Capítulo 6

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🧱🧊

Jimin normalmente não se irritava facilmente. Na verdade, a maioria das pessoas que trabalhavam com ele achavam que ele era frio e sem emoção - ele realmente ouviu seus subordinados chamá-lo de idiota sem emoção com um pau na bunda. Era uma imagem que Jimin havia cultivado. Era uma imagem da qual se orgulhava.

Mas agora ele estava o mais longe possível da emoção. Ele fervia toda vez que olhava para Jungkook durante o almoço. Por sorte, eles estavam sentados bem longe um do outro, ou Jimin provavelmente não teria conseguido comer nada. Seu apetite se foi toda vez que ele olhou para a ponta da mesa – para a cabeceira da mesa. Por que aquele idiota estava sentado na cabeceira da mesa, exatamente? Era absolutamente repugnante a forma como todos se curvavam para trás tentando não irritá-lo. Mesmo Kim, que normalmente tinha um ego grande o suficiente para dois, estava quieto e cauteloso enquanto observava seu meio-irmão com olhos escuros ilegíveis.

Era um pequeno consolo que pelo menos ninguém parecia gostar do idiota. Respeitavam Jungkook, a maioria claramente o temia, mas não havia uma única pessoa na sala que o olhasse com bondade. Se Jungkook não fosse um idiota tão importante, Jimin teria sentido pena dele. Mas do jeito que as coisas estavam, ele entendia totalmente por que ninguém gostava dele. Quem gostaria daquele presunçoso, arrogante…

— Se você continuar olhando para Jungkook, Taehyung pode ter uma ideia errada.

Afastando o olhar, Jimin o desviou para a jovem pequena sentada à sua direita: Hwan, a prima mais nova de Kim.

Hwan sorria torto, como as pessoas sorriam quando não sabiam o que pensar.

— Eu não estava olhando. — Jimin afirmou, pegando seu café. Estava frio. Ele estava distraído.

Com uma expressão cética, Hwan ergueu as sobrancelhas finas e escuras.

— Entre você e eu. — Ela murmurou apenas para os ouvidos de Jimin. — Eu costumava olhar para Jungkook também, quando eu era adolescente - ele não é realmente relacionado ao meu sangue, você sabe. — Ela estremeceu, parecendo um pouco envergonhada. — Ele foi deliciosamente proibido: um parente, mas não um realmente, com uma história trágica e uma bela aparência. — Ela bufou. — Eu era uma garotinha estúpida. Eu sei melhor agora.

— O que você quer dizer? — Jimin perguntou, contra seu melhor julgamento. Ele tomou um gole de café frio apenas para parecer indiferente.

— Jungkook é... — Sua expressão ficou sombria antes de balançar a cabeça e sorrir. — Ele está tão fora do meu alcance que nem é engraçado. Se ao menos você visse as mulheres que fazem companhia a ele... Lindas de morrer, cada uma delas.

Jimin teve a sensação de que não era o que ela pretendia dizer, mas fingiu acreditar nela, apesar de sua curiosidade ardente.

Seu olhar voltou para o homem em questão, mas ele rapidamente desviou o olhar quando percebeu que Hwan ainda o observava. Ele não estava olhando, caramba.

Jimin esfaqueou a salada em seu prato com o garfo.

— Então, a luta pela posição de cão de topo acabou? — Ele murmurou. — Todo mundo parece ter descoberto suas barrigas e se submetido a ele como uma cadela.

Hwan riu.

— Eu gosto de expressões em coreano, elas são tão engraçadas. — Ela tomou um gole de chá e deu de ombros com um ombro delicado. — Parece que acabou não oficialmente. Tio Josef era o último que ainda estava tentando enfrentar Jungkook, mas bem... acho que agora acabou. Francamente, o único que tinha chance de ir contra Jungkook sempre foi Taehyung. Ele certamente tem a força de caráter, inteligência e coragem, e ele é o herdeiro de sangue, mas ele é tão coreano hoje em dia. — Ela disse a palavra como se fosse algo pouco elogioso. Talvez fosse. — Se ele estivesse interessado, as coisas teriam ficado muito mais interessantes, digamos, mas Taehyung deixou bem claro que não tem interesse em voltar para a Itália e assumir os negócios da família.

— Então o rei está morto, vida longa ao rei atual, simplesmente assim? — Jimin franziu a testa. — Mesmo que a maioria das pessoas na mesa odeie a coragem de Jungkook?

