Vivendo o luto

281 37 18
                                    

A expressão "mais perdido do que cego em tiroteio" descreve muito bem como eu venho me sentindo desde a morte do meu pai.

Antes daquele fatídico dia tudo parecia estar indo bem, mesmo que eu me sentisse inseguro em relação a Temari, por que para mim tudo mudou depois que a gente transou, não queria mais continuar me escondendo, queria um relacionamento sério de novo, e um que fosse levado a sério dessa vez.

Mas até mesmo isso parecia estar se desenrolando sem muitos problemas, eu realmente sentia que podia ser totalmente feliz de verdade sem que me faltasse nada.

E aí como um desastre natural que não avisa antes de virar sua vida do avesso, o acidente aconteceu.

Em um momento meu pai estava bem, rindo e vendo jogo junto com a família do jeito que costumávamos fazer sempre, e no momento seguinte estávamos indo as pressa pro hospital de Sobral e eu estava perdendo meu pai antes mesmo que qualquer médico pudesse fazer qualquer coisa pra ajudar.

Assim que a notícia de que ele estava morto chegou, eu senti o chão sumindo de baixo dos meus pés, nunca vou conseguir esquecer o grito de dor que a minha mãe deu, era pura agonia e tristeza, por um instante achei que ela fosse morrer junto com ele.

O que aconteceu depois disso mais parece um sonho, eu estava lá, mas não estava sob controle de nada e não tenho ideia do que falei ou fiz, nem se falei ou fiz realmente alguma coisa. Estava totalmente no automático.

O mesmo aconteceu nos dias seguintes, eu mais parecia um figurante na minha própria vida, interpretando um papel e seguindo o roteiro, apenas fazendo o que esperavam que eu fizesse.

Mas nada parecia real, aquela não era a minha vida, minha ficha não caiu nem quando vi meu pai dentro daquele caixão, muito menos quando o vi sendo enterrado.

No meio de todo aquele preto e branco as vezes algumas cores surgiam, quando Temari não me travava como todos estavam tratando, quando eu conseguia sentir qualquer coisa, até a menor das emoções era válida, me fazia entender que eu ainda estava vivo, e eu me apeguei a raiva.

Era tão fácil estar com raiva, até por que não tinha como nada disso ser justo comigo, ou pelo menos não era nada justo com meu pai que sempre foi um homem bom, e não merecia de forma nenhuma morrer tão cedo menos ainda da forma que morreu.

E a minha mãe, coitada da minha mãe, perdeu o amor da vida dela assim de uma hora pra outra, foi por ela que eu continuei levantando da cama e fazendo tudo o que eu podia pra cuidar dela, pra não perdê-la também.

Agora estava sozinho, só restava nós dois e eu não poderia deixá-la sozinha, ainda era estranho não ter meu pai por perto, eu sentia que a qualquer momento ele ia passar pela porta com a bicicleta dele e uma sacola nas mãos.

Ou que ia bater na minha porta e conversar comigo, me dar concelhos sobre relacionamentos e sobre a vida e o homem que ele queria que eu fosse, o homem que eu queria me tornar.

Eu não fazia ideia que podia doer tanto assim, ficava tentando me agarrar nas memórias boas que tinha com ele e só sentia mais e mais vontade de vê-lo e falar com ele, eu só entendi que nunca mais teria isso na missa de sétimo dia, de alguma forma aquele ponto foi a virada de chave.

E doeu muito, me senti sufocando e morrendo aos poucos, senti raiva e tristeza e ódio e saudade, achei que poderia explodir com tantas emoções se revirando dentro de mim, acho que nunca na vida chorei tanto.

É difícil de explicar, mas a dor começava no coração e se espalhava, por um instante cheguei a pensar que poderia ser um infarto por que não devia ser normal sentir tanta dor assim.

As Coisas Que Odeio Em VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora