Anjo ou demônio?

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Uma semana depois Verônica esperava ansiosamente a loira na porta do banheiro, no aeroporto. Os dias depois do reencontro haviam se tornado um enorme borrão, Torres se acumulava de coisas para fazer e evitar pensar. As noites saia, ia na balada mais próxima e pegava as primeiras mulheres que conseguia. Era imaturo, mas sexo dava a garantia de um sono rápido e levemente duradouro.

Anita se entupiu de livros, lia compulsivamente Clarice Lispector. A loira não sabia lidar com sentimentos, evitava a todo custo sentir e resentir qualquer coisa, mas não dava para brincar quando se era relacionado a Torres. Tudo o que Berlinger fazia era automático, acordar, trabalhar, comer, ler, beber e dormir. Arrumou as malas as presas, evitava pensar na viagem a qualquer custo. Nenhum ato faria o cancelamento ocorrer, teriam que se encarar, independentemente do que fosse custar.

-Vamos!- a morena escuta e logo o perfume invade suas narinas. De um lado, Torres sentia rodopios em sua cabeça. Seus jeans habituais e sua regata, se assemelhavam a espinhos. Sentia o lápis de olho começar a coçar, o calor ja queria dar as caras, e o ar condicionado do aeroporto se fazia presente.

Anita observava Torres passar com indiferença, o cheiro de Torres, o cabelo jogado e o recém óculos escuros. As roupas de grife da loira ja não eram suficientes para um olhar de Verônica, isso fez com que Anita se sentisse suja. Seu vermelho de sempre não era mais sobre amor, era sobre sangue.

O caminho até lado de fora se seguiu de maneira rapida, ambas lado a lado, sem se conhecer. Quem olhava as duas de cima a baixo, via uma Torres segura de si, via sua irá transcender seu espírito, via mágoa em seus passos rapidos. Quem preferia Berlinger, notava alguém com bom gosto pela alfaiataria cara e mala escolhida a dedo. A segurança e imponência faziam parte da mulher. Mas nada de sentimentos, apesar de ser uma menina quebrada, não se via facilmente.

-Boa tarde! Eu gostaria de alugar um Civic Tiper R preto, por gentileza!- Berlinger se apresenta ao senhor que trabalha com aluguéis de carro, Verônica precisou segurar para não acabar revirando os olhos.

-Boa tarde, senhorita! Ja vou verificar.- o senhor se retira rapidamente do guiche, deixando as duas a sós.

-Precisa de um carro caro?- Torres questiona, não aguentando a própria língua.

-Que foi, escrivã? Se fosse uma moto, você iria atrás da melhor, uh?- Anita rebate.

-Olha aqui Anita, se acha que vai se crescer pra cima de mim, ta enganada!- Verônica começava a sentir o calor subir pelo pescoço, ao impulso tirou os próprios óculos.

-Mas eu sou grande, ou é você que vai assumir o cargo de Delegada Geral da DHPP, escrivã Verônica?- Anita arqueia uma das sobrancelhas, sorrindo de lado, tomando os óculos de Verônica para si. Antes que Verônica pudesse responder, o senhor volta, questionando por documentos e pagamento adiantado.

No carro alugado o silêncio reinava, incomodando ambas as mulheres, Torres vez ou outra batia os pés no tapete, e Berlinger cutucava uma pele invisível na lateral dos dedos. As ruas estavam lotadas, a temperatura era quente, blocos para todos os lados, teriam que agir se quisessem encontrar algum suspeito.

-Você não sabe dirigir mais rápido?- Verônica pergunta séria.

-Você não está no carro? Você aparentemente não estava dentro dessa merda nos últimos 20 minutos, olha aqui o aplicativo, falta 30 minutos.- a loira falava calmamente, apesar de ouvir a irritação na voz de Verônica. Que bufa em resposta, estando cada vez pior.

Com muita dificuldade pelas ruas cheias de foliões, musicas altas e sol quente. Ambas chegaram juntas ao Wish hotel da Bahia, rapidamente falaram com a atendente e a chave do quarto ja estava em posse da loira.

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