2.01: Amargura invernal

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Universidade St. Juniper, Nova Orleans, Estados Unidos

03 de janeiro de 2026

Não é comum nevar na Luisiana, pelo menos não desde 2008. E se está sendo um ano atípico para a Superfície, no Além-Véu é ainda pior. A neve cobrindo a ilha de St. Juniper não é somente um prelúdio do inverno que começou há poucos dias, mas também o pesar dos semideuses que reconstroem suas vidas conforme o semestre começa.

Ainda é cedo, as aulas começam em pouco mais de uma hora, mas Johanna está diante do consultório da universidade. Tem seu horário marcado com a psicóloga responsável pelos estudantes, como muitos dos semideuses que precisavam lidar com o traumático pós-noite de Dia das Bruxas. Contudo, o caso da Folkestad é especial, tendo em vista a morte de Henrik, seu pai.

A ruiva bate na porta, que se abre lentamente, e conforme ela a atravessa, o ambiente se torna mais caloroso e acolhedor. Está escuro lá fora, com sensação térmica de -10ºC, mas ali dentro ela se livra dos casacos, luvas, touca e cachecol. Raios de sol da manhã cruzam as janelas amplas, trazendo uma tonalidade dourada às paredes claras. Senta-se no sofá de couro escuro, afastando de si as almofadas cor de âmbar em bordados psicodélicos.

Tudo é colorido nesse lugar: os quadros, as luminárias, os objetos de decoração, os livros, as flores, as plantas e os móveis. Coloridas também são as roupas da terapeuta, com seu vestido vermelho florido, botas e jaqueta de couro marrom, meio hipster. A mulher tem cabelos castanhos lisos compridos com franja curta e reta sobre a testa, olhos castanho-claros e pele branca, os lábios num tom forte de vermelho.

E se a beleza dela já não chama atenção o suficiente, as borboletas pairando por toda a sala competem com sua presença.

— Como passou o recesso de Natal, Johanna?

Se fosse qualquer outra pessoa, a ruiva sequer ligaria em dar uma resposta vaga ou ríspida, mas com ela não consegue. Psiquê, a deusa da Alma e da Mente é quem cuida da saúde mental de St. Juniper, e seu poder deixa Johanna o mais calma possível, em meio ao caos que sua vida se tornou desde aquela fatídica noite.

— Estável.

— Sei que não foi fácil, querida. Ainda é tudo muito recente.

— Estável é o melhor que consigo no momento. Minha mãe veio até Nova York, foi dispensada das suas funções durante esse tempo. Não há muito mais o que dizer.

— Você não voltou para a Noruega? — Johanna nega.

— Ragna não fica em casa por fazer parte do exército de Atena, e tudo naquele lugar me lembra de Henrik... permanecer ali com tantas lembranças em pleno Natal não me faria bem. Caleb me levou para a sua casa, passei o recesso com os Bishop. Eles me receberam bem, na medida do possível.

— Como assim?

— Meu pai foi assassinado em um ritual mágico, Psiquê. Nenhum de nós têm plenas condições de passar por esse momento sãos. Estou fazendo o melhor que posso, Caleb enfrenta um momento parecido por ter causado a morte de Daphnée, ou pelo menos é o que ele pensa. A culpa é daquele maldito culto, e ninguém sabe onde estão ou o que vão fazer em seguida. Leon está devastado por perder a tia, Ferdinand e Irina estão dando o seu melhor para aguentar as pontas mesmo em meio ao luto. É isso, Psiquê, é tudo isso.

Apesar de estar destruída, Johanna não consegue chorar. A dor a anestesia de qualquer emoção, e a deusa da Alma julga mais perigoso do que horas e horas de lágrimas. A catiça é sua maior preocupação entre os sobreviventes, tendo que vista que ela e Caleb foram usados como isca pelo Vraie Magie, causando a morte de Henrik e Daphnée. Já é um fardo enorme para carregar, e sendo filha do ex-professor de Cálculo, a pressão em seus ombros é ainda maior.

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