Capítulo 1

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O Prólogo de Sanem


Mira Estrela, 2 de dezembro de 1913

Eulália Benedict Camponelle já estava a madrugada inteira em trabalho de parto no casarão da fazenda Estrela.

Apesar de todos os esforços, o dia amanhecera sem que Sanem, sua tia-avó e avó de seu marido, Ferit Camponelle, pudesse fazer algo a respeito, embora tivesse vasta experiência em partos e de ter se formada em Medicina — a primeira mulher de seu país a conseguir esse feito, apesar de constar outra coisa nos registros históricos, dando o mérito à Rita Lobato Velho Lopes.

Conforme me contou minha bisavó, Rita não fora a primeira, e acredito no relato dela, não sei dos detalhes de como foi isso, mas no momento certo saberei e poderei explicar melhor em ocasião oportuna, quando chegar o momento de contar a história da minha ancestral Sanem Benedict, que depois se tornou uma Camponelle através do casamento.

Apesar de todos os esforços, o dia amanheceu sem Eulália dar à luz.

Quando uma intervenção cirúrgica já estava sendo cogitada, Sanem Benedict conseguiu retirar as crianças. Sim, gêmeos. Dois meninos. Adam e Adrian.

A porta do quarto rangeu, fazendo Ferit Camponelle levantar em um salto, e a figura da matriarca dos Camponelles surgiu, o olhar cansado e o avental sujo de sangue.

— Nasceu! — anunciou ela.

— Eu quero vê-los — disse Ferit, muito aflito após passar a noite toda em claro ouvindo os gritos da esposa.

— Espere, meu neto, antes tenho algo a dizer — disse Sanem, bloqueando a entrada da pesada porta de madeira atrás de si.

Foi então que Ferit percebeu. As feições de sua avó não eram totalmente de boas novas. Havia um fio de contentamento, mas nele passava um largo rio de lamentação.

— Lale... ela? Não, Senhor, não! — alarmou-se Ferit, passando os dedos em sua cabeleira castanha-escura com nuances sutis avermelhadas, semelhante à do pai. Os olhos mel vidrados.

— Ela está bem... sobreviveu... mas um dos bebês, infelizmente... — revelou ela, com a mão no peito do neto, sentindo sob seus dedos o coração dele disparar como um cavalo de corrida após o tiro de largada. — Eu sinto muito!

Ferit estava tão atordoado que não se dera conta de que, ao abrir a porta, a avó dissera nasceu, em vez de nasceram.

Claro que mesmo natimorto, o outro bebê havia nascido também, mas a intenção de Sanem era dizer que apenas um nascera com vida.

Devido à vasta experiência de Sanem, e a grande incidência de gêmeos na família, sabiam há meses que eram duas crianças.

— Eu quero vê-la, agora.

Sanem abriu passagem para o neto, que entrou no amplo aposento a passos lentos.

A esposa estava muito pálida sobre a grande cama de madeira, os lábios esbranquiçados, o rosto banhado pelas lágrimas, segurava com cuidado o bebê, como se ele estivesse prestes a ser tirado dela, acariciava contemplativa os dedinhos da criança.

Ferit então procurou pelo outro gêmeo, estava no cesto de vime, perto da cama. Assustou-se ao perceber algo estranho. O menino parecia ter se mexido. Voltou a olhar para a esposa, ela olhava com profunda tristeza para o inerte bebê em seus braços, em um lamento silencioso pela curta vida do filho.

O primeiro morrera antes de nascer, obstruindo a passagem do segundo. Estava com o cordão enrolado ao pescoço. Quando Sanem conseguiu tirar o gêmeo morto, foi fácil puxar o vivo, ele estava com um dos pés enrolado no cordão umbilical do irmão.

Havia em todos os presentes um sabor agridoce.

Estavam felizes pelo bebê vivo, que ficou com o nome de Adam, embora este fosse o nome destinado ao primogênito, mas entenderam que ao nascer morto o primeiro bebê, passou automaticamente a primogenitura ao vivo.

Um era o primeiro filho do casal Ferit e Eulália, mas o outro era o primeiro a nascer com vida. Então os nomes foram trocados. O morto fora sepultado como Adrian, e o vivo registrado como Adam.

Contudo, apesar da felicidade pelo nascimento de Adam, e por Lale ter sobrevivido ao parto, o luto se estabelecera, como não poderia deixar de ser. Estavam exaustos da noite de tormenta que passaram.

E assim Adam veio ao mundo, com o peso de uma morte em suas costas. Estigma que iria acompanhá-lo por toda a sua vida.

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