Hwan deu um pequeno sorriso torcido.

— Jungkook não quer nossa aceitação ou amor, Yoongi. Ele é respeitado, temido e obedecido, e isso é tudo o que ele quer. Ele não é de sentimento. Ele não tem um osso sentimental em seu corpo.

Jimin franziu a testa novamente. As palavras de Hwan confirmaram as de Kim, mas ainda eram difíceis de acreditar. Era da natureza humana ansiar por aceitação social e afeição. Como poderia um ser humano normal sobreviver sem um pingo de afeto ou sentimento positivo em sua vida? Mas se Jungkook fosse mesmo um sociopata, talvez nem entendesse de afeto.

— Eu o vi com uma mulher ontem à noite. — Jimin comentou. — Mas ela não está aqui. Ele tem uma namorada?

Hwan riu.

— Uma namorada? Acho que essa palavra não está no vocabulário dele. Ele raramente dorme com a mesma mulher duas vezes. Ela provavelmente já foi embora, elas não passam a noite. Ele não dorme quando há outras pessoas no quarto.

— Ele é tão paranóico?

Hwan deu de ombros.

— Acho que a paranóia se justifica, considerando que as pessoas tentam matá-lo durante o sono desde que ele era adolescente. Uma vez que ficou óbvio o quão alto o 'bastardo' estava mirando, isso irritou muita gente. Mas ele sobreviveu, e a adversidade só o fortaleceu.

Jimin sentiu uma pontada de tristeza. Jesus. Tentar assassinar um adolescente durante o sono... Ele só podia imaginar como isso afetaria uma criança durante seus anos de formação.

Jimin olhou de volta para o homem de olhos frios na cabeceira da mesa, sem saber o que sentir.

— Zio Jungkook! — Exclamou uma voz infantil antes que uma pessoa baixinha subisse no colo de Jungkook. A garotinha gordinha, com não mais de quatro ou cinco anos, deu um beijo forte na bochecha de Jungkook, dando-lhe um sorriso doce e tagarelando sem parar em italiano.

— O que? — Jimin sussurrou, olhando para a visão estranha. Jungkook não sorria para a garota — sua expressão era levemente sofrida e irritada —, mas tolerava ter uma criança muito barulhenta no colo com surpreendente paciência.

Hwan bufou baixinho.

— Lana é a única pessoa da família que não tem medo de Jungkook. Ela gosta dele.

— Quem é ela?

— Ela é filha de Josef. Eles devem ter chegado finalmente.

Jimin franziu a testa, olhando da expressão irritada de Jungkook para o rosto adorável da garotinha. Ela não parecia incomodada por seu desagrado visível.

Oh.

Antes que pudesse formular completamente o pensamento, ouviu-se o som de vozes adultas e um homem e uma mulher entraram na sala.

Um tipo estranho de tensão encheu a sala, todas as conversas parando.

Jimin podia deduzir que o homem com um rosto terrivelmente machucado era a pessoa de Josef de quem tanto ouviu falar. O cara que tentou matar Jungkook – e recebeu uma lição. A julgar pela maneira cuidadosa como ele se movia, a lição deve ter sido muito completa. Ele parecia ter uma ou duas costelas quebradas, mas estava fazendo cara de bravo, cumprimentando seus parentes com um pequeno sorriso.

Um sorriso que nenhum deles retornou, observando a reação de Jungkook.

— Lana. — Josef disse finalmente, olhando para sua filha e evitando os olhos do homem que ela estava sentada no colo. — Não incomode Jungkook.

Confundiu Jimin por que ele não estava falando em italiano, antes de perceber que um de seus parentes deve tê-lo informado da ordem de Jungkook para falar coreano, e Josef estava se esforçando para não irritá-lo.

Caramba. Fale sobre rolar e mostrar a barriga.

Jungkook estudou Josef por um longo e carregado momento, sua expressão impassível, antes de dizer:

— Estou feliz que você tenha conseguido vir. Rubella ficaria chateada se você perdesse o casamento. Sente-se.

Josef e a mulher, presumivelmente sua esposa Jenna, sentaram-se apressadamente, sorrisos tensos em seus lábios.

E então todos voltaram a falar, como se as pessoas nesta mesa não tivessem torturado ou tentado matar uns aos outros ontem.

Caramba, esta família era tão disfuncional.

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