Ana
Finalmente o meu turno no hotel estava a terminar, olhei para o relógio eram 21:58 , estava muito cansada e com o emocional abalado depois deste dia terrível, não parei de pensar no flamingo durante o meu turno, estava com muita raiva dele, ele desperta algo em mim muito mau, o meu pior lado e só me cruzei com ele duas vezes, não deveria dizer isto mas pessoas como ele deviam ser banidas do mundo nunca desejei nada de mal para ninguém, aliás quero que todas as pessoas sejam felizes mas ele fez-me pensar que o mundo não está cheio de rosas como eu pensava.
Despi a minha farda do hotel, pendurei-a no meu cacifo e fui em direcção à saída, preciso da minha cama e do colo da minha mãe urgentemente, talvez seja melhor não contar aos meus pais nada desta situação não quero que se preocupem com algo tão insignificante.
Percorri as ruas da vila em direcção à minha casa, caminho cerca de 15 minutos, estou no portão da minha casa, abro o portão cuidadosamente para não fazer muito barulho, afinal os meus pais podem estar a descansar, chego à poeta da entrada e ponho a chave, vejo que a luz da sala ainda está acessa, espreito para a divisão e lá estão eles, abraçados a ver televisão.
Admiro muito os meus pais, já passaram por tanto juntos , os meus olhos enchem se lágrimas com a imagem e vou a correr em direcção a eles e abraço-os, o meu cansaço e todas as dores que sentia foram embora pensava que estava preparada para enfrentar todos os obstáculos mas não estava, percebi isso quando enfrentei o flamingo hoje, só desejava que os meus pais me fossem salvar daquela situação, tinha os olhos embaçados de lágrimas, já não podia controlar o choro.
- Minha princesa porque choras? - o meu pai estava cansado era nítido na sua voz mas nunca deixou de se preocupar comigo.
- Dia difícil meu anjo? - a minha mãe perguntou com ternura secando as minhas lágrimas com força.
Não conseguia falar, aliás nem conseguia respirar simplesmente libertei todo o stress que tinha no peito, o encontro com o flamingo, a ameaça de demissão do meu chefe, a preocupação de conseguir o dinheiro para a medicação do meu pai, tudo o que tinha acumulado saia pelos meus olhos em forma de lágrimas grossas.
- Meu amor na vida tu vais encontrar muitos obstáculos, muitas pessoas ruins sem alma nem coração mas nunca deixes que ninguém apodreça o teu coração de ouro e a tua alma iluminada, tu és muito especial Ana não existe quase ninguém no mundo como tu, tem coragem e sê gentil mesmo que a vida seja amarga e te mostre o pior lado, nunca deixes que te roubem aquilo que tens de mais sagrado o coração de ouro. - ouvi o meu pai atentamente, o meu coração sossegou aconchegada nos seus braços, tem de aparecer um doador para o meu pai eu não posso ficar sem ele, só ele é que consegue sossegar o meu coração.
A minha mãe acariciou os meus cabelos e serviu-me uma chávena de chá de maçã e canela é o meu preferido, fiquei junto aos meus pais mais um pouco e depois fui para o meu quarto tomei um banho bem quente e mais uma vez pensei nele, o olhar vazio e a alma podre, apesar da água estar quente fiquei arrepiada só de pensar na maldade que ele carrega, espero nunca mais me cruzar com ele, quero distância dele já tenho muitas preocupações e inquietações, os meus pais vão ser sempre a prioridade e não podia arriscar perder o emprego do hotel, a vida do meu pai depende desse dinheiro.
Encostei a cabeça à minha almofada e tentei dormir, mas não conseguia parar de pensar nele, os meus pensamentos tavam completamente voltados para o seu olhar, os meus olhos foram fechando e cai no sono.
O relógio tocou ás 6:30 da manhã, estava exausta parecia que não tinha dormido 10 minutos, arrastei-me até à casa de banho fiz a minha higiene e desci, encontrei os meus pais na cozinha a conversar, parei nas escadas e escutei um pouco da conversa.
- Laide sabes que não me resta muito tempo de vida, a atitude da minha princesa assustou-me, tenho muito receio que partam aquele coração de ouro.
