- Mesmo no escuro, continue brilhando.
Londres, 1824
Minha irmã não parou de tagarelar desde que a Sra. Forbes nos contou que os dois filhos homens da família Lambert virão a Londres. Embora Elize, minha irmã mais velha, tenha outros pretendentes, ela não demonstrou muito interesse em nenhum, coisa que mamãe não tem gostado nem um pouco, no entanto, ela presa que isto seja uma escolha dela. Mamãe sonha que eu e meus irmãos e irmãs tenhamos um bom casamento, um casamento por amor, assim como o dela e de meu pai. Mas, fato é, assim que ela encontrar o marido perfeito para Elize, serei eu seu próximo alvo. Não que mamãe queira nos casar logo. Não, ela quer que tenhamos uma vida como a dela, uma mulher apaixonada pela família e o marido. Ela quer que sejamos felizes, entendo ela.
- Mal vejo a hora de conhecê-los. - Elize fala com empolgação. Nunca a vi tão empolgada para conhecer alguém, nem mesmo quando ela e Thomas Patel dançaram no baile da cidade, ele foi uma das paixões dela, ainda é, a não ser que ela se encante mais por um dos Lamberts.
-Devem ser rapazes formidáveis, acredito. Eram apenas crianças quando os vi antes de mudarem para o exterior - respondeu minha mãe com um leve sorriso para Elize.
Os Lamberts haviam mudado de Londres anos atrás, estiveram em diversos lugares desde então. O Sr. e a Sra. Lambert voltaram a Londres faz pouco mais de um ano com sua filha Sabrina. Tive a oportunidade de conhecer-lá no baile da família Patel, um dos poucos eventos em que os Lamberts compareceram.
- E você, querida? - Minha mãe me faz voltar dos meus pensamentos.
-Sim?
- O que acha da volta dos Lamberts a Londres...? - Um solavanco que faz chacoalhar toda a carruagem, interrompendo Elize. Foi tão forte que ela caiu sobre mim. Eu estava sentada ao lado de minha mãe e Elize a nossa frente, só não caí também, pois minha mãe segurou firme meu braço de onde estava.
- Mas o que foi isso? - Questionou minha mãe.
- A roda senhora, a roda se deslocou da carruagem. - O Sr. Miller, o cocheiro, falou já abrindo a porta com a mão estendida.
A carruagem está praticamente tombada.
- Venha, Elize. - A puxo para o meu lugar e tomo a mão do cocheiro. Ouço Elize e minha mãe se perguntarem se estão bem.
Ao sair tive que dar um pequeno pulo por conta de como a carruagem estava inclinada.
Pude ver o estrago assim que saí. A roda de trás havia rolado colina abaixo e, realmente, por pouco a carruagem não tombou.
O Sr. Miller se ocupou voltando para a carruagem ajudando minha mãe e Elize a saírem.
- Como vamos voltar sem carruagem? - Foi a primeira coisa que minha irmã perguntou ao sair. Típico.
- Voltaremos de a pé se for preciso, Elize. - Respondi.
Minha mãe foi mais ágil, com um pulo já estava com os dois pés firmes no chão e sem perder a compostura. Sorri para ela, como ela se mantém firme até quando estamos longe de casa e com um bom caminho para se percorrer a pé, caso não consigamos consertar a carruagem.
- Se não sabe, nossa casa não fica perto daqui, Charlotte. - Ela abre os braços para mostrar o lugar. A direita da estrada tem um grande campo com grama verde e é salpicado com pequenas flores brancas e a esquerda fica à colina onde, provavelmente, a roda caiu. A colina se inclina para baixo, é íngreme, mas acredito que consigo descer com certa facilidade.
Ignoro as reclamações da minha irmã e me ocupo na roda novamente. Quando faço menção de descer a colina pude ver onde a roda havia caído, em um lago no final da colina. Sequer dá para avistar a maldita roda. Deve ter afundado.
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Entre os Tempos
FantasyEm Londres do século 19, uma jovem moça se verá em meio a aventuras, descobertas e segredos a serem revelados. Em meio a sonhos estranhos e até inexplicáveis, Charlotte vai ter que lidar com diversas dúvidas. Ela vai ter que confiar em "estranhos"...