A artista/ Billie Eilish

Capítulo 42

POV da Rose

"Então, é, acho que quando chegarmos em casa eu vou só... Billie?"

Minha namorada levantou a cabeça do celular, arqueando as sobrancelhas enquanto me observava.

"Sim?"

Suspirei baixinho, sentindo uma leve raiva subir no peito ao vê-la fixar os olhos no celular de novo.

Desde que ela postou sobre nós, ela tem estado estranha comigo. Entendo que foi estressante e muita coisa vai mudar agora, mas achei um pouco esquisito como ela começou a se distanciar depois que deveríamos ter mais liberdade.

"Então," ela começou, limpando a garganta enquanto jogava o celular de lado e ia até a geladeira, abrindo a porta para espiar dentro. "Tenho uma viagem de negócios quando voltarmos. Alguns dias. Eles não estão levando essa coisa de 'sair do armário' numa boa."

Cerrei os dentes ao ver a garota de cabelo verde pegar uma água e voltar correndo para o sofá, onde retomou exatamente de onde parou no celular que estou tão cansada de ver. Sentindo minha respiração ficar um pouco trêmula, murmurei rapidamente algo sobre precisar de ar, peguei a chave do quarto no balcão e saí, fechando a porta pesada suavemente atrás de mim.

POV da Billie

Exalei o ar que não percebi que estava prendendo assim que Rose saiu do quarto.

As vozes abafadas da TV, o zumbido do ar condicionado e a música suave flutuando pela sala de fora começaram a martelar na minha cabeça, e bati a porta do quarto antes de deslizar as mãos pelo cabelo. Minha testa encostou na parede de papel florido enquanto eu fechava os olhos, qualquer barreira que tive nas últimas horas para não chorar se quebrando enquanto uma lágrima escorria pela minha bochecha.

Eu não entendo como deixei chegar a esse ponto.

De novo, não.

Essa era a velha eu, a velha eu que não tinha responsabilidades ou milhões de pessoas assistindo cada movimento meu ou que não estava apaixonada.

Sempre fui obcecada por autodestruição. Nem sei por quê. Não machuca ninguém tanto quanto me machuca, e ainda assim, por algum motivo, tudo que posso fazer é esperar até me sentir bem com a minha vida e depois pensar em uma maneira de estragar tudo de uma vez.

Não sei se é mais uma atitude de 'ninguém pode me machucar se eu machucá-los primeiro' ou se é outra coisa completamente diferente. Eu costumava não me importar. Eu podia ver 8 caras de uma vez e não dar a mínima, porque nenhum deles realmente se importava comigo, então, e daí se eles tinham que compartilhar? Eles encontrariam outra pessoa para brincar, e tudo bem para mim porque eu teria outros 7 caras para contar. Naquela época, se eu pensasse em estar errada, e se eles realmente se importassem?, eu não conseguia lidar. A culpa era esmagadora, consumidora.

Mas, isso foi há anos.

Eu sabia que estava errada, então parei.

Até eu conhecer Rose.

Ok, ok, espera. Sei que todos vocês estão muito putos comigo, o que é compreensível. Eu também estou, sempre.

Mas.

Vocês precisam me ouvir.

Eu estava 'com' Aiden antes mesmo de conhecer Rose. Conheço ele há anos, ele costumava ser meu melhor amigo, e estamos juntos há muito tempo. Ele é conforto, ele é segurança.

Eu o amo?

Claro que não.

Eu amo que ele me ama?

Com certeza.

Essa é a única razão pela qual sempre o mantive por perto; ele me diz coisas boas, ele me chama por nomes carinhosos - nunca acreditei em nada do que saiu da boca grande dele, mas a atenção era tudo o que eu sempre quis.

Ele sempre esteve em segundo plano, e ele sabe que nunca é minha primeira opção. Mas ele sabe que é uma opção. Uma opção constante, na verdade - uma opção a que me acostumei demais nesses últimos anos. Ele espera isso, eu nem penso sobre isso.

Mas, agora, está tudo diferente. E nunca foi tão diferente antes.

Rose.

Rose é um anjo. Eu sei que ela é, e posso jurar pela minha vida que não há um segundo do dia em que isso não esteja na minha mente. Todos esses caras nojentos que têm amantes e jogam com suas namoradas como se fosse um jogo, eu não sou assim. Eu sei que não sou. Eu a amo; eu a amo com tudo que tenho e nada vai mudar isso.

Ela foi uma luz que eu nunca encontrei antes. Desde o momento em que a vi, quando esbarrei nela atrás do local do show, senti profundamente na minha alma que aqueles olhos castanhos iam me ferrar de uma maneira ou de outra.

Ela é gentil, ela é suave - ela me trata como se eu merecesse tudo de bom que ela pode oferecer. E, eu não mereço. Ela merece, e eu não dou isso a ela. Eu a beijo na bochecha uma vez, e isso enche a cabeça dela por horas, distraindo-a enquanto eu vou e tranquilizo meu namorado.

Eu me faço passar mal. Você não precisa me dizer, eu já sei.

Não estou pedindo piedade. Sei que isso é uma merda, mas prometo que não sou como esses outros caras.

Eu não vou machucá-la. Ela nem vai descobrir.

E, eu sei que deveria terminar com Aiden. Inferno, eu deveria ter terminado com Aiden quando a luz vermelha dançava contra a pele dela e Summertime in Paris estava nos alto-falantes e seus lábios estavam contra os meus.

Mas, eu não terminei. Senti que não podia. O pensamento de ficar sem ele me apavora - não porque eu me importo, mas porque ele está lá, e se Rose descobrir o quão babaca eu sou e terminar comigo, eu não terei ninguém para correr e vou ficar sozinha.

Sozinha.

Ficar sozinha é algo com que estou familiarizada, mas não é algo em que sou boa. Ficar sozinha é perigoso. E, o pensamento de ficar sozinha depois de Rose? Caramba, cara. Nem vamos pensar nisso.

Todos os dias meu dedo pairava sobre o botão de chamada, e um milhão de maneiras de terminar com ele passam pela minha mente. E então, há uma desculpa. Ou estou ocupada. Ou Rose está de volta.

E não acontece.

E, com certeza, não vai acontecer hoje.