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Lance revirava as páginas de seu histórico de próteses, mas sua feição confusa permanecia ainda mais a cada folha revirada

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Lance revirava as páginas de seu histórico de próteses, mas sua feição confusa permanecia ainda mais a cada folha revirada.

- Que estranho.

- O quê? - Cinco pergunta estreitando o olho para a pasta.

- O olho, ele não foi comprado por um cliente, ainda.

- Quê? Como assim? - Klaus pergunta se sentando ao lado do homem, com sua testa sangrando.

- Fala sério - Kate resmunga revirando os olhos, sabendo que aquilo era uma total perca de tempo.

- Bom, de acordo com os registros, o olho com esse número de série... não pode estar certo. - Lance fala observando atentamente a pasta com os números de séries das próteses. - Não foi nem fabricado ainda. Onde foi que achou esse olho? - Ele pergunta para Cinco.

Cinco expressava uma feição indecifrável em seu rosto, mas seu maxilar travado mostrava pura indignação.

- Ah, isso não é nada bom. - Cinco informa aos irmãos.

Enquanto caminhavam até a fora, Kate tentava manter o máximo de distância de Cinco para que pudesse se controlar, já que em alguns momentos sua raiva falava mais alto.

- Ah, mas e a minha atuação? - Klaus pergunta - "E onde é que fica o meu consentimento? Babaca!"

- Klaus não importa. - Kate corta o homem.

- Quê? Que que é? O que tem esse olho de tão importante?

- Tem alguem que vai perder o olho nos próximos sete dias - Cinco explica exaltado, passando na frente de Kate. - E isso vai causar o fim da vida na terra e tudo que conhecemos. - Ele completa, deixando Klaus para trás.

- Tá, será que você pode pagar minhas vinte pratas?

- Suas vinte pratas? - Kate pergunta indignada, passando a língua sobre os dentes. - O apocalipse tá se aproximando e só consegue pensar em ficar chapado?

- Na verdade, também tô com fominha. Tô com a barriga roncando. - Klaus brinca, fazendo barulho com a boca.

- Você é inútil - Cinco diz incrédulo. - Todos vocês são inúteis.

- Ah, para com isso. Você tem que relaxar, seu velho. - Klaus diz se sentando no degrau que havia ali. - Vem cá, eu já sei. Acho que já entendi o por que você é tão irritadinho. Você deve estar com um tesão reprimido. Esses anos todos sem ninguém, isso deve deixar qualquer um maluco né? Ficar sozinho. - Klaus diz após Cinco se sentar ao lado dele, e Kate ao lado do adolescente.

- Não tava sozinho. - Cinco diz, fazendo Kate sentir uma pontada em seu peito.

- Não? - Klaus pergunta. - Me conta.

- A mulher da minha vida. - Cinco diz pausadamente. - Ela era linda, a mais linda que eu já vi. Ficamos juntos por mais de trinta anos.

- Trinta anos? Caramba! O máximo de tempo que eu fiquei com alguém foi... Sei lá, três semanas? E foi só porque eu tava cansado de ficar procurando outro lugar para dormir. - Klaus diz, mas em segundos, Cinco já havia saltado do lugar, levando Kate consigo. - Se bem que ele na cozinha era fantástico. O ossobuco que ele fazia... - Klaus gesticula com as mãos, mas percebendo a ausência de seus irmãos no local. - Cinco? Kate?

Com Kate, em questão de segundos a garota se via em um lugar totalmente diferente do que estava antes, mas dessa vez dentro de um carro em andamento.

- Não para. Segue em frente. - Cinco diz.

Enquanto passavam pelo local que Klaus estava, o garoto lhe da um pequeno aceno pela janela.

- Ou, ou, ou. - Klaus chama. - Eu quero minha grana!

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De noite, na mansão Hargreeves, Kate se sentava no jardim da casa para observar as estrelas como sempre fazia em sua infância.

Desde o desaparecimento de Cinco e o falecimento de Ben, Kate se sentia tão solitária quanto nunca, e a estrelas a lembravam de que nunca estaria realmente só.

Kate gostava de se lembrar como era com Cinco antes de tudo acontecer, de como sempre corriam pela casa um atrás do outro, e de como nunca faziam nada sem sua companhia.

Quando o garoto saltou no tempo, sua vida se tornou triste e vazia, não pertencia mais ao jardim da felicidade.

Muita vezes, a garota não podia evitar o quão o menino ficaria orgulhoso se a visse quando conquistava algo, e de fato, ficaria.

Enquanto se perdia em seus pensamentos, não havia percebido uma pequena presença parada há alguns passos de si.

- Sozinha? - Ela ouve a voz ecoar, e muito reconhecida, uma voz que cuidará de si muitas vezes quando criança, Pogo.

- Sempre. - Ela responde sem ao menos se virar, mas ouvindo os passos se aproximarem.

- Não sabia que gostava de estrelas.

- Passei a gostar quando Cinco desapareceu. - Ela diz, ainda sem tirar os olhos das constelações. - Eu me sentia sozinha, e me lembrava de que eu nunca realmente estaria.

- Nunca esteve. - Ele diz, olhando para a garota de costas para ele.

- Receio que não seja uma afirmação correta. - Ela ri. - Quando Cinco desapareceu e Ben se foi, eu não tinha mais ninguém. - A garota suspira. - Eu não dançava, não sorria, apenas treinava incansavelmente todos os dias e todas as horas.

- Você sempre foi muito mais forte do que imagina, Kate.

Nesse momento, pela primeira vez, a garota se virava para enxergar a imagem do chimpanzé que falava com ela.

- Isso é um elogio, Pogo? - Ela ri.

- É melhor entrar para dentro, Senhorita. Vai chover. - Ele alerta.

Assim como alertado, a garota se levantou e seguiu até a casa, onde se encontrou com uma figura tanto quanto familiar, mas com uma feição brava.

- Cinco? - Ela diz o reconhecendo, mas avistando buracos de sangue em seu braço. - O que aconteceu? Quer ajuda? - Ela diz levantando o braço até o local, mas Cinco lhe impediu bruscamente.

- Não há nada que possam fazer. Nenhum de vocês pode ajudar.

Ao sentir seu pulso formigar, a garota retira bruscamente seu braço da mão do garoto.

- Fala sério. - Ela suspira, passando a língua pelos dentes. - Você só me descrimina desde que chegou aqui.

- Isso não é verdade. - Ele diz em tom ameaçador.

- Não é? Então me deixe ajudar e pare de ser tão rude. Cinco, você sumiu por quinze anos, todos nós achavamos que você voltaria para nós e principalmente a mim. Eu achei que voltaria para mim, mas nunca aconteceu. Então olhe, eu fui muito mais paciente do que deveria por todo esse tempo, mas você não merece nada disso. Sentimentos mudam, Cinco, mas os meus nunca mudaram. - Por fim, a garota termina sua fala saindo bruscamente de perto do menino.

- Os meus também não. - Ele responde quando a menina estava em um lugar inalcançável, em um tom para que só o mesmo ouvisse.

𝐼 𝐿𝑜𝑜𝑘 𝐴𝑓𝑡𝑒𝑟 𝑌𝑜𝑢. • 𝐹𝑖𝑣𝑒 𝐻𝑎𝑟𝑔𝑟𝑒𝑒𝑣𝑒𝑠.Onde histórias criam vida. Descubra agora