézinho tão pequeno e ridículo como tu. - agora eu não podia mas aguentar a sua humilhação e o desprezo por mim, tudo porque ele me ia atropelando quando a culpa era dele? Eu estava na maldita passadeira.
- Escute seu flamingo boçal, respeite-me! Você ia me atropelando se manhã deposita as culpas em mim e ainda me ofende no meu local de trabalho? - eu estava furiosa, a minha raiva era desmedida e nunca tinha reagido assim com ninguém muito menos ofendido ou magoado alguém.
Ele simplesmente riu-se na minha cara, ele riu até lhe cair lágrimas pelo rosto, sentia-me humilhada por ele, se tivesse um buraco escondia-me agora mesmo.
Eu estava a ponto de desabar em lágrimas a minha colega percebeu e puxou-me para o balneário e saiu para atender aquele flamingo aquele, aquele... Sem palavras para ele.
Eu tirei o avental, peguei na minha mala e sai do balneário em direcção à saída do café, despedi-me da minha colega e agradeci-lhe por me tirar daquela situação, ele já não estava ao balcão tinha ido embora.
Quando sair no café, ele estava sentado em cima da mota mesmo à porta.
- Psst indiana! És tão ridícula que pareces uma formiga pronta a ser esmagada. - continuei andar não liguei à sua provocação. Ele seguiu-me sempre a provocar-me e a ofender-me, caminhei mais rápido mas o homem parecia que estava mais perto de mim a cada passo.
- Indiana, és tão ridícula, vi as tuas lágrimas de crocodilo nos olhos, mas agora não tens ninguém para te proteger. - ele continuou.
Quando cheguei à porta do hotel não aguentei mais as suas provocações , rodei nos meus pés fiquei de frente para ele e comecei a bater-lhe com a minha mala, já não tinha controlo no meu corpo, os meus olhos estavam embaçados de lágrimas e a minha raiva media 3 metros de altura. Ele agarrou-me nos cotovelos e levantou-me sem qualquer esforço para a minha cara ficar à altura da dele visto que eu tenho 1,50m e ele tem 1,90m e largou-me com muita força no chão, eu cai de bunda e raspei o meu joelho e ele baixou-se e gritou:
- NUNCA MAIS ME TOQUES MUITO MENOS ME BATAS SUA NOJENTA, NÃO QUERO ESSAS TUAS MÃOS EM CIMA DE MIM. CHEIRAS MUITO MAL E ÉS HORROROSA, PARA A PRÓXIMA EU DESFAÇO-TE. - pensava que ele me ia espancar ou matar, os olhos dele eram puro sangue, ele virou as costas e começar a caminhar furiosamente e eu fiquei no chão com o joelho raspado e o orgulho ferido. Nunca tive este tipo de pessoas ou situações na minha vida, estava à deriva sem saber o que fazer, ele mexeu mais comigo e com meus sentimentos em minutos do que mexeram comigo a vida toda, eu estava com medo muito medo e estava perdida com tudo.
Levantei-me do chão, cuidadosamente e entrei pela zona dos funcionários do hotel, o meu joelho gritava de dor , eu andei vagarosamente até ao balneário mas acontrei o meu chefe pelo caminho.
- Dona Ana, nunca mais traga os seus namorados para a porta do hotel, se voltar acontecer vou ter de demiti-la. - fiquei em pânico eu não podia perder este emprego, precisava do dinheiro para os medicamentos do meu pai, não podia mais me cruzar com aquele homem cheio de raiva e rancor ou a minha vida podia ir por água abaixo por causa de alguém que nunca vi na vida.
- Desculpe senhor José, não se volta a repetir. - não me ia justificar, porque eu sabia que o meu chefe não ia acreditar numa palavra do que eu ia dizer.
Basicamente ele mexeu tanto comigo que só queria chorar nos braços da minha mãe e nunca mais sair de casa com medo de me cruzar com ele, ódio era um sentimento que me deixava com a boca amarga, algo que nunca tinha experimentado na minha vida. Eu sempre vivi rodeada de amor e carinho, sou amor e vou ser sempre amor apesar de saber que existe muito ódio no mundo.

Ricardo

Desci a rua em direcção à minha mota que estava estacionada em frente ao café onde aquela nojenta trabalha, eu estava cego de raiva sentia o ódio a formigar no sangue, queria desfazer a indiana mas na hora H eu só fiz com que ela caísse, normalmente as mulheres queriam me beijar ou fazer sexo comigo, nunca uma mulher teve a ousadia de me espancar com uma mala de Hogwarts, até a mala é ridícula.
Montei a minha Kawasaki e acelerei pela rua abaixo, estava na hora de ir para casa enfrentar os meus demónios, se tinha vontade? Não! Mas não me restava outra opção, se quero tomar ao menos um banho tem de ser naquele pardieiro, onde vive as duas pessoas que criaram este monstro.
Estacionei a mota à porta de casa e desci, já consigo ouvir os gritos da minha mãe mas sinceramente não queria me chatear ainda mais hoje, a indiana já me tinha irritado o suficiente espero que ela tenha aqueles joelhos todos em sangue e nunca mais saia de casa.
Entro pelo quintal e vou direto à arrecadação que é o meu quarto, não vou proferir uma palavra sequer para aqueles dois desprezíveis, hoje vou tentar a minha sorte ao casino preciso de algum dinheiro extra para apostar numa corrida de mota amanhã à noite.
Tomo um banho de água fria no quintal, estamos no mês de Março ainda está frio mas não posso de me dar ao luxo de ter água quente em casa, em breve a minha vida vai mudar vou ficar muito rico a bem ou a mal.
Acabo o banho e vou diretamente para o meu quarto/arrecadação me vestir, ponho umas calças de ganga e uma sweat, o tempo está húmido e muito sombrio nada de anormal em Sintra.
- Ricardo o teu pai precisa de dinheiro para uma dívida a um homem muito mau - a minha mãe abriu a porta sem bater ou pedir autorização para entrar, se eu estou furioso fiquei ainda mais os meus olhos lançavam faíscas.
- Ele que vá trabalhar, não sou o Banco dele - estou cansado dos problemas deles e das dívidas, lembro-me de ser criança e não ter nada para comer, nem uma cama para dormir porque o meu pai vendia tudo para beber e para pagar dívidas.
- Miúdo vais dar-me o dinheiro agora, senão mato a tua mãe - o meu progenitor avançou na minha direcção para me esmurrar mas eu agarrei-o e atirei-o contra a parede e pisei-lhe a cabeça , ele urrava de dor enquanto a minha mãe gritava e me batia para eu solta-lo.
Eu estou farto de toda esta miséria, de viver com eles os dois mas eu ganhava pouco e não podia me dar ao luxo de sair de casa agora, a bem ou a mal a casa estava paga porque era da minha avó, sim eles expulsaram a minha avó de casa e até hoje não sei para onde ela foi, sei que um dia vou encontra-la.
Larguei o ser desprezível e sai porta fora não estava com paciência para discutir com eles e tinha uma dor de cabeça terrível, para além disso tenho que me concentrar no jogo de póquer que vai acontecer hoje para ganhar algum dinheiro e me livrar desta vida de miséria que tenho desde que dei o meu primeiro fôlego.

Depois da tempestade vem a.. Calmaria? Onde histórias criam vida. Descubra agora