Dissipar

Capítulo 1

Às vezes, em noites como esta, Daemon se pergunta se talvez aqueles deuses em que ele não acredita possam realmente existir, e o estão punindo por suas contínuas blasfêmias. As últimas luas resultaram em nada além de ressentimento florescente em seu peito, contra tudo e todos, desde seu irmão, até o bastardo de Hightower, até a porra do próprio reino.

Ele bebe vinho velho enquanto alguma prostituta tenta melhorar seu humor com toques suaves em suas roupas e armadura, e realmente que imagem miserável ele deve fazer. Parece que nem mesmo uma noite de limpeza da cidade derramando rios de sangue de criminosos pode levantar seu ânimo, muito menos alguma prostituta barata sussurrando sabe-se lá o que em seus ouvidos.

Pelo menos seus homens estão se divertindo, ele pensa amargamente, enquanto o bordel treme e se agita com o som de suas risadas e trepadas. Daemon bufa em sua xícara. Eles poderiam muito bem aproveitar os frutos de seu trabalho enquanto ele fica sentado e de mau humor, em vez de se enterrar em alguma garota.

Na verdade, as últimas luas não foram boas para ele. Em poucos dias ele perdeu a sua boa irmã, foi retirado da linha de sucessão e delegado apenas como um fardo para o seu irmão, e também para o resto do reino. Até mesmo a euforia de ter sido libertado de seu horrível casamento com Rhea durou pouco, pois seu irmão anulou uma união para apenas formar outra. Mesmo assim, para a filha de Otto Hightower, o homem responsável por toda a bagunça em primeiro lugar.

Ele zomba lembrando do dia em que a notícia foi dada. Por mais que Daemon tentasse argumentar, por mais que raciocinasse, gritasse e raciocinasse novamente, Viserys não se deixaria influenciar. O próprio Otto tentou negociar da mesma forma, mas tudo caiu em ouvidos surdos. Viserys estava convencido de que estava fazendo uma coisa boa, ao que parecia, por mais infeliz que fosse o caso.

Ele teve que admitir, a contragosto, que era uma boa jogada política, a coisa certa para o reino, como seu irmão proclamara repetidas vezes. Amarrar Daemon em outro casamento que ele não queria, apaziguar Reach, Hightowers e Faith com um casamento político de alto nível que apenas perturba Otto e suas ambições e, o mais importante, manter Daemon longe do trono e da nova princesa herdeira , enquanto o próprio Viserys se prepara para se casar com um Velaryon para garantir outra aliança e apaziguar mais parentes com quem ele não se importa. Tudo para o bem do reino.

O único consolo que Daemon pode encontrar é que ninguém parecia feliz com seu novo casamento, fora Corlys Velaryon, é claro. Viseys podia tagarelar sobre como ele estava fazendo isso para o bem de Daemon e como era disso que o reino precisava, enquanto parecia que alguém havia cuspido em sua comida quando ele anunciou isso. Daemon revirou os olhos, sem acreditar que seu irmão quase tivesse caído no plano estúpido de Otto de fazer sua filha se casar com o rei.

Rhaenyra olhou para ele com olhos tristes, como se pudesse fazer algo a respeito. E então ela olhou para a nova noiva de Daemon com tanto sarcasmo e raiva, antes de sair furiosa da sala. Daemon também revirou os olhos. Por mais que gostasse de sua sobrinha, ele não conseguia evitar o ressentimento por eles o estarem substituindo por uma garota imatura.

Otto, é claro, também parecia chateado, mas fez o possível para manter o rosto impassível enquanto agradecia ao rei pela honra. Anos tentando irritar o homem treinaram Daemon para detectar os sinais de descontentamento em seu rosto, e Otto não ficou feliz naquele dia. Serviu bem para ele, realmente. Era o mínimo que ele merecia por ter-lhe tirado o título de herdeiro.

E a pequena esposa de Daemon não ficou... satisfeita, mas não chateada. Assim que Viserys anunciou que planejava se casar com Lady Laena Velaryon, seus ombros caíram de alívio e ela sorriu. E quando o noivado foi anunciado, ela olhou em choque para o rei, depois para o pai e, finalmente, para o próprio Daemon, antes de fixar os olhos no chão e não voltar a olhar para cima.