Capítulo 2 - Arrivée

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Após horas de viagem, cheguei a Paris, peguei minhas malas e fui à procura da minha tia. A viagem tinha sido bem tranquila, como fui em um voo direto não tive que me preocupar tanto em relação a minha segurança, mesmo que tudo tivesse ocorrido bem, eu estava exausta, ficar tanto tempo em um avião cansa muito, mal esperava chegar em casa.
Logo avistei ela de longe segurando Pierre no colo, um bebezinho lindo de 1 ano com cabelos loiros com pequenas ondulações, pele "parda" e olhos verdes , se destacando em meio a multidão com seus cabelos longos, cheios, ruivos e cacheados, sua pele escura que chegava a brilhar com o sol batendo sobre ela.
Havia tanto tempo que eu não via minha tia, fiquei pasma, que genética abençoada.

Fui correndo em sua direção, ansiosamente.
— Titia!!
— Hanna! Como foi a viagem, meu amor?
— Foi bem. E como vocês estão?

— Estamos bem. Pierre dormiu durante o caminho todo, então não me deu trabalho... Mas você veio sozinha?
A sua feição de preocupação, demonstrava os seus traumas, traumas esses que justificavam o porquê de sua voz trêmula, mesmo que eu tenha insistido para ela ficar em casa, sem se sujeitar a tamanho desconforto, ela veio. Me senti culpada sabendo que a culpa não era minha, tinha me oferecido para pegar um táxi ou um trem, mas ela achou perigoso demais e disse que viria me buscar, sem necessidade, eu sei me virar! Eu tenho autonomia suficiente. Me senti um tanto quanto infantilizada, mas ela sempre teve esse jeito preocupado, então relevei e deixei ela vir.

Limpei a garganta e disse:

- Vim sim, mas tá tudo bem.
- Ah...Que bom. Coloque suas coisas no carro.

Assim eu fiz, levei tudo ao porta-malas do carro. A viagem para casa seria longa já que minha tia mora em uma cidade a mais ou menos 1 hora de Paris.

Aproveitei para vislumbrar a paisagem, era um vasto campo verde repleto de pequenas flores coloridas, um lugar tão romântico, parecia extraído de um filme. Estava encantada, queria morar aqui. Contraditório, né? Temi tanto e cheguei a relutar muito para vir, agora que cheguei me sinto "bem". Pela primeira vez o silêncio chegava a ser reconfortante, nunca gostei dele por conta dos meus pensamentos, faço muito barulho, penso demais. Em meio aos meus devaneios, quanto mais me afundo em minhas paranoias, tentando encontrar o conhecimento acabo vendo a minha própria ignorância. Não gosto disso, me incomoda, por isso prefiro me manter ocupada, para não viver a minha inquietação.  Mesmo me sentindo desse modo, minhas ponderações são intrusivas, aparecem a toda e qualquer hora, estragando a boa sensação do momento, como agora.
Inclusive, tudo isso era tão estranho, porque eu tive que vir sozinha? Parando para pensar agora, se minha tia está precisando de suporte ou qualquer coisa do tipo, meus pais deveriam ter vindo. Até porque, não é obrigação minha fornecer esse tipo de apoio pra ela, eu tenho só 16 anos, tudo bem eu ajudar com certas coisas, mas eu não posso dar amparo a ela e me sinto culpada por isso. Se minha mãe é tão próxima da minha tia, porque ela não veio? E ainda por cima não me deram um dia para voltar, fazendo tudo ainda mais sem sentido. Tão infundado que me levava a permanecer nesse loop; pensando, questionando e parando, não chegando a lugar algum. Perguntar não adiantaria de nada, meus pais não me responderam, então não havia mais ninguém para replicar meus questionamentos além de mim mesma. Só me resta criar alternativas loucas e nem isso eu consigo fazer, até porque, para mim, não existe uma razão iminente que explique tudo isso. Assim, me torno refém de minha própria mente, me cansando tanto que caí no sono, acordei com minha tia me chacoalhando levemente.

— Chegamos. Pode pegar suas malas por favor? eu vou levar o Pi para dentro e já venho te ajudar okay?

— Posso sim.

Esfreguei os olhos e saí do carro, logo vi como era a casa, linda, rústica, com um amplo jardim e vinhas se ramificando sobre as paredes de fora.
Então abri o porta-malas e coloquei as bagagens no chão.

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