- Zé não te preocupes, a Ana é uma mulher muito resiliente ela vai ultrapassar tudo a nossa filha tem uma alma muito iluminada e nós vamos encontrar um dador para ti, vais viver para veres um netinho nosso - a minha mãe envolveu os braços à volta do meu pai, o tempo para encontrar um dador estava a terminar e o meu pai tinha muito pouco tempo de vida não podia viver sem ele, já tínhamos lutado tanto não pode acabar assim , limpei a lágrima que tinha caído no meu rosto e entrei na cozinha.
- Bom dia. - dei um sorriso caloroso aos meus pais e beijei a testa de cada um, sentei-me à mesa junto a eles e tomamos o pequeno almoço em silêncio.
Sai de casa perto das 7:10 da manhã e caminhei calmamente até ao trabalho, o tempo estava fresco e húmido puxei a gola no meu casaco para cima para proteger o pescoço do frio, passei junto à passadeira do dia anterior e as memórias daquele flamingo vieram com força, encolhi-me e atravessei o mais depressa possível, queria esquecer o dia anterior o mais rápido possível, acho que fiquei com um pequeno trauma nunca tinha sido tão humilhada na minha vida.
Entrei na pastelaria cerca das 7:30 da manhã e não pode ser , lá estava ele sentado numa mesa junto ao balcão, o meu inferno pessoal aquele.. Aquele flamingo ridículo.
Tentei passar discretamente por ele, não queria ser mais humilhada por ele mas ele agarrou me no braço com uma força desnecessária e sorriu com deboche, encolhi-me no meu sítio, o homem era o próprio demónio.
-Indiana, pensei que depois de ontem nunca mais saisses de casa, tu és realmente muito corajosa. - ele apertou mais o meu braço.
- Larga-me seu flamingo, não me toques nunca mais. Ia perdendo o meu trabalho no hotel por tua causa, eu preciso daquele trabalho, para ti não tem importância mas a vida do meu pai depende daquele dinheiro. - ele gargalhou na minha cara como se nada do que eu dizia tinha importância para ele e sinceramente não tinha.
- Dás-me pena Indiana, estava à tua espera sabes? Queria ver essa cara ridícula para poder me rir de ti o resto do dia, dás-me graça com essas tuas roupas de menina de 16 anos e a tua mala do Harry Potter? Dá-me vontade de te pisar com a minha mota. - ele gargalhava de mim, humilhava-me como se fosse uma formiga, a maldade dele não tinha fim mas eu não ia derramar uma lágrima à sua frente, seria pior para mim.
- Sabes Flamingo, tu é que me dás pena não tens vida, tens a necessidade de vir ao meu local de trabalho para te rires um bocado e esqueceres essa tua vida que por sinal é bem triste, podes me pisar e humilhar à vontade porque tu nunca vais ter uma alma como a minha, nunca vais carregar a bondade do meu coração e mais uma coisa medires a pessoa pela roupa e pela mala é realmente o mais triste em ti, és superficial e nunca vais ser feliz, um dia a lei do retorno vai bater à tua porta e cobrar todo o mal que me fizeste e o mal que já fizeste na vida. - a boca dele ficou entre aberta, talvez ele esperasse que eu gritasse ou perdesse a cabeça como ontem à porta do hotel mas sinceramente eu não podia descer ao nível da alma podre que ele carregava, virei as costas e caminhei para o balneário para me preparar para entrar ao trabalho.Ricardo
Bati o portão da minha casa e arrancei na minha mota com velocidade, precisava de esquecer esta miséria e ganhar muito dinheiro.
Quando cheguei ao casino tinha dois seguranças à porta, o jogo de póquer que ia participar ia ser à porta fechada , sabia que estava a meter-me na toca de lobos muito grandes, com um poder capaz de me destruir a vida ou até ceifa-la mas eu tinha de arriscar , a corrida que ia acontecer amanhã à noite podia valer 100 mil euros e tirar me desta miséria, só precisava de ganhar 5 mil euros para puder apostar amanhã à noite.
Caminhei calmante até aos seguranças e mostrei confiança.
- Ricardo Santos, estou na lista. - olhei para o segurança e depositei confiança nas minhas palavras.
