Let It Happen

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25 de Setembro 10:00h - Aria

Gostava de saber qual foi a reação do Castiel e da banda quando leram a crítica. Ao mesmo tempo, gostava de lhe poder contar que fui eu que a escrevi. Sinto-me uma cobarde, em certa parte.

"Então vens comigo?" Engulo os meus cereais.

"Sim." Em cinco minutos saímos do apartamento para encarar o dia cheio de sol. Ainda não falei com ninguém, desde que a crítica saiu.
Fechei-me no quarto com medo de que por algum milagre, o Castiel descobrisse que fui eu.

A Chani acende o cigarro e oferece-me um. Não é preciso falar muito para saber aquilo que ela está a pensar.

"Como te sentes?" Ela pergunta. Isto é uma pergunta com rasteira.

"Normal." Dou de ombros.

"Li a crítica ontem." Sempre gostei da Chani por não haver rodeios na nossa amizade.

"Não estou contente como esperava ficar." Digo, dando um travo no cigarro. Não adoro fumar e com certeza não o faço regularmente, mas hoje quero.

"Enfim... eu... concretizei um sonho, no final. Apenas, não é a sensação que eu queria." Admito. Isto tem me consumido desde que escrevi a maldita crítica.

"Qual é a sensação?" O aperto no meu peito volta.

"Culpa." Falo baixo, como um sussurro, mas ela não responde, apenas assente com a cabeça, como se não fosse preciso mais.

"Os sonhos têm preços altos." Ela diz, por fim.

"Eu sei, mas achei que fosse um preço que só eu pagaria." Refiro-me ao Castiel. Honestamente, a toda a banda. Assim como eu eles trabalham duro pelo sonho deles e eu passei por cima disso para conseguir o que queria.

"Tens de saber o que é que vale mais para ti." Estamos quase a chegar à faculdade. Memórias da festa a que viemos invadem a minha mente. Eu a dançar com o Castiel... o cheiro dele, o toque.

"Seres o orgulho do teu pai ou seres o teu." Engulo em seco. A Chani conheceu o meu pai. Ela sabe que ele era o meu melhor amigo, o meu confidente.
Apesar de o gosto pela música e pela escrita serem herdados dos meus pais, sempre senti necessidade de seguir o caminho do pai. Por isso é que estou aqui. Mas a que preço?
Não... Não posso pensar assim.
Eu segui o meu sonho e consegui. Muito poucos podem dizer que conseguiram entrar na Rolling Stone com apenas vinte e três anos. Estou orgulhosa de mim e quem não gostar, não é problema meu.

Os enormes portões da faculdade aparecem e o ambiente que eu adoro, de estudantes a rir, a conversar, a ler livros enquanto ouvem música, invade o espaço.

"Espero que não esteja chateada com essa história da crítica, Chani. Eu não fiz com o objetivo de os destruir e você sabe disso." Entramos pelos portões e a Chani dá um sorriso caloroso. O sorriso de uma amiga que muitas vezes não mereço.

"Eu sei que não, Aria. Não estou chateada, só espero que esteja ciente das consequências daquilo que fazes." Gostava de ser tão racional como ela, por vezes.

"Não vamos perder mais tempo com isto. Eu tenho aula agora então não posso ir contigo ao gabinete, mas vai ao prédio de artes e tenho certeza que alguém te vai ajudar." A Chani beija a minha bochecha e desaparece para o prédio principal antes que eu consiga formular uma frase.

É complicado saber o que fazer quando a nossa cabeça e o nosso coração não estão de acordo. Muito menos quando se trata de um sonho de infância.
Gostava de ter mais tempo para pensar nisso, mas já está feito. A crítica já foi publicada e eu ainda nem sequer tive coragem de abrir as redes sociais para ver o que estão dizendo sobre ela.

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