Automaticamente ele abriu a porta do casino e deu-me passagem, o ambiente estava para lá de pesado, havia luzes LED em toda a parte da sala, muito fumo e cheiro forte a bebida.
Caminhei até à mesa iria apostar os 100 euros e sentei-me, estava rodeado por dois membros da máfia, dois chineses e um indiano, rapidamente a memória da Indiana sem vergonha veio à minha cabeça, a raiva que ela depositou na mochila de Hogwarts para me bater e as lágrimas ridículas de crocodilo que ela tinha na face, talvez amanhã vá fazer uma visita ao café onde ela trabalha, esmaga-la é uma diversão infinita.
- Quero apostar 100€ .- falei friamente depositando o dinheiro em cima da mesa, rapidamente a minha aposta foi aceite e iniciou o jogo, tinha de agradecer ao meu chefe foi ele que me colocou na lista.
O jogo decorreu no período de 2 horas, estava frente a frente com o indiano e a cara daquela maldita não me saia da mente, sentia um ódio tão grande dela que não me conseguia concentrar, acabei por perder o jogo e os 100€ que me restavam para o mês.
Abandonei o casino ás 4 da manhã, a minha visão estava meio turva pelas vodkas que tinha bebido e pelo odio que sentia dela, por causa dela perdi o jogo e o único dinheiro que me restava, precisava de encontrar uma maneira de entrar naquela corrida de amanhã à noite, era o meu único passaporte para sair desta vida miserável.
Estacionei a minha mota perto da entrada da Serra de Sintra, não queria ir para casa aquilo era um inferno pessoal, preferia dormir aqui mesmo na Serra do que olhar para aqueles dois miseráveis que eram meus progenitores.
Acabei por subir um muro e tentar dormir em cima do mesmo, mas o meu equilíbrio era pouco devido às bebidas que tinha ingerido e acabei por arranhar as pernas e um braço, ri que nem um louco, estava completamente sozinho e a dormir em cima de um muro, RIDÍCULO.
Quando acordei era perto das 7:21 da manhã, a minha cabeça doia e o meu corpo estava muito dorido, devido aos arranhões e ao facto de ter dormido em cima de um muro, desci devagar e subi na minha mota dirigi com velocidade até ao café onde aquela Indiana maldita trabalhava, estava louco de raiva por culpa dela perdi o jogo de póquer.
Sentei me numa mesa no interior do café e pedi um café, estava morto de dores de cabeça, precisava de um banho e comida mas só tinha 2€ na carteira acabei por tomar só um café.
Num vislumbre vi a mala de Hogwarts passar a porta de entrada do café, o corpo dela gelou e o pânico instalou-se na sua face, estava pronto para destrui-la com tudo mas aquela maldita proferiu palavras imundas, ofendeu-me e ainda tentou me dar uma lição de moral, mas quem ela julga que é para me humilhar? A maldita no fim de cuspir o seu veneno virou-me as costas e desapareceu da minha visão, nunca nenhuma mulher me enfrentou desta maneira e me desejou tanto mal.
Estava louco de raiva, queria destruir o mundo perfeito que ela tinha, foi quando me lembrei que ela tinha dito que a vida do pai dela dependia do dinheiro que ela ganhava no hotel, foi quando uma ideia brilhante me veio à mente, e se eu fizesse com que ela perdesse o trabalho no hotel? Afinal era fácil visto que ela é fraca e muito bondosa para o mundo em que vivemos.
Eu vou destruir tudo aquilo que ela ama, vou arrancar dela toda aquela bondade e vou fazê-la odiar-se a si mesma tenho a certeza que a alma dela vai ficar podre e o mundinho perfeito dela vai ficar tão destruído que ela vai desistir de viver.
Vou assistir de camarote à queda daquela Indiana, vou-me rir de cada lágrima que ela deitar e do sofrimento que ela vai viver, afinal ninguém brinca comigo, NINGUÉM.
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Depois da tempestade vem a.. Calmaria?
RomanceAna e Ricardo são de "mundos" completamente opostos, mas o destino encarrega-se de cruzar a vida dos dois numa teia de ódio e amor. Será este casal capaz de enfrentar os obstáculos que os espera? Vem descobrir a história emocionante destes dois.